FHC quer ser o guru de todos os golpes
Miguel do Rosário
“Chegou a hora de corrigir o rumo. Que a crise venezuelana nos desperte da letargia.”
A frase não foi dita por nenhum golpista de Caracas, após sacar uns dólares no guichê do consulado americano. Quem a pronunciou, em (AQUI) artigo publicado nos principais jornais do país, foi Fernando Henrique Cardoso, nosso ex-presidente.
Em seu estilo altamente engordurado, FHC não faz outra coisa senão dizer que o Brasil deveria se aproximar mais dos EUA e assumir posições antibolivarianas, sobretudo na Venezuela.
É uma posição ideologicamente ultraconservadora. E burra economicamente, porque a Venezuela tem sido, nos últimos anos, nosso melhor parceiro comercial, o que paga mais caro pelos produtos brasileiros. Não porque os venezuelanos gostem de pagar caro, mas é que os importadores do país preferem comprar no Brasil aqueles produtos que outrora só se comprava na Europa e EUA.
Diz FHC:
O Brasil, timidamente, se encolhe enquanto o partido da presidente apoia o governo venezuelano, sem qualquer ressalva às mortes, aprisionamento de oposicionistas e cortinas de fumaça que querem fazer crer que o perigo vem de fora e não das péssimas condições em que vive o povo venezuelano.
Ora, FHC poderia muito bem se distanciar do golpismo doentio da máfia midiática do continente. Poderia falar dos problemas atuais, fazer críticas políticas à Maduro, mas deveria, se fosse honesto, admitir que o chavismo zerou o analfabetismo na Venezuela e melhorou profundamente a vida das camadas mais pobres do país. Não, ele prefere chancelar a mentira.
O seu artigo é uma prova de que a volta do PSDB ao poder constituiria um elemento de perigosa instabilidade para o continente, porque insuflaria confiança ao golpismo de oposição em todos os países latino-americanos.
FHC manda um recado até para Honduras, sempre apoiando o golpe: “[o Brasil] interfere contra o sentimento popular em Honduras (…)”
Os governos Lula/Dilma têm sido, até então, um dos principais anteparos contra os golpes de Estado, antes tão comuns, em nosso continente. E mesmo assim, eles aconteceram: em Honduras e Paraguai, por exemplo, vimos a estreia de um novo tipo de golpe, disfarçado de legalidade.
Em Honduras, a suprema corte, presidida por algum joaquim barbosa, aliada aos barões da mídia, não apenas destitutiu sumariamente o presidente, sem direito à defesa, como mandou o exército prendê-lo em sua casa, de madrugada, e ainda o expulsou do país. Para FHC, no entanto, isso foi fruto do “sentimento popular”, mesmo que a maioria das manifestações populares nas ruas fossem em favor de Manuel Zelaya.
E agora FHC apoia o golpe contra a Venezuela.
A qualidade dos tucanos é que eles são previsíveis. Onde houver golpe patrocinado pelos EUA, eles darão suporte.
Mais uma vez, as eleições presidenciais no Brasil definirão não apenas a nossa soberania, mas de todo o continente. Uma vitória do partido de FHC seria automaticamente entendida como autorização para todo o tipo de atentado contra governos eleitos democraticamente. Supremas cortes, mídia, consulados americanos, partidos de direita, todos os núcleos golpistas, corruptos e corruptores sentiriam-se estimulados a tomar o poder sem passar pelo crivo do povo.
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