domingo, 30 de junho de 2013

Ensaio geral para 2014

Os índices do DataFolha mostram que o país entrou em novo ambiente político quando faltam 16 meses para a eleição presidencial de 2014.

ISTOÉ independente                                           Paulo Moreira Leite                   
Para o governo Dilma, acabou a estratégia do piloto automático, de quem poderia, com base em altos índices de aprovação popular, apenas administrar o governo até o momento da votação. 

Ao cair 27 pontos, Dilma permanece em posição de favoritismo - pelo menos até o primeiro turno - mas já enfrenta concorrentes de verdade. 

Uma leitura cuidadosa do levantamento mostra que a presidente teve uma boa iniciativa ao assumir a direção dos debates sobre a reforma política. O mesmo eleitor que jogou sua aprovação para baixo aplaude a ideia de plebiscito, por 68%. 

Mas é bom ver o que os números dizem sobre os candidatos. 

Marina Silva deu o salto mais respeitável. 

Joaquim Barbosa demonstrou que tem seu lugar entre uma parcela de eleitores, em especial de renda mais alta. 

Aécio Neves cresceu mas paga o preço de ser o mais "político" dos concorrentes num ambiente de rejeição a tudo que representa a categoria. 

Eduardo Campos ficou estatisticamente no mesmo lugar, situação que, se não se modificar rapidamente, coloca em questão o chamado espaço vital de sua candidatura. 

Se essa situação for mantida até outubro de 2014, teremos eleição em dois turnos, o que é o pior cenário para Dilma. 

Está claro que, após três derrotas consecutivas a partir de 2002, a oposição não escolherá candidato, prioritariamente. Sua prioridade é retirar o PT do Planalto, de qualquer maneira. Para isso, mesmo uma quarta (ou quinta) candidatura, de José Serra, pode ser benvinda. 

A queda de Dilma ocorreu após três semanas de protestos imensos, que colocaram reivindicações legítimas. 

Mas é obvio que a queda foi amplificada de modo gigantesco pelo comportamento da maioria dos meios de comunicação. Eles trataram as mobilizações com inédita simpatia, chegando a minimizar momentos de baderna e violência para não criar grande rejeição entre os espectadores. 

Determinados analistas comparam a queda de Dilma com a queda que Fernando Collor enfrentou logo confisco de depósitos bancários, no distante ano de 1990. Mas, apesar do imenso prejuízo causado às famílias, por um plano que provocou comentários irônicos mesmo por parte de Fidel Castro, em seus primeiros momentos o confisco recebeu o apoio resignado da maior parte dos meios de comunicação. Foi elogiado pela ousadia, pela audácia, porque não havia outro jeito, sei mais o que.

Dilma não teve direito a nenhum tipo de refresco. Politizados, ajudando a construir o discurso oposicionista, os meios de comunicação atuaram como parte de uma máquina ocupada em usar gritos e faixas das manifestações de rua para desgastar o governo pela direita e pela esquerda, por cima e por baixo, exibindo uma tolerância despudorada pela desordem que nem todos souberam compreender e aceitar no devido tempo. 

Numa operação universal, até veteranos apresentadores de programa de auditório entraram na dança. 

Jovens humoristas também. 

A internet mostrou uma oposição mais ativa e organizada do que o governo. Estava pronta para o combate, com palavras-de-ordem que capturaram um movimento espontâneo, com alvos da vida cotidiana, para a denuncia global contra o governo federal. Colou o ForaDilma aos 0,20 dos ônibus. 

Numa atitude colonial, que demonstra até onde determinados adversários podem chegar, chegou-se a empregar até vídeos em inglês, com legendas em português, num recurso que tinha uma finalidade dupla. 

Externamente, ajudavam a criar um ambiente de alarme e boicote, num esforço que poderia permitir, num segundo momento, ações concretas de governos estrangeiros contra o governo brasileiro. 

Internamente, buscava-se produzir uma ilusão de ótica - a de que o país se encontra internacionalmente isolado, o que é errado e até ridículo após vitórias recentes, como a direção da OMC e a conquista de uma cadeira na Comissão de Direitos Humanos da OEA. 

Nem tudo pode resumir-se a um conflito de máquinas de propaganda, porém. Os protestos trouxeram questões reais e reivindicações legítimas, muito além da motivação inicial, que era revogar o aumento da passagem de ônibus. 

O dado da pesquisa é que Dilma não perdeu terreno entre os mais pobres mas entre os cidadãos com renda média e mais alta. 

Conforme o DataFolha, a maioria dos brasileiros aponta a saúde pública como principal problema de sua existência. Isso quer dizer alguma coisa. 

Estamos falando do ponto essencial do Estado de Bem-Estar, que o Brasil começou a colocar de pé, muito embrionariamente, após a Constituição de 1988 e, em especial, após a posse do governo Lula, quando os gastos sociais assumiram uma proporção inédita no orçamento federal. 

Ao produzir uma evolução reconhecida na distribuição de renda, o desenvolvimento dos últimos anos jogou uma massa de milhões de famílias para aquele universo da chamada nova classe média, classe C, o que for. São pessoas com novas preocupações e prioridades. Uma delas é que, com uma renda maior, as vezes só um pouco maior, passam a pagar impostos maiores - e sentem-se, corretamente, no direito de fazer exigências mais elevadas junto aos poderes públicos.

São pessoas que com mais dinheiro no bolso, escaparam da má qualidade do SUS para cair nas arapucas dos planos privados, tão eficientes para cobrar mensalidades como incompetentes para prestar serviços prometidos. 

Para fugir da má qualidade do ensino público, pagam mensalidades de escolas privadas - muitas de qualidade duvidosa, igualmente.

Esta é, a meu ver, a questão de fundo que irá dominar o debate nos próximos meses. O apoio ao plebiscito mostra que o governo Dilma tem um espaço para caminhar na ampliação do bem-estar. 

Ao fugir, de qualquer maneira, de uma consulta popular, a oposição já deixou claro a imensa distancia que mantém em relação às exigências democráticas colocadas pelas ruas.

A eleição não será resolvida no debate sobre formas de governo ou financiamento de campanha mas em respostas concretas para a maioria da população. 

Para o governo, a pergunta é o que fazer para recuperar o eleitor perdido. 

Para a oposição, agora com nova audiência, a pergunta é que fazer para atrapalhar essa recuperação e consolidar uma situação que pode ser favorável em 2014. 

A mensagem é esta. 

Comprometida, de forma cada vez mais clara, com programas de enxugamento de gastos que conduzem, necessariamente, ao desmanche de serviços públicos, a oposição tem pouco a oferecer neste terreno. Seus candidatos podem variar, mas o eixo de suas preocupações é outro. 

Trata-se de construir um Estado mínimo, que nem de longe será capaz de atender àquilo que a rua reclama. Não há como fingir: seu programa é a versão, verde-amarela, da austeridade que hoje conduz a Europa a ruína. 

Vamos falar com clareza maior. A oposição brasileira tem evoluído para uma visão radicalizada e extremista de seu próprio conservadorismo. 

Não convive com meias medidas nem reformismos leves, como o PMDB que fez a carta de 1988 ou mesmo o PSDB e sua fatia desenvolvimentista. 

Se é possível fazer inúmeras críticas a condução da política econômica do governo Dilma, não custa lembrar que as principais ideias da oposição eram, invariavelmente, muito piores. 

Em nome de uma prioridade duvidosa ao combate à inflação, defendiam medidas que fariam o desemprego explodir e o crescimento, já baixo, transformar-se em recessão. 

Em vez de ir as ruas protestar por novos direitos, como agora, a população estaria mobilizada para defender o que possui. 

Este é o debate que se inicia.
Um novo tempo, apesar dos perigos

                          Blog do Valter Pomar                              

1.As grandes mobilizações ocorridas no Brasil, desde 13 de junho de 2013, constituem motivo de comemoração e otimismo. O país, nosso governo e nosso Partido necessitavam deste chacoalhão, que abre a possibilidade de avançarmos, e avançarmos mais rápido, no processo de reformas sociais e políticas. Mas para isto é preciso fazer uma detida reflexão sobre os acontecimentos, para a qual apresentamos a contribuição a seguir.

2.Os acontecimentos das últimas semanas não constituem um raio em céu azul, ao menos para os que vinham acompanhando a mudança nas condições do país, desde o início do governo Dilma.  Vários setores do Partido, inclusive a Articulação de Esquerda, já apontavam (http://pagina13.org.br/2013/04/manifesto-a-esperanca-e-vermelha/) para os limites de nossa estratégia, as contradições crescentes de nossa política, as mudanças sociológicas e geracionais do país, a alteração na postura do grande capital, a ofensiva ideológica e política da direita partidária e midiática, o distanciamento das bases sociais e eleitorais e, principalmente, para o fato de que a política econômica vem provocando um atendimento limitado às necessidades e demandas das massas populares. Não apenas a AE e setores da esquerda petista, mas o próprio Diretório Nacional do PT já apontara, na convocatória do V Congresso do Partido(http://www.jptrn.com.br/2013/05/convocatoria-para-o-v-congresso.html), a necessidade de reformas estruturais mais profundas no país, inclusive no âmbito da comunicação, educação e cultura. Mas mesmo quando esta crítica comparecia nos discursos, não era a interpretação nem a postura predominantes na prática. Nesse sentido, é necessário e pedagógico recordar alguns fatos, ocorridos antes de 13 de junho de 2013.

3.A imprensa atribuiu a um afamado marqueteiro –categoria cuja nefasta influência política deve ser repensada— a opinião de que as pesquisas apontavam para uma reeleição de Dilma já no primeiro turno. Avaliação equivocada que havia sido cometida em 2010, quase resultando em danos irreparáveis.

4.Nas atividades comemorativas dos dez anos de governos Lula e Dilma, o reconhecimento dos erros, insuficiências e contradições era muitas vezes soterrado por um discurso de auto-propaganda, que também pode ser encontrado em publicações recentes acerca do tema. Não temos dúvida de que hoje estamos melhor do que estávamos na era FHC, e de que estamos melhor do que estaríamos sob Serra e Alckmin. Mas estaríamos ainda melhor se tivéssemos aplicado o conjunto do programa do PT, sendo necessário reconhecer as limitações do que foi feito e o quanto ainda resta por fazer.

5.Era frequente, entre amplos setores do Partido, uma postura arrogante que minimizava a força política e ideológica de nossos inimigos, assim como as decorrências negativas do tipo de governabilidade adotada, entre as quais a influência do do PMDB e a presença crescente de fundamentalistas de direita em partidos da base do governo, sendo Marcos Feliciano seu símbolo mais vistoso, compondo um Congresso Nacional que tem derrotado a imensa maioria das propostas progressistas. Virou hábito dizer que a oposição de direita “não tinha programa”, “não tinha proposta”, “estava dividida”, “não conseguia influenciar a opinião pública, só a opinião publicada”, dependia “apenas” do PIG etc. Cegueira política e preguiça intelectual, incapaz de perceber os desdobramentos do que vem ocorrendo no Brasil há anos: uma brutal ofensiva ideológica do conservadorismo, que assume ademais novas formas e conteúdos, por exemplo através da agitação e propaganda nas novas e velhas mídias. Ofensiva contra a qual o governo e o Partido não ofereceram devida resistência. Pelo contrário: na Comunicação, na Casa Civil e em outros ministérios, brotam frequentes sinais de apoio prático e retórico às teses de direita.

6.Finalmente e mais importante, tornou-se frequente confundir a fotografia com o filme. A fotografia dos índices de pesquisa era favorável. Mas o filme mostrava uma realidade em movimento: uma mudança na postura do grande capital em relação ao nosso governo; a radicalização política e ideológica de setores médios contra as posições de esquerda; a insatisfação crescente de setores da classe trabalhadora tradicional; e uma ambiguidade no apoio da "nova classe trabalhadora". Mostrava, também, grandes novidades geracionais: a mais alta proporção de jovens e jovens trabalhadores no conjunto da população, com acesso a empregos precários e mal remunerados, dividindo seu tempo entre trabalho, estudo e transporte, o que ajuda a entender porque a qualidade do transporte e o valor das tarifas são temas tão sensíveis.

7.Estes e outros elementos eram completamente perceptíveis antes do 13 de junho de 2013. Tomados isoladamente ou de conjunto, as reuniões das direções partidárias, de nossas bancadas, das nossas lideranças sociais e intelectuais apontavam para tais problemas. Mas o Partido como um todo, e o governo em especial, foram incapazes de sintetizar isto numa orientação alternativa. O que reforça algo que todos sabemos: é preciso mudar a dinâmica partidária, bem como a relação entre partido e governo. E sem cair na tentação de personificar os problemas, pois não podemos desconsiderar os equívocos coletivos, alguns dos quais se acumulam desde 1995, outros desde 2003.

8.A partir de 13 de junho de 2013, a quantidade converteu-se em qualidade, num processo de mobilização social que devemos analisar com o máximo de atenção. Cabe ao Partido, e também a nós, reunir o conjunto de informações e interpretações acerca do processo e elaborar uma síntese capaz de nos orientar melhor na luta política. De imediato, algumas variáveis já podem ser apontadas.

9.Em primeiro lugar, é preciso atentar para a heterogeneidade do processo. Não apenas a existência de múltiplos movimentos, setores sociais e políticos envolvidos, disputando e sendo disputados. Mas também a existência de etapas distintas no processo, cada qual com um sentido e hegemonia distintas. Está claro, por exemplo, que o movimento começou em torno da luta contra as tarifas do transporte urbano; cresceu como movimento de solidariedade contra a repressão policial; depois entrou numa terceira fase, onde a direita passou a disputar com força a condução do movimento; houve então uma reação do governo e das esquerdas, em torno principalmente da proposta de Plebiscito; nos próximos dias, estão convocadas várias mobilizações, desde o locaute convocado por setores da direita para o dia 1/7, até a mobilização das centrais sindicais nos dias 4 e 11/7. É fundamental, portanto, fazer análise concreta da situação concreta.

10.Em segundo lugar, é importante destacar a predominância da juventude. Cabe analisar melhor o perfil deste setor social que foi às ruas. E atentar para o fato de que a juventude, especialmente nas periferias, é alvo de uma pauta predominantemente negativa: violência do Estado, toque de recolher, redução da maioridade penal, com 30 mil jovens negros morrendo todo ano. Numa primeira aproximação, podemos dizer que, ao menos numa primeira etapa, foi às ruas uma juventude trabalhadora ou filha de trabalhadores, com idade média até 25 anos e formação predominante universitária, exatamente o setor social e geracional que nossas próprias pesquisas e análises indicavam estar ganhando distância frente ao PT. Aliás, chama a atenção que alguns que antes comemoravam a “entrada de milhões na classe média”, agora criticam as manifestações por estarem “compostas predominantemente por gente de classe média”: tanto a comemoração anterior quanto a ojeriza posterior incidem em erros, sociológicos e políticos (http://www.pt.org.br/noticias/view/artigo_marilena_e_a_turma_do_farol_por_valter_pomar). A verdade é que a intensa mobilização juvenil, de uma geração que nasceu depois da campanha das Diretas Já, quebrou dois mitos: o de que a juventude seria naturalmente de esquerda e progressista; e de que seria uma juventude alienada e desinteressada da política.

11.Em terceiro lugar, é necessário reconhecer o sentido em geral progressista das demandas e do processo (http://pagina13.org.br/2013/06/que-as-manifestacoes-nao-sejam-passageiras/). Ampliação dos direitos sociais e mudança no sistema político do país são bandeiras do PT, da esquerda, dos setores progressistas do Brasil. Tarifa zero, como educação e saúde públicas, não são plataforma da direita, do grande capital e dos setores conservadores, ainda que estes setores busquem apropriar-se oportunisticamente destas bandeiras, para tentar dirigir um movimento cujo conteúdo é no limite contraditório com seus interesses de classe. Como já apontaram muitos, o sentido das ruas está em contradição com o desejo dos mercados.

12.Em quarto lugar, é fundamental perceber que se trata de um movimento originalmente espontâneo. É curioso como dirigentes importantes da esquerda, oriundos eles mesmos de uma situação semelhante no final dos anos 1970 (“quanto novos personagens entram em cena”), tenham hoje dificuldade de reconhecer ou de aceitar que outros possam fazer o mesmo. Freud explica. Claro que em todo movimento espontâneo há incoerências e confusão, elementos organizados, disputa política, interferência da direita, momentos de fluxo e refluxo, desfechos incertos. Mas exatamente isto é um movimento espontâneo: a eclosão súbita de centenas de milhares de pessoas na rua, pessoas que passam a querer ter ação política, as vezes superando e atropelando até mesmo as ações e forças sociais organizadas, que por exemplo estiveram presentes desde o início no Movimento Passe Livre.

13.Em quinto lugar, é decisivo entender que sem um forte deslocamento da correlação de forças, seríamos derrotados, ou na eleição, ou na condução do governo. Derrota que em certa medida já vinha se dando, pois apesar da batalha dos juros, o governo não estava conseguindo manter o ritmo das mudanças, fazendo cada vez mais concessões ao grande capital e a setores da direita. E, graças à eclosão popular ocorrida desde 13 de junho, abriu-se a possibilidade de deslocar a correlação de forças para a esquerda. 

14.Em sexto lugar, é prudente atentar que o desfecho está em aberto. O consórcio mídia-partidos de direita está disputando a consciência popular, as pautas da mobilização, o sentido geral do movimento. Querem converter um movimento de pressão por mais políticas públicas e mais democracia política, num movimento contra o PT e contra o governo. Ainda que com propósitos distintos, setores da oposição de esquerda têm o mesmo objetivo, acreditando que é possível ultrapassar o PT pela esquerda, embora os acontecimentos tenham demonstrado de novo que uma derrota do PT abriria caminho para a derrota de toda a esquerda. Neste sentido, saudamos e nos empenhamos nas diversas iniciativas de unidade democrática anti-fascista das diferentes forças da esquerda político-social. E alertamos para o fato de que setores da oposição de direita estão apostando na desestabilização da economia, inclusive recorrendo a locautes ("greve" articulada por empresários). 

15.Todas estas variáveis apontam qual deve ser nosso caminho: disputar os rumos do processo, não contra ele, mas apoiando-se no ambiente  de mobilização, para realizar mais mudanças sociais e políticas no Brasil, aprofundando o curso iniciado em 2003. Cabendo ter claro que disputar os rumos do processo não é igual a “disputar os movimentos sociais” que conhecemos e com os quais estamos habituados. E tendo claro, também, que o ambiente político no Brasil mudou: a direita brasileira resolveu adotar uma tática de desestabilização semelhante a adotada pela direita venezuelana, articulando mídia e oposição partidária, com disputa de rua. A tentativa de realizar uma greve geral via facebook, na verdade um locaute empresarial disfarçado, é outro exemplo disto.

16.A rigor, isto tampouco constitui novidade absoluta. No Chile de Allende, na já citada Venezuela, na Bolívia e noutros países, a direita também busca legitimar-se nas ruas. No Brasil dos anos 1960, a direita ocupou as ruas. E, nos últimos anos, a direita brasileira vinha ensaiando novamente esta tática, seja usando igrejas conservadoras, seja estimulando movimentos como o “Cansei”. Há pouco, tivemos as ondas de boato sobre o "apagão", a "inflação" e o "fim da bolsa família". Agora, tentam cavalgar um movimento social espontâneo. Utilizam para isto técnicas e tecnologias adotadas em outros países do mundo, mas também procedimentos tradicionais de ultra-direita, entre os quais a infiltração policial, mobilização de criminosos e lumpens, tropas de choque fascistas, preconceito religioso. Mas estas técnicas operam no movimento, não são responsáveis pela sua eclosão.

17.Também aqui, cabe a nós do PT fazer uma autocrítica. Nos anos 1980 e 1990, o petismo era o principal veículo da insatisfação com os problemas políticos e sociais brasileiros. Eram os tempos em que Lula fazia referência aos "300 picaretas" que dominavam o Congresso Nacional. A medida que fomos nos tornando parte da institucionalidade, reduzimos progressivamente aquela dimensão fundamental de nossa atividade. E, como já dissemos em 1993 no Manifesto A Hora da Verdade (http://pagina13.org.br/apresentacao/quem-somos/), o em si positivo crescimento institucional foi acompanhado da domesticação do Partido, com a adesão de crescentes setores do petismo à norteamericanização da política (dinheiro, mídia, marketing eleitoral). A crise de 2005 deve ser vista neste contexto, e nossas dificuldades em equacionar o tema ajudou a direita a ganhar amplos setores da população, para a tese segundo a qual o PT seria um partido “tão corrupto quanto os demais”. Para piorar, a domesticação e institucionalização do petismo foi acompanhada pela burocratização e esvaziamento não apenas do Partido, mas também de muitas organizações oriundas dos movimentos sociais. Abriu-se, especialmente na juventude, um vácuo que tampouco foi ocupado pela esquerda não-petista. É neste espaço que os diferentes setores da oposição de direita buscam operar.

18.Ou recuperamos nossa capacidade de vocalizar a indignação “com tudo que está aí”, abandonando a incorreta ideia de que ser governo nos impediria de tomar esta atitude, ou no médio prazo poderemos ser varridos. Isto que é chamado de sentimento "antipolítico", deve servir de base para a defesa de outro tipo de política, portanto contra a política e os políticos conservadores, tradicionais, de direita. O sentimento expresso na frase "não me representa", deve levar a esquerda política e social a abrir nossas organizações à nova militância surgida neste processo; e adotar uma nova dinâmica de funcionamento, vinculada às bases sociais, presentes no cotidiano do povo, participando do debate cultural e ideológico, recuperando o sentimento crítico e a radicalidade programática.

19.Fazer isto implica, também, em combater os sinais de preconceito geracional presentes em algumas análises feitas, por setores da esquerda, acerca da mobilização iniciada dia 13 de junho.

20.Há muitas experiências históricas mostrando o que acontece com uma esquerda que pretende viver de glórias passadas. Lembramos que aquilo que constitui “conquista” para uma geração, é “parte da paisagem” para as gerações seguintes. E será assim, especialmente quando as gerações anteriores se burocratizam e, ao mesmo tempo, se demonstram incapazes de garantir comunicação de massas, educação pública e formação político-ideológica para as novas gerações. 

21.Grande parte dos que foram às ruas a partir de 13 de junho são produto do país que nós ajudamos a construir. Que as manifestações tenham sido por mais direitos, e não contra o corte deles, nem por salários e empregos, é um sinal disto. Mas cabe lembrar: este é um país profundamente desigual e contraditório, em que o neoliberalismo continua ideológica e economicamente hegemônico, ao passo que a esquerda parece ser politicamente hegemônica. Esta contradição, quase um paradoxo, está na base de grande parte de nossos problemas, e a política de coalizão com a centro-direita adotada pelo Partido amplia a dificuldade, pois parece aos olhos da juventude e de outros setores que somos apenas e tão somente parte integrante do sistema. Duas fotografias simbolizam os equívocos decorrentes da indiferenciação: a imagem de Fernando Haddad com Paulo Maluf, durante a campanha eleitoral de 2012;e a fotografia do prefeito com o governador Geraldo Alckmin, no anúncio da redução das tarifas.

22.A análise de que foi às ruas a “geração facebook”, reforçada pelas palavras-de-ordem múltiplas ao estilo dos posts dos murais do face, tem um pouco de verdade. Mas é bom lembrar que as organizações tradicionais da esquerda também tem apresentado pautas reivindicatórias pulverizadas. Por outro lado, não devemos superestimar o papel das redes: sem o impacto da grande mídia tradicional, especialmente das televisões, as mobilizações não teriam a mesma força. Seja como for, é ótimo que os jovens tenham saído às ruas, superando as limitações inclusive físicas das redes sociais virtuais. Este é um processo pedagógico, para eles e para todos, para os que foram às ruas e para os que não foram. Além de estimular certa esquerda acomodada a movimentar-se, nem que seja por auto-defesa; além de proporcionar uma reflexão muito útil sobre os riscos de certa retórica nacionalista e de certa crítica rasa aos partidos, ambas atitudes presentes em setores da própria esquerda organizada. 

23.A pedagogia do processo inclui aprender a neutralizar o vandalismo lumpen e  combater a presença do crime organizado. É preciso, também, aprender a lidar com a atitude de grupos radicalizados como os anarcopunks. Ao mesmo tempo, é crucial impedir que o movimento seja capturado pela direita. Por isto, é importante identificar e derrotar os setores neofascistas, skinheads e grupos paramilitares de direita e, principalmente, impedir que o movimento seja capturado pela pauta da direita. Sem incorrer no erro e na pretensão de tutelar o movimento, para atingir estes objetivos, cumprem papel fundamental as organizações tradicionais da classe trabalhadora, o papel da velha guarda, da esquerda organizada, da militância com experiência em lutas anteriores. Sobre isto, com todos os cuidados que a situação exige, nossa posição é clara: as ruas são de todos e delas não seremos expulsos pelos herdeiros dos galinhas verdes. 

24.Tampouco aceitamos a criminalização dos movimentos sociais e a violenta repressão desencadeada pela Polícia Militar, sob ordem de governos tucanos e de direita. E alertamos que algumas atitudes posteriores da Polícia --como a de adotar uma atitude "passiva" e de "reação tardia" frente ao vandalismo-- parecem estar a serviço de criar um clima de medo e desgoverno, para justificar e legitimar o posterior chamamento às "forças da ordem".  

25.É bom dizer que a geração que foi às ruas na primeira etapa do movimento, basicamente gente com sensibilidade de esquerda, foi surpreendida pela atitude de algumas autoridades filiadas ao PT. Estas atitudes desencontradas contribuíram muito para confundir, aos olhos de setores da população, as nossas posições com as posições do tucanato. Imaginemos: qual teria sido o curso dos acontecimentos, caso Fernando Haddad tivesse, desde o primeiro dia, suspendido o aumento das passagens na cidade de São Paulo? Ou caso o ministro Cardozo tivesse criticado a violência policial desde o primeiro dia? Ou ainda se o conjunto do PT tivesse reconhecido que a tarifa zero obedece a mesma inspiração da saúde e da educação públicas, a saber, diferentes maneiras de garantir um direito social? Neste sentido, saudamos a atitude legitimamente petista de militantes, instâncias, parlamentares e autoridades executivas ligadas ao PT, que souberam compreender o recado das ruas e com elas interagiram adequadamente.

26.Entretanto, o conjunto dos acontecimentos de Junho confirmou que uma parte da esquerda brasileira converteu-se à tecnocracia, tratando o povo como “paciente”. Paciente no sentido de ser “objeto” e não sujeito dos processos. E “paciente” no sentido de ter “paciência”.

27.Para os que adotam esta postura tecnocrática, é muito difícil compreender o papel que a luta social pode jogar na transformação social. As condições históricas levaram o setor majoritário da esquerda brasileira, especialmente o PT, a lutar por ser governo, nos marcos da ordem capitalista e de um Estado conservador. Exatamente por isto, esta esquerda não pode diluir-se nas instituições e tornar-se defensora do status quo; ao contrário, deve preservar sua vocação anti-sistêmica, democrático-popular e socialista, para fazer de sua presença no Estado a contra-mola que resiste, altera e transforma.

28.No caso concreto, as mobilizações em curso podem nos ajudar a defender a ampliação dos direitos sociais, contra a ortodoxia fiscal. Ajudar a fazer a reforma política, contra o conservadorismo do atual parlamento brasileiro. Ajudar a colocar as reformas estruturais na pauta política do país. Aliás, um dos saldos deste processo é nos lembrar, a todos, que a correlação de forças e a agenda política do país podem ser alteradas, e que a luta de massas tem esta capacidade.

29.Como já se convencionou dizer, é hora de fazer do limão, limonada. Partir do quadro atual, para aprofundar as mudanças e fazer a reforma política. Aliás, é bom reafirmar: sem reforma política e democratização da comunicação, não terá futuro a estratégia defendida pelo PT. Posto de outra maneira, não há como prosseguir mudando o país, sem alterar as instituições estatais brasileiras. E não há como fazer esta alteração apenas de dentro para fora: é preciso que a pressão social entre em cena. Infelizmente, apesar dos esforços das organizações populares, a pressão recente não surgiu por nossa iniciativa; mas felizmente surgiu. Por isto, consideramos que foi absolutamente correto reconhecer a legitimidade das mobilizações e de suas demandas, assim como apontar o Plebiscito e a Constituinte como caminhos para tradução institucional da pressão social. Mas também por isso, consideramos essencial colocar em movimento a classe trabalhadora: é isto e a ação articulada de nossas organizações que pode derrotar a movimentação da direita.

30.Claro que a direita repudia a Constituinte e o Plebiscito. Confirmando o divórcio entre capitalismo e democracia, temem que a pressão das ruas produza uma reforma política que lhes tire poder. A isso respondemos: todo o poder ao povo, viva a soberania popular e a democracia. Claro, também, que a direita pretende direcionar a insatisfação social em direção aos partidos de esquerda, especialmente ao PT. A direita pode fazê-lo, pois os partidos são para ela parte totalmente secundária de seus aparatos de poder (entre os quais destacam-se o oligopólio da mídia, mas também suas casamatas incrustadas dentro do aparato do Estado). Nossa resposta deve ser defender uma política e partidos de novo tipo. Ou seja: não os partidos em geral, não a política em geral, mas a política e os partidos vinculados aos interesses da maioria do povo. Claro, ainda, que a direita busca manipular o movimento contra o governo Dilma. A isto respondemos fazendo a defesa e fortalecendo nosso governo, a começar pela presidenta Dilma, que nesta crise mostrou capacidade de reação, liderança e faro político.

31.Da mesma forma, devemos defender e reafirmar nosso passado e os êxitos de nossos governos, defender nossa ação presente, mas reconhecendo as contradições, equívocos e debilidades. Mas devemos sobretudo dar ênfase ao futuro, ao Brasil que queremos. E apontar com clareza qual a base de nossas dificuldades: o capital financeiro, as transnacionais, o agronegócio, o latifúndio tradicional, o oligopólio da mídia, o controle de setores privados sobre largos setores do aparato de Estado, a mercantilização da política. Motivo pelo qual é mais atual que nunca a pauta das grandes reformas estruturais, como as reformas tributária, agrária e urbana, a democratização da mídia e da política, a ampliação das políticas públicas e do papel do Estado.

32.Na mesma linha, cabe-nos rearticular nosso bloco político-social: governos, movimentos, partidos, intelectualidade, bases sociais e eleitorais. O Partido dos Trabalhadores, em especial, deve repactuar suas relações com os movimentos sociais e com as bases populares. Isto inclui, por exemplo, realizar plenárias – setoriais, municipais, estaduais e nacionais – dos militantes petistas que atuam nos movimentos sociais. E reorganizar, em novas bases, algo como foi o “fórum nacional de lutas”, articulando partidos e movimentos sociais do campo popular. Mas inclui principalmente tratar de outra forma temas variados, que estão na origem de conflitos no seio das forças populares: as demandas da CUT, os leilões do petróleo, a reforma agrária, o fator previdenciário, o respeito aos indígenas, a defesa das causas LGBT, as politicas de gênero, os gastos da Copa, a política de transporte urbano, o controle do ministério das Cidades pela direita, alianças intragáveis etc.

33.Cabe, ainda, fazer o Partido funcionar como Partido e ser capaz de reagir na velocidade que a luta política está impondo. Nesta crise, como em tantas outras, confirmou-se que atuamos muitas vezes como “partido de retaguarda”, que sabe operar predominantemente nos anos pares.

34.Como parte da disputa das ruas, o PT deve participar organizadamente das atividades convocadas pela Central Única dos Trabalhadores dia 4 de julho; e também das atividades convocadas pelo conjunto das centrais, no dia 11 de julho. Nossa ênfase deve ser na defesa da pauta da CUT: contra o PL 4330, da “terceirização” que retira direitos dos trabalhadores brasileiros e precariza ainda mais as relações de trabalho no Brasil; que as reduções de tarifa do transporte não sejam acompanhadas de qualquer corte dos gastos sociais; 10% do orçamento da União para a saúde pública; 10% do PIB para a educação pública, “verbas públicas só para o setor público”; fim do fator previdenciário; Redução da Jornada de Trabalho para 40 horas sem redução de salários; Reforma Agrária; suspensão dos Leilões de Petróleo. Também defenderemos o Plebiscito proposto pela presidenta Dilma, a reforma política, a democratização da comunicação e a Assembleia Constituinte.

35.A disputa das ruas começa já nas telas de TV. O governo brasileiro está convocado a alterar imediatamente sua política de comunicação. O atual ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, foi capaz de imputar à militância petista uma posição que não é a nossa (a censura), além de nos atacar covardemente nas páginas da pior revista do país, não está vocacionado para cumprir esta tarefa. O  ministério deve ser encabeçado por alguém comprometido com a democratização da comunicação social.

36.A disputa das ruas começa, também, alterando a política de comunicação do Partido. Constituir uma redação de conteúdos capaz de alimentar nossos boletins, páginas eletrônicas, programas de rádio, entrevistas e discursos em todo o país. E reconstruir nossas redes sociais, principalmente apoiando a atuação organizada de nossa militância nessa frente de luta política e ideológica.

37.O centro da tática é, neste momento, disputar e vencer o plebiscito. O que exigirá uma forte aliança política e social, que já está se conformando, entre todos os favoráveis à reforma. Ao Partido caberá de imediato, entre outras tarefas, a de contribuir no essencial debate sobre quais serão as perguntas feitas à população. Proposto para 7 de setembro, o plebiscito pode criar as condições institucionais necessárias não apenas para reeleger Dilma, mas para fazê-lo de forma a que o segundo mandato seja superior ao primeiro.

38.Para vencer o plebiscito, é fundamental que haja condições democráticas, o que começa por definir regras claras, horário eleitoral de rádio e TV, limites ao financiamento das diferentes posições, democracia nos meios de comunicação.

39.Também é fundamental a definição de quais temas devem ser objeto de debate e votação, no Plebiscito. De saída é importante que o conteúdo e a redação das perguntas dialogue com o sentimento popular, de negação da atual maneira de fazer política. Por isto, tão importante quanto as alternativas de sistema eleitoral (voto distrital, em lista ou distrital misto) e a fidelidade partidária, são temas como a introdução de instrumentos de democracia direta, extirpar a fonte de corrupção que é o financiamento empresarial das campanhas eleitorais, garantir a proporcionalidade na eleição de parlamentares, a paridade de gênero na composição das bancadas, o fim do Senado com a introdução do unicameralismo etc. 

40.E, com destaque, a convocação de uma Assembléia Nacional Constituinte, bandeira correta, aprovada e reafirmada pelo Partido, a única compatível com a necessidade de alterar de conjunto e democraticamente a institucionalidade brasileira. A esse respeito, o governo deveria ter mantido a proposta combinada de Plebiscito e Constituinte "específica", para fazer a reforma política.

41.É nestes marcos de intensa luta política e social que ocorrerá o processo de eleição das direções partidárias, o chamado PED. Trata-se de uma coincidência feliz, pois permitirá à militância construir, através do debate, uma nova estratégia para um novo período, de maiores conflitos políticos e sociais, cuja solução positiva exige a realização de reformas estruturais. Um cenário adequado, também, para que o Partido reveja de alto a baixo sua organização, reconstruindo suas instâncias e organismos de base, revendo seus métodos de funcionamento e ação, e principalmente adotando uma nova estratégia, elegendo uma direção que seja capaz não apenas de reconhecer os novos tempos, mas também – e principalmente – capaz de agir em conformidade com isto. 

41.É nestes marcos de intensa luta política e social que ocorrerá o processo de eleição das direções partidárias, o chamado PED. Trata-se de uma coincidência feliz, pois permitirá à militância construir, através do debate, uma nova estratégia para um novo período, de maiores conflitos políticos e sociais, cuja solução positiva exige a realização de reformas estruturais. Um cenário adequado, também, para que o Partido reveja de alto a baixo sua organização, reconstruindo suas instâncias e organismos de base, revendo seus métodos de funcionamento e ação, e principalmente adotando uma nova estratégia, elegendo uma direção que seja capaz não apenas de reconhecer os novos tempos, mas também – e principalmente – capaz de agir em conformidade com isto. 

42.Vivemos novos tempos, apesar dos perigos. As próximas semanas podem confirmar o potencial mudancista do processo, ou podem resultar numa reversão conservadora, como é o sonho daqueles que comemoram os resultados de recentes pesquisas de opinião. Cabe a cada um de nós, militantes de esquerda, sustentar as bandeiras vermelhas da esperança e do socialismo.


A direção nacional da Articulação de Esquerda, tendência do Partido dos Trabalhadores
30 de junho de 2013

Cerca de mil leitores veem golpe          em marcha e querem reagir                       

Eduardo Guimarães                   Blog da Cidadania             
Até a manhã de domingo, o post intitulado “Você vai ficar parado assistindo o golpe prosperar?” recebeu cerca de 1000 comentários de leitores de todas as partes do Brasil e também do exterior, os quais se uniram a este que escreve no entendimento de que os fenômenos que se produziram no país em junho decorreram de orquestração com fins políticos.
Vale explicar a falta de precisão sobre o número de leitores que apoiam a teoria da orquestração e o chamamento para que se unam ao Movimento dos Sem Mídia a fim de elaborar estratégias para enfrentar um movimento de viés fascista que buscou, desde o primeiro passo, interferir nas eleições do ano que vem.  Não há número fechado porque esse contingente segue crescendo enquanto este texto se escreve praticamente sozinho.
Antes de prosseguir, porém, é preciso avaliar a importância de um contingente como esse de cidadãos romper o surto de covardia que se abateu sobre o país e que tornou “crime de traição” discordar da nova ordem, a “ordem das ruas”, a contaminação fascista que assola o Brasil.
Se um simples blog consegue reunir quase mil pessoas desconfiadas do rumo dos acontecimentos em pouco mais de um dia, é de se imaginar quanta gente, por aí, percebe que há um golpe político em andamento.
O mérito da iniciativa desta página, portanto, está sendo o de impedir que a Onda de protestos sem causa e sem rumo que tomou o país se torne “unanimidade” da boca das pessoas para fora, pois, como fica claro em incontáveis depoimentos de leitores no post anterior, quem discorda está sofrendo pressão em seus meios sociais e profissionais e, nesse processo, sente-se intimidado e coagido a “mudar” de posição ou a se calar.
Alguns dirão que cerca de 1000 pessoas (até aqui) espalhadas pelo Brasil não são nada diante de cerca de um milhão que foram às ruas. Contudo, antes deste post tenho certeza de que nenhuma outra página na internet mostrou tão claramente como a desconfiança dessas manifestações é um sentimento latente e sufocado.
Além disso, aqui não se pediu simpatia aos leitores que aderiram ao chamamento feito, pediu-se engajamento, o que, por certo, limitou a adesão – além, é claro, do medo de muitos de se exporem a uma discordância que vem se tornando quase que proibida em meio a um processo catártico que está levando as pessoas a deixaram de raciocinar e a se tornaram, em boa parte, legitimamente fascistas ao agredirem, verbal ou fisicamente, quem discorda.
A essas pessoas que aderiram ao chamamento do Blog, informo que já estão sendo cadastradas com base em seus nomes, cidades e Estados. O primeiro passo, porém, será varrer o arquivo de comentários para retirar nomes repetidos em mais de um comentário da mesma pessoa e manifestações que não são de adesão.
Contudo, já se pode dizer que os comentários inadequados à natureza do post não passam de algumas poucas dezenas em meio a cerca de nove centenas de adesões.
A partir da primeira lista que for composta, um e-mail coletivo será enviado e cada pessoa que se manifestou simpaticamente à causa do Movimento dos Sem Mídia receberá instruções por esse meio.
Em primeiro lugar, será pedido àqueles que não informaram em que cidade e Estado residem que complementem a informação. Anexada ao e-mail, haverá uma ficha de inscrição em que serão pedidos dados adicionais, como telefone, endereço etc., de forma a compor o cadastro do MSM.
O passo seguinte será separar as pessoas de São Paulo de forma a que participem fisicamente de uma Assembleia que será feita em auditório nesta cidade em data que será discutida após concluir a tabulação dos dados.
Simultaneamente, pessoas de outros Estados ou mesmo de cidades paulistas mais distantes da capital que não puderem vir a ela serão instruídas sobre como poderão ajudar até que em suas regiões tenhamos massa crítica para organizar um evento similar ao de São Paulo.
Este que escreve está disposto a percorrer o país para organizar o MSM em outras regiões. Independentemente da política, pois tempos sombrios se fazem anunciar e quando os olhos e mentes se abrirem pelo menos os que enxergaram antes já terão se organizado de alguma forma.
Nesse aspecto, há que fazer comentários sobre a pesquisa Datafolha que mostrou derretimento da popularidade da presidente Dilma Rousseff e que foi divulgada cerca de 12 horas após a publicação do post em que foi feita a exortação aos seus leitores para que nos organizemos contra o golpe político em curso no país.
Nas redes sociais Twitter e Facebook, em comentários aqui no Blog, em telefonemas e e-mails que recebi, perguntaram-me se tenho bola de cristal, pois o tom do post de convocação de pessoas assumiu grande sentido diante de uma queda de aprovação de Dilma que ficou claro que surpreendeu a todos pela sua profundidade.
Só ficou surpreso, porém, quem não lê este Blog ou, se lê, não acredita nele. A queda pronunciada de popularidade da presidente já vinha sendo avisada desde a pesquisa Datafolha anterior, que já mostrava queda de 8 pontos percentuais e que foi confirmada pelo Ibope.
Em meio à desorientação que se produziu inclusive no partido da presidente após a divulgação da pesquisa, pois boa parte do PT deu apoio a manifestações que agora se sabe que foram mais prejudiciais a esse partido do que a qualquer outro, vão surgindo tentativas de edulcorar a realidade, como comparações com a perda de popularidade de Lula durante o escândalo do mensalão, em 2005, e suposições de que “todos os políticos” perderam aprovação.
Não é assim. Marina Silva, por exemplo, se deu muito bem. Sua distância para Dilma nas pesquisas sobre a sucessão presidencial do ano que vem, ficou pequena – menos de dez pontos percentuais, em alguns cenários.
Há hoje risco real de o país, ano que vem, eleger uma presidente que flerta com o fanatismo religioso e que, além de posições legitimamente de direita – que se aproximam das do deputado Marco Feliciano, o presidente homofóbico e racista da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados –, não tem um partido político de verdade por trás de si.
Aécio Neves também melhorou um pouco no Datafolha, em alguns cenários. Mas o mais importante é que os protestos não o afetaram muito. O grande prejuízo, portanto, foi de Dilma.
Claro que governantes estaduais e municipais de partidos que fazem oposição ao governo federal, como o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, ou o de Minas Gerais, Antonio Anastasia, também sofreram fortes abalos de popularidade. Contudo, nenhum deles tinha tanto a perder quanto Dilma, que tinha uma reeleição quase garantida
O principal problema de Dilma, portanto, não é só o processo de desmoralização em que foi atirada pelo que este blogueiro e quase mil de seus leitores afirmam ter sido resultado de orquestração. O problema é que seus adversários, ano que vem, terão a mídia a seu favor e, em uma situação como a atual, esse apoio pode ser decisivo.
A mídia conservadora apoiará qualquer um que esteja mais perto de pôr fim aos governos do PT. Eduardo Campos, Marina Silva e Aécio Neves terão apoio contra Dilma. Quem dos três tiver mais chance, será apoiado decididamente por Globos, Folhas, Vejas e Estadões.
Mas, em verdade, o processo político esquizofrênico em que o país mergulhou deve, isso sim, ressuscitar José Serra. Com Dilma fraca, o recall (lembrança) dele se tornou uma arma fortíssima para vencer a sucessão presidencial. Aliás, esse clima a favor do tucano foi antecipado aqui no post “Convite a Serra pra soltar rojão no Roda Morta diz tudo.
Pior do que isso: há notícias de que o vice-presidente Michel Temer está sendo assediado pela oposição para que comece a dar declarações vira-casacas sobre o governo Dilma, quem alguns oposicionistas mais exaltados e alguns meios de comunicação sonham em submeter a impeachment. A Temer caberia iniciar o desmonte das políticas públicas petistas, sobretudo as sociais, antes mesmo de 2015.
Dilma está morta? Lula pode se candidatar em lugar dela?
Bem, Dilma ainda tem aprovação e intenções de voto maiores do que as que qualquer adversário tem individualmente, e Lula, nas simulações do Datafolha, aparece quase tão forte quanto de costume. Ou seja: quem acha que o PT está morto, está se precipitando e a chance de quebrar a cara não é pequena.
Até porque, apesar das negativas que sobrevirão por parte do PT e de membros do governo Dilma, lembremo-nos de que Lula sempre afirmou que se, por alguma razão, a sua afilhada política não pudesse enfrentar a sucessão presidencial de 2014, aí, sim, ele poderia voltar.
Se Lula for disputar a sucessão de Dilma, portanto, isso só ocorrerá na undécima hora da disputa do ano que vem, no prazo limite para apresentação de candidaturas. Até lá, o PT, o próprio Lula e todo o governo Dilma negarão até a morte essa possibilidade, pois, uma vez materializada ou admitida por petistas e governistas, mataria este governo de vez.
Para animar quem já estiver mortificado, há que lembrar que Lula não precisa construir sua candidatura. A dele está pronta. Não há brasileiro que não o conheça e, ao contrário de Dilma, ele mantém laços afetivos com o povo brasileiro. Só terá que arrumar um meio de justificar a indicação de Dilma em 2010, mas a política permite “explicações” como essa.
Voltando à realidade, há que tocar na questão da economia. Dez entre dez analistas econômicos já concluem que as manifestações produzirão um baque econômico de proporção ainda não sabida, mas do qual a mídia oposicionista irá se aproveitar para espalhar ainda mais o pânico entre os investidores, os empresários e a população em geral.
O ódio ao PT é tão grande que esses criminosos não se importam de destruir o país para derrotar o partido.
Eis que o risco-brasil, que norteia empresários e investidores, está em torno de 180 pontos. Já é o triplo em relação a maio, antes das manifestações. O real foi a moeda que mais perdeu valor no mundo em junho, pelo mesmo motivo. A atividade econômica está despencando, até porque o comércio das grandes cidades sofreu, até agora, mais de R$ 1 bilhão de prejuízos com as depredações e saques “pacíficos”. Além do que, perdeu incontáveis horas de trabalho. Isso sem falar nas estradas bloqueadas por manifestantes, o que afetou a produção industrial.
Um desastre.
O que se teme, após tudo isso, é um recrudescimento do desemprego. Entre o fim de 2008 e o começo de 2009, quando explodiu a crise internacional, um número impressionante de empresários promoveu “demissões preventivas” assustado pela mídia, que dizia que o país iria quebrar. Nesse processo, perderam-se 800 mil postos de trabalho.
Recomenda-se aos eventuais demitidos que batam à porta do PSOL, do MPL ou de qualquer outro que incensou esse delírio coletivo que engolfou o país e peçam a eles um emprego novo…
O quadro não é bonito, meus amigos. Eis o que esses irresponsáveis fizeram com o Brasil. Estávamos indo bem, a economia estava reagindo, a desigualdade caindo, o nível de emprego no patamar mais alto da história, os salários valorizados como nunca…
Não se pude dizer que tudo tenha sido destruído. Mas o que já se perdeu, até aqui, foi imensurável. E o pior é que continuam tentando manter o incêndio vivo. Tenho visto até petistas continuando a exaltar o MPL e incentivando mais manifestações “pacíficas” enquanto se recusam a admitir o erro fatal que foi apoiar essa loucura.
A grande maioria do PT, de todos os partidos, da mídia, de jornalistas e de blogueiros sabe que houve uma orquestração do PSOL, acima de qualquer outro. Mas quase ninguém quer dar a cara a tapa e alguns, por interesse ou por teimosia, não querem admitir o que vai ficando cada vez mais claro.
O Movimento dos Sem Mídia, para os despertos que frequentam este espaço, constitui-se em uma boia salva-vidas. Ao menos do ponto de vista moral. Não se pode deixar que as pessoas sucumbam às pressões sociais que tentam calar discordâncias. O mais importante, neste momento, é não sucumbir à tentação de se render.
No momento, este que escreve e seus leitores já conseguiram uma grande vitória. As cerca de 1000 pessoas que deixaram seus dados aqui e que se dispõem a se organizar nesse movimento podem se tornar uma luz a guiar quem quiser escapar das trevas que se abatem sobre o Brasil. É só o que nos cabe nesse latifúndio, ao menos por enquanto.
A você que corajosamente aderiu ao chamamento deste Blog e do Movimento dos Sem Mídia, dou as boas-vindas e aviso que logo estaremos em contato. Parabéns por seu destemor. É de pessoas como você que o Brasil mais precisa neste momento.

LULA GANHA NO 1O. TURNO.
DIRCEU: 
ÀS RUAS !                     

Para dar uma entrevista à Veja, o Mercadante é capaz de esnobar um holofote da Globo ! 
 A pesquisa do Datafalha que mostra como a Dilma “despencou”, traz uma informação que vai provocar cólicas no Ataulfo (*) Merval de Paiva: Lula ganha no primeiro turno.

(Clique aqui para ler “Uma analise do Datafalha: dá para fazer uma limonada”.)

O Lula não é candidato.

A candidata é a Dilma.

O Lula fica com o pé atrás da porta e avisa à Big House, aos Campriles da vida: não vem que não tem !

Dilma, a candidata à reeleição, será mais forte se deixar essa quimera de a “presidenta gerente”.

Presidente não é gestor.

É político.

Ela tem que participar do embate político.

A disputar o mercado das ideias.

A “hegemonia”, diria um encarcerado italiano.

Presidente da República faz a agenda política.

Enfrenta os adversários de público.

(Desde que tenha microfone, palanque, que uma Ley de Medios permitiria, na ausência do Bernardo.)

(E o zé da Justiça – vai botar a PF pra descobrir o que o filho do Roberto Marinho faz nas Ilhas Virgens ? – cliqueaqui para ler “Miguel à Globo: cadê o DARF ?”)

E se ela terceirizar a política ao Mercadante, será outro desastre ferroviário – Mercadante não foi eleito Presidente.

Nem Governador de São Paulo (ainda).

E mais: Mercadante gosta mais da Globo do que o Bernardo.

Mercadante gosta mais da Folha (**) do que o zé da Justiça.

Se a Veja oferecer umas páginas marrons, o Mercadante larga até holofote da Globo.  

E se ela não enfrentar o PiG (***) … babau !

O Governo tem que enfrentar a Globo – que sonega e trafega nas Ilhas Virgens – com a Ley de Medios e nas ruas.

Nas ruas !

Ir às ruas, como a CUT vai fazer – clique aqui para ler “Como e por que a CUT vai às ruas”.

Ir para a porta da Globo, como sugere o Miguel do Rosário.

O Dirceu também fala em reforma do ministério.

Claro: Bernardo, , Gleisi do Paraná e Helena Chagas deveriam rodar na primeira leva.

(Por que a Helena não pega o dinheiro que joga na Globo e reforça a verba orçamentaria da Educação, da Saúde, como fez o Requião ?)

(Por que a Helena não vai buscar o BV da Globo ?)

Diz o Dirceu (a quem a Dilma deve mais a eleição do que ao Mercadante, ao zé, ao Bernardo, à Gleisi e a todos os gerentes que ela empregou no Ministério – leia o “em tempo”):

Mas, está evidente que é preciso mudar e muito a relação política do governo com a sociedade, o Congresso Nacional, os partidos, os governadores e prefeitos, as entidades empresariais, sindicais e populares. Além de mudar sua comunicação e a gestão e execução dos principais programas e obras do governo.

Precisa, inevitavelmente, reavaliar prioridades e manter o rumo da política econômica para crescer sem inflação e distribuindo renda. Precisa ouvir as críticas, demandas e reivindicações da cidadania. Precisa ouvir as ruas e ir para as ruas defender e debater com o povo o plebiscito e a reforma política. E mobilizar nossa base social e política para defender nosso governo e obra nesses quase 11 anos do PT no poder federal.



Em tempo: por falar nisso, onde a Dilma escondeu a política externa do Celso Amorim e do Lula ? Por falar nisso: o Governo Dilma se esqueceu que o Brasil é 2/3 de América do Sul ? A quinta economia do mundo ? BRICs, G-20, OMC – daí não sai Política Externa Independente – PHA

Em tempo2: da seção dos leitores, na Folha:


…fazer uma enquete no calor dos últimos acontecimentos é o equivalente à seleção brasileira perder de 3 a 0 para o Taiti e, na saída do jogo, perguntar aos torcedores o que eles acham do Felipão.

LEONILSON SUPPI (São Paulo, SP) 

(Paulo Henrique Amorim)

(*) Até agora, Ataulfo de Paiva era o mais medíocre dos imortais da história da Academia Brasileira de Letras. Tão medíocre, que, ao assumir, o sucessor, José Lins do Rego, rompeu a tradição e, em lugar de exaltar as virtudes do morto, espinafrou sua notória mediocridade.

(**) Folha é um jornal que não se deve deixar a avó ler, porque publica palavrões. Além disso, Folha é aquele jornal que entrevista Daniel Dantas DEPOIS de condenado e pergunta o que ele achou da investigação; da “ditabranda”; da ficha falsa da Dilma; que veste FHC com o manto de “bom caráter”, porque, depois de 18 anos, reconheceu um filho; que matou o Tuma e depois o ressuscitou; e que é o que é,  porque o dono é o que é; nos anos militares, a  Folha emprestava carros de reportagem aos torturadores.

(***) Em nenhuma democracia séria do mundo, jornais conservadores, de baixa qualidade técnica e até sensacionalistas, e uma única rede de televisão têm a importância que têm no Brasil. Eles se transformaram num partido político – o PiG, Partido da Imprensa Golpista.