domingo, 30 de março de 2014


O CGT-Comando Geral dos Trabalhadores  foi desarticulado pelo golpe militar de 1964

Carolina Maria Ruy (*)                                      

CGT no Camício da Central do Brasil
O CGT foi o que se pode chamar de embrião do que hoje conhecemos por central sindical. Apesar de ter tido uma trajetória curta, bruscamente interrompida pelo golpe militar, seus dois anos de vida foram marcantes na história do sindicalismo no Brasil. O CGT foi responsável pela politização do movimentos sindical brasileiro. 

Em 1961, com o impasse criado pelos militares à posse do vice-presidente eleito, sindicalistas liderados pelo Comando Geral de Greve (CGG) organizaram uma greve geral pela posse de João Goulart. Foi um sinal do nível de atividade do movimento sindical brasileiro que ocorreria entre a renúncia de Jânio e o golpe militar (1961 e 1964).  Neste contexto, O IV Encontro Sindical Nacional dos Trabalhadores, em agosto de 1962, que contou com a participação de 3.500 delegados, representando 586 sindicatos, associações e federações, decidiu por um plano de ação imediata para itens como a revisão imediata dos níveis salariais, aposentadoria com 30 anos de contribuição, jornada de seis horas de trabalho para as mulheres, entre outros. A mais expressiva decisão do IV Encontro Sindical Nacional dos Trabalhadores, entretanto, foi a criação de um Comando Geral dos Trabalhadores, que organizaria o movimento sindical nos próximos anos.

Segundo Lúcia de Almeida Neves Delgado (O Comando Geral dos Trabalhadores no Brasil, 1986) o CGT se formou com base em duas correntes políticas: os comunistas ligados ao PCB e os trabalhistas ligados ao antigo PTB, que eram opositores da linha ministerialista, ou pelega. Cabe registrar também a influência da Greve dos 300 mil, em 1953, na formação do CGT. Naquela ocasião, o senso de unidade intersindical que surgiu entre os grevistas viabilizou a formação do Comitê Intersindical de Greve, que acelerou a criação do Pacto dos Quatro Sindicatos: têxteis, metalúrgicos, madeireiros e vidreiros (pelo qual cada categoria se comprometia a só terminar a greve quando houvesse condições gerais que atingissem a todos). Mais tarde o Comitê rompeu com a velha estrutura sindical e viabilizou a unificação da classe. Daquele movimento se originou o Pacto de Unidade Intersindical (PUI), primeira de uma série de entidades intersindicais, como Pacto de Unidade e Ação (PUA), o Fórum Sindical de Debates e o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), fundado em 1955 atendendo à demanda de um órgão de estudo e cálculos confiável colocada em 1951 na greve dos bancários de São Paulo.

Fruto deste processo o CGT, dirigido hegemonicamente pelo PCB, reuniu em suas fileiras as lideranças mais importantes do movimento sindical da época, como Clodesmidt Riani, Raphael Martinelli, Roberto Morena e Dante Pellacani.

Durante o governo de João Goulart (1961 a 1964) o CGT teve papel relevante. A relação do presidente com os sindicalistas era uma ameaça para os setores de direita. Por isso, a grande imprensa, aliada das classes dominantes, apelidou, de forma pejorativa, o CGT como o "quarto poder", reforçando o fantasma, forjado na época em que Goulart, como Ministro de Vargas, era acusado de instituir uma "República sindicalista".

Isso estava longe de ser verdade. Embora assumisse uma atitude progressista, simpática aos movimentos sociais, Jango não era socialista. Em linhas gerais, seu projeto político, expresso, sobretudo, nas Reformas de Base, consistia em incentivar o crescimento de pequenos capitalistas – produtores, empresários e empreendedores, o que geraria um ambiente de maior concorrência e uma relativa diminuição do poder dos grandes monopólios empresariais.

Além disso chegou a haver uma tensão entre o CGT e o governo, devido à radicalização do movimento e a demissão do ministro do Trabalho Almino Afonso, próximo dos líderes sindicais. Mas aos primeiros rumores de um possível golpe para depor o presidente em 1964, o CGT se mobilizou para defender as liberdades democráticas, ameaçando iniciar uma greve geral e se empenhando na organização do grande Comício (AQUI) da Central do Brasil, em 13 de março de 1964, no Rio de Janeiro, que reuniu cerca de 150 mil pessoas, no qual Jango enfatizou sua intenção em implementar as Reformas de Base.

Na ultima quinzena de março de 1964 as manifestações do CGT se intensificaram. A forte campanha anticomunista que se espalhava pelo país, entretanto, tornava estas manifestações cada vez menos receptivas, sobretudo pela classe média. No dia 31, às vésperas do golpe, todo o dispositivo de greve geral estava montado pelo CGT, mas, na madrugada de 1º de abril de 1964 cerca do vinte líderes do CGT foram presos e várias entidades sindicais foram invadidas (Delgado, 1986).

Com o êxito do golpe militar, o CGT foi desarticulado e os sindicatos colocados sob intervenção. O IV Congresso Sindical dos Trabalhadores, que se realizaria em julho de 1964 e que regularizaria o CGT como uma Central Sindical nunca ocorreu. 

(*) Carolina Maria Ruy é jornalista e coordenadora de projetos do Centro de Memória Sindical.

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