segunda-feira, 31 de março de 2014

"50 anos depois, projeto cultural da ditadura foi vitorioso"                    


Luiz Carlos Azenha         

                           
                                           Roberto Marinho com o ditador Figueiredo

César Ricardo Siqueira Bolaño
 é jornalista formado pela Universidade de São Paulo (USP) e doutor em Economia pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Professor da Universidade Federal de Sergipe (UFS), no sábado, participou em São Paulo do evento TV Globo: Do golpe de 1964 à Censura hoje. Bolaño é um dos autores de Rede Globo – 40 anos de Poder e Hegemonia.

No livro, César explica a origem da hegemonia da emissora nos dias de hoje: aliança com o capital internacional, através do grupo Time Life, que permitiu a ela adotar técnicas modernas de gerenciamento e contratar as melhores equipes, além da proximidade com o projeto político da ditadura militar.

No caso, houve uma acomodação: a ditadura abriu mão da produção de conteúdo, que passou a controlar via censura. Ao mesmo tempo, com a estatal Embratel, promoveu a expansão da rede de telecomunicações, através da qual a Globo pode criar o primeiro telejornal de alcance realmente nacional, o Jornal Nacional.

Foi assim que a emissora conseguiu a gigantesca vantagem de “formar o público” da TV brasileira. Mal comparando, é como aquele traficante que oferece a droga gratuitamente para depois tirar proveito econômico do vício alheio.

Porém, os conhecedores da história da TV Excelsior sabem que a emissora, que chamou a “revolução” pelo verdadeiro nome, golpe, foi na verdade a primeira a estabelecer uma grade de programação com horários fixos.

Aliás, quando a Excelsior faliu, nos anos 70, com a concessão cassada pelo ditador Médici, o Grupo Folha ficou com parte do espólio e a Globo acabou de herdar o elenco da emissora — já havia contratado, inclusive, Tarcísio Meira e Glória Menezes. A Globo também herdou gente da TV Tupi, quando esta foi para o buraco.

Para quem não sabe, a Excelsior teve Barbosa Lima Sobrinho como editor de seu telejornal, além de um elenco que incluia de Bibi Ferreira aos Trapalhões. No Teatro Cultura Artística, em São Paulo, onde ficava sua sede, fez um programa ao vivo com Jean-Paul Sartre e Simone Beauvoir.

O dono da Excelsior, Mário Wallace Simonsen, legalista, foi trucidado pela ditadura, que destruiu a empresa dele que exportava café, a Panair e a emissora de TV — nesta ordem.

Diz o pesquisador Fabio Venturini que os militares, estudiosos da ditadura Vargas, que teve problemas com o barão da mídia Assis Chateaubriand, escolheram um empresário não criador de problemas: Roberto Marinho.
Vejam como o censor mor da época da ditadura, o ministro da Justiça Armando Falcão, falava da Globo:
Segundo Cesar Bolaño, a Globo teve de se desfazer do capital do grupo Time Life mas adotou um padrão cultural do capitalismo associado, ou seja, dependente dos Estados Unidos. É neste sentido que ele diz que “o padrão cultural da ditadura militar foi vitorioso”: a Globo está aí para quem quiser saber o que é subordinação a ideias vindas de fora.
Ouça abaixo a interessante entrevista do professor Bolaño .

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