Resquícios do Golpe de 64
Wallace Simonsen:Um empresário que ninguém quer lembrar
Dono da Panair, da TV Excelsior e da Comal, a maior exportadora de café do Brasil, Mario Wallace Simonsen foi expurgado da história empresarial do País. Por quê?
Ivan Martins Nº EDIÇÃO: 345 | 14.ABR.2004 - 

No mercado de café, onde se concentrava o grosso da sua fortuna, Simonsen arriscou-se a disputar com as grandes companhias americanas o espaço da distribuição internacional. Não se conformava que o Brasil fosse apenas exportador passivo de grãos e montou uma empresa, a Wasin, para atuar agressivamente nos mercados da Europa e dos EUA. A Wasin tinha escritórios nas principais praças comerciais do planeta e representantes em 53 países, da Colômbia ao Burundi. Café era o seu forte, mas também vendia cachaça, feijão, guaraná, frutas e carne seca. No apogeu, diz seu genro, o conde italiano Carlo de Villarosa, a exportadora de Simonsen chegou a movimentar US$ 200 milhões por ano, uma fortuna imensurável para a época. Não obstante, esse empresário pioneiro foi exumado da memória empresarial brasileira. Talvez porque tenha ficado na contramão do regime militar, talvez porque aos beneficiários da sua ruína interessasse enterrar sua memória, o fato é que Simonsen foi expurgado do passado. Ao contrário de outros empresários nacionalistas destruídos pelo Estado, como Delmiro Gouveia e Irineu Evangelista de Souza, o Barão de Mauá, Simonsen ainda não recebeu o seu quinhão de reconhecimento. Em conversa com DINHEIRO, Mario Amato, o ex-presidente da Fiesp, custou a se lembrar de Simonsen, embora o empresário e sua família fossem uma lenda glamourosa na São Paulo dos anos 1960.
Os poucos que se lembram dele associam o nome ao mar de lama represado por Levy durante a CPI da Comal, convocada para investigar supostas irregularidades na comercialização internacional de café. As acusações do deputado, quando transformadas em denúncia do Ministério Público, foram rechaçadas pelo Supremo Tribunal Federal como totalmente fantasiosas em pleno regime militar. Mas as empresas de Simonsen, àquela altura, já tinham sido fechadas, fracionadas ou vendidas. “A Justiça que tarda mas não falha é coisa que não funciona no mercado de crédito e no mundo dos negócios”, diz Saulo Ramos. “Nesse mundo, depois de um tempo o estrago está feito.”
Os poucos que se lembram dele associam o nome ao mar de lama represado por Levy durante a CPI da Comal, convocada para investigar supostas irregularidades na comercialização internacional de café. As acusações do deputado, quando transformadas em denúncia do Ministério Público, foram rechaçadas pelo Supremo Tribunal Federal como totalmente fantasiosas em pleno regime militar. Mas as empresas de Simonsen, àquela altura, já tinham sido fechadas, fracionadas ou vendidas. “A Justiça que tarda mas não falha é coisa que não funciona no mercado de crédito e no mundo dos negócios”, diz Saulo Ramos. “Nesse mundo, depois de um tempo o estrago está feito.”
A derrocada do império foi rápida e inesperada. Apanhou a filha mais nova da família em meio a um conto de fadas. Loira e linda, Mary Lou era a musa das colunas sociais nos dois lados do Atlântico. Sua festa de debutante foi realizada em Londres, na presença da rainha da Inglaterra. Seu noivado com o conde Villarosa, aos 17 anos, também foi celebrado em Londres, na embaixada do Brasil. Com seu irmão mais velho, Wallinho, dava-se o mesmo. Alto e tímido, dirigia um espetacular Mercedes esportivo pelas ruas de São Paulo, tinha casa com mordomo em Paris e demonstrava pouco apreço por dinheiro. Um amigo lembra que Wallinho era capaz de riscar uma ordem de pagamento com valor em branco, assiná-la e mandar o beneficiário sacar no banco da família – que pagava. O próprio Wallinho contava, anos depois, que nos tempos de fausto mandava tirar os bancos de aviões da Panair para levar ao exterior os cavalos do seu time de pólo. A morte do pai o encontrou despreparado para o duro mundo dos negócios que o cercava. Sua única experiência vinha da TV Excelsior, onde o experimentalismo artístico predominava sobre as técnicas de gestão. “Éramos muito jovens, muito ingênuos e fomos muito enganados”, diz Mary Lou, que tinha 21 anos na manhã em que encontrou o corpo morto do pai, vítima de um enfarte noturno. A mãe havia morrido seis meses antes. “Com a morte do meu pai e todos os problemas que se seguiram, cada um de nós surtou de um jeito”, diz ela.
Anos mais tarde, Wallinho se queixaria de que Jango não soube honrar o favor. Seu pai estava sendo perseguido na CPI da Comal e Wallinho procurou o presidente. “Ele não fez nada. Só me disse que iria falar com o pessoal do PTB”, lamentaria em conversa com o professor Carlos Henrique Novis, da Universidade de Brasília. Novis fez sua tese de mestrado sobre a derrocada do império Simonsen e conversou longamente com Wallinho. O homem que já fora o playboy mais rico e invejado do Brasil, casado com a mulher mais bonita da época – a socialite carioca Regina Rosemburgo, musa do Cinema Novo – morava no final dos anos 80 em um modesto apartamento da rua da Consolação, em São Paulo, no qual tinha vergonha de receber os amigos. Morreu em 2001. Trinta e seis anos antes, no dia da morte de seu pai, os jornais de São Paulo publicaram um anúncio fúnebre, assinado pelos funcionários da TV Excelsior. Ali se desejava paz, depois de meses de desassossego. “Agora os ódios e as perseguições não o podem mais atingir.”
Um comentário:
É impossível determinar a vastidão do estrago causado ao Brasil, com a destruição de um guerreiro legítimo, e leal como Simonsen, e a decolagem de uma figura nociva como Roberto Marinho. Existem várias modalidades de prejuizo, mas a maior está no prejuizo cultural. Paremos para pensar como seria o Brasil com a excelsior, e sem a Globo. Com certeza, o Brasil, seria completamente outro. E não é só isto. Simonsen era um capitalista autentico, que não se intimidava, e enfrentava, figurões do primeiro mundo. Ousou peitar Nelson Rockfeller. Era competente a tal ponto, que começou a ameaçar a hegemonia americana. PENSEM BEM: A-M-E-A-Ç-A-R A H-E-G-E-M-O-N-I-A A-M-E-R-I-C-A-N-A. É competencia demais. Jango não era comunista, e muito menos Simonsen. Como poderia Simonsen ser, ou apoiar comunista, com o império que possuia? Era sua intenção implantar o comunismo, e entregar o que era seu ao poder instalado? Só idiota para dizer isto. Este cara, estava simplesmente conduzindo o Brasil, ao primeiro mundo, mas acontece que existia uma infeliz coincidencia: A sua destruição favoreceria interesses americanos, e também de um grupo de maus brasileiros que viram uma oportunidade de obter imensas vantagens trapaceando, ou vamos acreditar, que para apoiar o golpe de 64, teve até porta aviões americano no litoral brasileiro à toa? Para enfrentar comunistas, é que não era. Estamos pagando por este infortúnio, até hoje, e irá muito além. Em duas grandes ocasiões, o Brasil foi retirado dos trilhos que o levava ao rumo certo, tendo o condutor da locomotiva enfrentado jogo sujo. Barão de Mauá, e Mario Wallace Simonsen. Descansem em paz, grandes brasileiros.
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