quinta-feira, 20 de março de 2014

O Brasil, segundo os investidores e o povão

Por que o clima de desconfiança do empresariado em relação ao governo e como destravar?
A questão foi colocada nos debates de uma das palestras do Fórum Brasil, promovido pela revista Carta Capital.
Para o presidente da Vale, Murilo Ferreira, a razão do pessimismo é fundamentalmente eleitoral. "Pelas razões que todos conhecem, no início de 2013 firmou-se a candidatura da presidente Dilma a reeleição e passamos a ter período eleitoral de dois anos. E acho extremamente danoso".
Ferreira tem corrido o mundo, mais de 160 viagens nos últimos anos.  "Cada grupo de economistas, ligado a um grupo político, acaba contando sua versão, sem revelar seu alinhamento partidário".
De 2009 a 2013 a Vale investiu US$ 66 bi, o maior investimento da sua história, competindo com as maiores mineradoras do mundo. Recentemente adquiriu 210 locomotivas.
Recentemente, fez uma rodada mundial, para captar US$ 9 bilhões para sua ferrovia. Em pouco tempo havia 23 grupos candidatos, dos quais foram selecionados três.
Na hora de colocar os números na mesa, as perspectivas futuras, o apetite volta.
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De sua parte, Luiza Trajano, da Magazine Luiza, sente quadro semelhante. "Esse lado político colocou todo mundo falando mal do país", reclama ela. Considera que o ponto central é a comunicação fragmentada, pouco educativa de um negativismo amplo.
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Não se trata de esconder problemas. Eles existem e não são triviais. Como salientou Antônio Maciel, da Hyundai, o mal estar com o empresariado decorre de três episódios.
O atraso nos reajustes de combustíveis foi fatal, diz ele. “Criou um mal estar desagradável e fácil de ser disseminado como fator de pessimismo”.
O segundo foi a tentativa de fixar Taxa Interna de Retorno (TIR) nas concessões públicas.
O terceiro, o alarido em torno da maneira de contabilizar o déficit. Maciel nota que, mesmo sem a maquiagem, o desempenho fiscal brasileiro foi melhor do que o da maioria absoluta dos países.
Faltou incluir a deterioração das contas externas.
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Partiu do economista Luiz Gonzaga Belluzzo a crítica mais incisiva à manipulação do noticiário. “A discussão pública tem que ser honesta”, disse ele. “Tem que haver um mínimo de honestidade e seriedade, apontando os problemas e não fulanizando a discussão, como ocorre agora”.
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Em contraposição ao mercado, como os participantes veem o estado de espírito do povão. Os três empresários dirigem organizações nacionais e têm contato frequente com a ponta
Luiza Trajano: "Os políticos precisam saber que a população não gosta desse pessimismo. O discurso pode pegar em financista, não no consumidor. A única coisa que traz pessimismo ao consumidor é a inadimplência. E nós estamos no menor nível de inadimplência dos últimos anos."
Murilo Ferreira: "Fui conversar com investidores em Nova York. Na volta parei em Açailândia, conferindo as obras da ferrovia e falando com as pessoas.  Para eles, a coisa mais importante é o emprego. A partir dessa base, sonham com coisas melhores, a casa própria, os filhos estudando, hospital por perto."
Antonio Maciel:"Antes, a maioria dos nossos trabalhadores queria emprego. Agora, quer escola para os filhos."

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