domingo, 30 de novembro de 2014

João Vitor, o garoto(cearense) de 
escola pública  que acertou mais 
de 95% do Enem                              
Estudante de uma escola pública em Fortaleza errou apenas oito questões no Exame usando como estratégia a leitura: 'A prova tem textos longos, então me adaptei aos livros grandes'...


Domitila Andrade              

(Original do jornal O POVO/Fortaleza)                                               
João Vitor
Quarto de cinco irmãos, João será o primeiro
 da família a ingressar no Ensino Superior
Ver João Vitor falar sobre sua conquista é assistir à luta entre a timidez do garoto mais acostumado aos livros do que a grandes conversas e o orgulho de quem está vendo o esforço recompensado. O número da vitória é de impressionar: João Vitor acertou 172 questões das 180 que compõem o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). O equivalente a 95,5% de acertos. Mas João Vitor Claudiano dos Santos, 16, aluno do 2.º ano da Escola de Ensino Médio Governador Adauto Bezerra, em Fortaleza, ainda não consegue mensurar o significado do feito.
O menino agora espera o resultado oficial, que deve sair em janeiro de 2015, mas, em um comparativo, João Vitor ultrapassou os 164 acertos da estudante mineira Mariana Drummond, que conquistou o primeiro lugar no Enem 2013. A nota final ainda depende do desempenho na Redação, que João acredita ter sido a mais difícil das avaliações.
“Sempre ouvi falar da dificuldade que é o Enem e tinha medo. Mas quando vi, sinceramente, achei muito fácil. Quando corrigi pelo gabarito, não fiquei assustado, apenas lamentei pelas oito (questões erradas)”, diz com a simplicidade de quem dormia em média quatro horas por dia para garantir o bom desempenho, que ele credita também ao apoio recebido dos professores.
A ficha da biblioteca, lugar preferido de João, já vai na segunda folha e ultrapassa os 40 livros. A leitura assídua é o segredo dele. “O que tem de cansativo no Enem são os textos grandes. Então, minha estratégia foi me adaptar à leitura, ler livros grandes, alguns com linguagem rebuscada”.
João, cujo maior orgulho é ter estudado a vida toda em escola pública, ainda não sabe se irá cursar o 3.º ano, mas quer fazer Ciências Biológicas e sonha em viajar para o Reino Unido pelo Ciência Sem Fronteiras. Aos 16 anos, ele tem muito bem traçados os planos da vida. “Sempre me vejo fazendo especialização em bioquímica e biologia molecular. Quero ser pesquisador e estudar o resto da vida”.
Criado pela mãe, a aposentada Ana Maria Santos, morador do bairro Vila União, quarto de cinco irmãos, João será o primeiro da família a ingressar no ensino superior. Os estudos foram, para ele, a forma de transformar o próprio destino. “Sou um garoto que não conheceu o pai, que sempre sofreu bullying por ser nerd, por causa do cabelo, do sapato, da magreza. O estudo não combateu minha timidez, mas me ajudou a ser feliz”.

Uruguai: uma utopia para o novo século?                    
País avança em relação aos direitos civis ao mesmo tempo no qual ondas conservadoras bloqueiam agendas progressistas em países como o Brasil.

Vinicius Wu                             
Arquivo
A vitória de Tabaré Vazquez no Uruguai, após Mujica enfrentar temas como drogas e união civil de pessoas do mesmo sexo, é um sopro de esperança para a esquerda latino-americana. A Frente Ampla mostra que é possível governar disputando hegemonia, debatendo valores e temas polêmicos, sem ceder ao senso comum. É um caso a ser analisado e valorizado.


O Uruguai avança em relação aos direitos civis ao mesmo tempo no qual ondas conservadoras bloqueiam agendas progressistas em países como o Brasil.

Recentemente, o Uruguai voltou a pautar o noticiário internacional em função da proposta do governo local de facilitar a entrada e a permanência, em seu território, de cidadãos dos demais países membros do Mercosul. E isso após, pelo menos, duas décadas de agendas xenófobas sendo pautadas por governos mundo afora.


Não seria nenhum exagero afirmar que a agenda das liberdades individuais está no centro dos debates sobre a democracia do século XXI. E a renovação do pensamento de esquerda passará - em grande medida - pela incorporação de uma série de temas que dizem respeito a modos de vida, comportamento, cultura e direitos individuais.

O país ao 
 sul do continente americano vai conformando uma experiência que deve ser observada com atenção pela esquerda latino-americana.


O Uruguai, certamente, não é um país perfeito e a Frente Ampla vive intensamente suas contradições. Não devemos ceder a nenhum tipo de mistificação. Idealizações já custaram muito caro à esquerda ao longo do século XX.

Mas o significado desta experiência da esquerda uruguaia - que vai promovendo transformações e disputas em torno de novos valores - sob um regime democrático pode, sim, consolidar-se enquanto uma utopia de novo tipo.

Num tempo marcado pela descrença nas Instituições e na representação política, o país pode se tornar uma referência para a juventude da Era da informação em rede, que acompanha em tempo real tudo o que ocorre no mundo.

Sem nenhuma pretensão em retornarmos ao tempo dos "modelos" e dos "faróis" da esquerda, talvez seja mesmo o caso de observarmos, com muita atenção, o que se passa na terra de Mujica e Galeano. Quem sabe assim, possamos, ao menos, caminhar em direção a novos horizontes.

A fase oral que não passa         

Luciano Martins Costa  - original no 'Observatório da Imprensa'  

Toda a imprensa brasileira parou na quinta-feira (27/11) para acompanhar a primeira entrevista coletiva dos futuros comandantes da política econômica. Nas principais emissoras de rádio e nos canais noticiosos da televisão, o assunto dominou o período até o último programa, e na sexta-feira (28) os jornais fazem a retrospectiva das declarações, com as interpretações a cargo dos porta-vozes de praxe.
O conjunto do material jornalístico que um ser humano pode acessar nesse dia de trabalho é composto quase exclusivamente por declarações. A palavra, principalmente aquela que é proferida num sentido esperado pela comunidade da imprensa, ganha poder de imagem, e mesmo frases dúbias por sua natureza ou intencionalmente ambíguas ganham ares de sentença. Então, a mídia tradicional conclui: a presidenta da República se rendeu à lógica do mercado.
A entrevista de Joaquim Levy, futuro ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, que vai para o Planejamento, e Alexandre Tombini, que continua no comando do Banco Central, mostrou um trio afinado, pelo menos no discurso. E esse “pelo menos” é maximizado no noticiário e no opiniário dos jornais, que apostam numa guinada na política econômica.
Alguns articulistas chegam a afirmar que o segundo mandato da presidente Dilma Rousseff vai se parecer mais com as propostas do candidato que ela derrotou na última eleição do que com seu programa de governo. No entanto, não há nada no conteúdo das declarações que justifique tal interpretação.
As respostas dadas pelos entrevistados, principalmente as do futuro titular da Fazenda, sobre o qual pesavam as maiores expectativas, foram mornas, superficiais, planejadas para funcionar como calmantes sobre o mercado. E a imprensa as sobrevaloriza, tentando dar um tom definitivo a expressões genéricas centradas no senso comum.
Basicamente, os futuros ministros disseram que “o Ministério da Fazenda reafirma o compromisso com a transparência”; “o dia a dia vai mostrar quanta autonomia a equipe econômica vai ter”; e “o equilíbrio da economia é feito para garantir o avanço das políticas sociais”.
Trocando em miúdos, o que se afirmou é que a política econômica seguirá perseguindo a meta do crescimento com justiça social, com mais clareza quanto ao controle dos gastos públicos.
Brasil, Venezuela
Com exceção da Folha de S.Paulo, que foi buscar opiniões negativas sobre as possibilidades de entrosamento de Joaquim Levy, tido como mais conservador, com Nelson Barbosa e Alexandre Tombini, mais afinados com o modelo petista, os jornais parecem otimistas. De modo geral, o noticiário e as opiniões de analistas escalados para refletir o pensamento da imprensa conduzem a uma visão positiva diante do desafio de superar as dificuldades conjunturais e evitar que as agências de avaliação de risco venham a rebaixar a nota brasileira no próximo semestre.
O desejo de ver suas teses aceitas pelo governo faz com que a imprensa leia nas palavras dos futuros ministros uma realidade que não conseguiu impor com seu protagonismo na eleição presidencial. O cenário econômico é escorregadio, e uma declaração tem o poder de induzir os ânimos para cima ou para baixo na escala das expectativas. Portanto, não se pode fazer profecias a partir de uma entrevista claramente planejada para desanuviar o ambiente.
Mais interessante é observar como a mídia tradicional busca se satisfazer com o verbo, ou seja, como a imprensa brasileira vive infantilmente presa ao prazer da oralidade, talvez como reflexo de certa imaturidade da própria sociedade. Essa tendência de tomar por real o que é meramente declaratório tem efeito nas instituições, cujos representantes eventualmente são tomados por alucinações criadas pela palavra.
Veja-se, por exemplo, o caso relatado pela Folh/SP, sobre um procurador do Ministério Público Federal de Goiás, que abriu uma sindicância para apurar suposta ação do governo da Venezuela para alistar adolescentes e crianças brasileiras em “brigadas bolivarianas de comunicação”. O nobre procurador não se deu conta de que o comunicado do Ministério das Comunas da Venezuela – equivalente ao nosso Ministério das Cidades –, publicado em 2011, se referia a um bairro chamado Brasil, da cidade de Cumaná, no estado venezuelano de Sucre.
Provavelmente foi contaminado pelo palavrório segundo o qual o Brasil vai aderir ao “bolivarianismo”, suspeitou de uma rede de tráfico humano comandada pelo governo da Venezuela e se cobriu de ridículo.

sábado, 29 de novembro de 2014


Kátia  Abreu  quer   um 

ministério ou uma crise?


Fernando Brito                      
katia
Não  tenho idade para ser um “força cega” e já vivi governos demais para não  saber que se tem de formá-los com concessões políticas, mas também que não pode dar certo aquilo que contesta a autoridade legítima do governante eleito e agride frontalmente o partido pelo qual se elegeu.
Por isso, não considero, do ponto de vista da política agrária, um retrocesso a indicação de Kátia Abreu para o Ministério da Agricultura, até porque é evidente que ela tem condições de trazer o agronegócio – que ninguém quer atirar ao mar – para próximo ao Governo e garantir-lhe as condições de produzir com respeito ao meio-ambiente e aos assalariados e pequenos produtores rurais, especialmente o de corte familiar.
Não é boa a política que ignora setores produtivos e não lhes oferece a oportunidade de participar do crescimento do país, sem que firam, ou firam menos, num ambiente de diálogo.
Mas diálogo pressupõe boa-vontade, jamais arrogância ou provocação.
Exatamente o que fez neste sáb ado(29), sem nenhum pudor, a senadora Kátia Abreu em seu artigo(leia AQUI) na Folha/SP.
Não apenas erra, ao dizer que terra indígena é apenas aquela que, no momento da promulgação de 1988 estava ocupada por indígenas – que poderiam, por suposição, terem sido expulsos na véspera, com os métodos mais violentos –  embora não passe pela cabeça de ninguém devolver os terrenos do centro do Rio e de São Paulo à Confederação dos Tamoios, como ela sugere se pretenda.
Errar é humano, diz o bordão, e mesmo que se  considere possível e necessário dialogar sobre o conceito de terras indígenas, não se pode dialogar com provocação.
Porque  não merece outro nome senão o de provocação, ao escrever que é preciso “enfatizar que o ministro Gilmar Mendes é um dos mais sérios juristas deste país, cuja obra ultrapassa nossas fronteiras. No Tribunal, sempre pautou sua posição pela estrita aplicação da lei, não sucumbido a pressões como essas que hoje o acometem. Os que contra ele vociferam são os que não possuem o mínimo respeito pelo Estado Democrático de Direito”.
Quem está na iminência de ser indicada ministra de um governo sistemática e doentiamente combatido por Gilmar Mendes, com ações jurídicas e outras nem tanto,  só pode fazer isso se não tem ideia de quem governa e de quem elegeu este governo.
Do qual ela pretende fazer parte, mas certamente sabendo que não será, nele, a dona, nem a capataz.
Para participar dele, como se disse uma vez do próprio Ministro Gilmar Mendes, precisa antes saber que não está falando com seus capangas lá – no caso dela – do Tocantins.
E aprender a ter modos.
Ninguém lhe pediu que esbofetasse o mais figadal inimigo do governo no Judiciário, Gilmar Mendes.
Seria desnecessário pedir-lhe que não esbofeteasse o Governo com escancarados elogios a ele.
A menos que haja algo que não se sabe e possa explicar a manifestação  brutal e grosseira.
Ou alguém que lhe explique o velho ditado gaúcho de que a luta não quita a fidalguia.
E que é gado e não criador de gado quem dá coices sem razão.

O discurso da grande mídia para

inviabilizar blogs e a diversidade 

de opinião                                  

                                        Luis Nassif Online imagem de Rui Daher      
Desqualificar votos de nordestinos, chamar cidadãos de bovinos, acusar eleitores de Dilma Rousseff de serem cúmplices da corrupção, tornar indignos os seguidores de Simón Bolívar, disseminar uma suposta ameaça à liberdade de imprensa, lutar contra privilégios da população negra, extinguir cotas sociais, classificar blogs como sendo sujos e “acusá-los” de serem financiados pelo governo.
Que relação há entre todos esses acontecimentos com a estratégia adotada pela grande mídia para impedir o crescimento de blogs e sítios não alinhados com os interesses da meia-dúzia de famílias que controla os meios de comunicação no Brasil?
Para entender a ligação entre fatos aparentemente distintos é proveitoso recorrer a alguns pensadores que analisaram as sociedades de suas épocas, pois eles desnudam a ideologia e a forma de atuar das classes dominantes.
A dominação
Há de se estar consciente de que em todas as épocas os humanos utilizaram comumente a procedência ou características físicas para explicar e justificar a julgada superioridade de certos indivíduos ou povos sobre outros. Em cada momento histórico os povos considerados mais avançados - modelos de superioridade e símbolos do ideal humano - eram aqueles que dominavam e subjugavam outras gentes. Eram os que criavam as leis, ditavam as regras, estabeleciam os valores da sociedade e se declaravam  referenciais para os demais.
O francês Frantz Fanon, em “Os condenados da terra”, faz uma análise da psicologia da dominação ao examinar os mecanismos utilizados pelos dominadores dentro do contexto colonial. Aponta para a desumanização do povo colonizado promovida pelo colonialista, a rigor, animalizando o outro. Quando fala do colonizado a linguagem do colonizador é uma linguagem zoológica:
A linguagem faz alusão aos movimentos répteis do amarelo, às emanações da cidade indígena, às hordas, ao fedor, à pululação, ao bulício, à gesticulação. O colono, quando quer descrever bem e encontrar a palavra exata, recorre constantemente ao bestiário. (Fanon, p. 31)
Ele evidencia ainda, em “Pele negra, máscaras brancas”, a importância da degradação da imagem do povo subjugado para que haja um engrandecimento da figura do dominador. Para Fanon isso pode ser observado no antissemitismo que se propaga nas classes médias, pois não tendo estas nem terra, castelo, ou casa, ao tratarem o Judeu como um ser inferior e pernicioso, confirmam, ao mesmo tempo, que pertencem a uma elite. 
O racismo
Se grave a degradação quando se prende a um fator que pode ser facilmente ocultado, tal como a origem e convicção judaica, o quadro piora quando se prende a características físicas que estampam no corpo aquilo que é depreciado pelo outro.
Nesse caso, no tocante à discriminação pela cor de pele, diz o autor que “uma criança negra, normal, tendo crescido no seio de uma família normal, tornar-se-á anormal ao menor contacto com o mundo branco”. Isto ocorre porque, desde o momento da chegada do colonizador no meio social é incutida a idéia da inferioridade das pessoas que possuem pele negra.
Para Albert Memmi, outro pensador francês, em seu “Retrato do colonizado precedido pelo retrato do colonizador”, a discriminação se insere de tal forma que fica presente no “conjunto de condutas, de reflexos adquiridos, exercidos desde a primeira infância, valorizados pela educação, o racismo colonial está tão espontaneamente incorporado aos gestos, às palavras, mesmo as mais banais, que parece constituir uma das mais sólidas estruturas da personalidade colonialista”. 
A obra da Escravidão
Em terras tupiniquins, segundo o brasileiro Francisco Weffort, em seu “Formação do pensamento político brasileiro: ideias e personagens”, dentre os intelectuais que trataram o tema Joaquim Nabuco foi o primeiro a ver na escravidão brasileira um “fenômeno social total”.
Nabuco advertiu, mesmo antes da abolição, que embora o abolicionismo destruísse a escravidão, poderia permanecer a “obra da escravidão”:
Depois que os últimos escravos houverem sido arrancados ao poder sinistro que representa para a raça negra a maldição da cor, será ainda preciso desbastar, por meio de uma educação viril e séria, a lenta estratificação de trezentos anos de cativeiro, isto é, de despotismo, superstição e ignorância. O processo natural pelo qual a Escravidão fossilizou em seus moldes a exuberante vitalidade do nosso povo durou todo o período do crescimento, e enquanto a Nação não tiver consciência de que lhe é indispensável adaptar à liberdade cada um dos aparelhos do seu organismo de que a escravidão se apropriou, a obra desta irá diante, mesmo quando não haja mais escravos. (Weffort, p. 219) 
O atual pensamento colonialista
O pensamento colonialista e a “obra da escravidão” ainda pairam sobre nossa sociedade sob novas formas. O discurso preconceituoso advindo do sudeste e a tentativa de rebaixamento de brasileiros nordestinos à condição de animais tornam Fanon atual - não mais a subjugação de um povo por outro, mas de brasileiros sobre brasileiros.
As desigualdades econômicas e sociais entre as populações negra e branca em nosso país evidencia o quanto a “obra da escravidão” ainda opera em nosso meio.
Sua obra transcendeu a questão racial. No sudeste e sul do país passa a agir também contra nossos irmãos das outras regiões do país.
O combate resistente e articulado das elites econômicas contra a diminuição das desigualdades se faz evidente com a ferocidade com que atacam, desqualificam e tentam humilhar quem vote em Dilma, admire Bolívar ou seja favorável às cotas sociais.
Por agirem em conjunto, alinhados e com pauta e discurso únicos, conseguem ser efetivos. Em todos os meios e em qualquer canal sempre o mesmo viés de classe. Em todos os rádios só se ouvirá aquilo, em todas as televisões só se verá isso, em todos os jornais só se lerá isto: 
• Cotas raciais: criam preconceito.
• Cotas sociais: instalam o fim do mérito pessoal.
• Cotas de gênero: desunem homens e mulheres.
• Benefícios sociais: constituem desestímulo ao trabalho.
• Nordestino: lugar de analfabeto.
• PT: sinônimo de corrupção.
• Votar no PT: cidadão corrupto, inculto.
• Reconhecer méritos do governo: ser pago pelo governo.
• Criticar sistematicamente o PT: indivíduo culto e informado.
• Bolívar: ameaça comunista.
• Blogs questionadores da mídia: sujos, submundo da internet.
• Verbas publicitárias públicas naqueles blogs: compra de opinião por parte do governo. 
Persuasão dos incautos
A persuasão é tamanha que se vê que os potenciais beneficiários das políticas públicas se tornam contra sua implantação. Veem-na como motivo de rebaixamento social.
É a crítica quanto ao universitário que cursa faculdade com bolsa integral do Prouni, mas não ao filho de família rica que cursa gratuitamente uma renomada universidade pública.
O mesmo ocorre com a aplicação de verbas públicas em publicidade na internet. O vitorioso discurso da grande mídia tacha de “comprado”, “parcial”, “petralha” e “chapa branca” qualquer sítio ou página que receba anúncios governamentais e que não esteja alinhada com a grande mídia.
De um lado isso criou aversão nos blogs progressistas quanto a receber qualquer tipo de publicidade governamental para poderem possuir o “selo” de independência editorial.
De outro, por fazer oposição sistemática e cobertura parcial, a mídia acusativa faz publicação de acusações sem provas e não dá voz aquele que é alvo das acusações, o que leva aos blogs não alinhados a destinarem a maior parte de suas publicações para contra argumentar aquilo que foi divulgado na grande mídia. São esses blogs que se prestam ao trabalho de "ouvir" o outro lado, de publicar a versão da acusado.
De uma só tacada a grande mídia inviabiliza o crescimento desses blogs, abarca a publicidade governamental realizada na internet e pauta os assuntos que serão discutidos e publicados nos outros meios: os blogs se tornam caixa de ressonância dos grandes veículos. 
Legislação e programas de estímulo
O Estado, representante da tutela dos interesses da coletividade, deve regular os mercados a fim de evitar falhas de mercado, em especial aquelas que podem ensejar malefícios à população em geral em contrapartida a lucros abusivos de setores dominantes.
A diversidade de veículos de informação e a quebra do cartel midiático se darão com legislação e instrumentos que estimulem a criação, manutenção e crescimento de canais alternativos de divulgação de informações, notícias e produção de conhecimento.
Tal qual estímulos recebidos pela indústria, a legislação que concede tratamento diferenciado à micro e pequenas empresas nas contratações públicas (Decreto 6.204, 5.9.07), o apoio à agricultura familiar (Pronaf) etc., a mídia alternativa também precisa receber estímulos do governo para que se desenvolva, seja mais atuante e o meio tenha condições de ser plural e democrático.
Os pequenos veículos de comunicação não possuem o mesmo aparato e capital que os grandes. Precisam de um tratamento diferenciado para se fazer cumprir o princípio da isonomia, que implica a necessidade de os iguais serem tratados igualmente e os desiguais, desigualmente, na medida da sua desigualdade.
Preciso é também fortalecer a TV Brasil, tornando-a de cobertura nacional. A fonte de recursos poderiam ser as verbas de publicidade destinadas aos grandes veículos de comunicação.
Ao mesmo tempo o governo deve estabelecer critérios claros e de interesse nitidamente público para a aplicação de verbas publicitárias, cortando despesas com veículos que disseminem preconceitos e infrinjam nossos princípios constitucionais.
Enquanto a grande mídia for a “fonte oficial” de informação para o público e pautar governos e aquilo que seja “notícia” em nossa sociedade, o colonialista, em nova roupagem, estará ainda sobre nós.


Lava Jato: as empreiteiras 


acaso são vítimas?               



 Fabio Serapião / José Antonio Lima            Carta Capital
Petrobras Ao menos dois dos executivos de empreiteiras presos e ouvidos pela Polícia Federal nos últimos dias levantaram a tese de que suas companhias eram 'alvos de extorsão' por parte da quadrilha investigada no âmbito da Operação Lava Jato. As falas, que podem ser uma estratégia da defesa dos empresários, contrastam com as conclusões iniciais da PF e do Ministério Público Federal, para quem as empreiteiras não eram vítimas do esquema criminoso, mas parte dele.
Na segunda-feira da semana passada(17), Erton Medeiros Fonseca, diretor-presidente  da Galvão Engenharia, disse que aceitou pagar propina após ser ameaçado. De acordo com Fonseca, Paulo Roberto Costa, ex-diretor de Abastecimento da Petrobras, e o doleiro Alberto Youssef afirmaram que, se a construtora não pagasse propina (que seria direcionada ao PP, partido para o qual atuavam), poderia ser punida com a suspensão de pagamentos por obras já encerradas. Fonseca afirmou, ainda, que estaria disposto a fazer uma acareação com Costa e Youssef a respeito desse tema. O primeiro é apontado pela PF e pelo MPF como “operador político” da quadrilha e o segundo, como “operador financeiro”. Ambos assinaram acordo de delação premiada com o MPF em troca de benefícios no cumprimento de suas penas.
Na terça-feira 18, Sergio Cunha Mendes, vice-presidente da Mendes Júnior, afirmou a mesma coisa aos delegados. Segundo seu advogado, Marcelo Leonardo, além de ser ameaçada de não receber por obras concluídas, a Mendes Júnior teria sido advertida que poderia ficar de fora de futuras licitações se não pagasse a propina. Assim, disse Leonardo, a construtora aceitou pagar 8 milhões de reais para as empresas de Youssef.
No parecer do MPF que ajudou a embasar a deflagração da sétima fase da Lava Jato, os procuradores afirmam a existência de “contundentes indícios de que as empresas do grupo Galvão Engenharia participavam de verdadeiro cartel entre grandes empreiteiras, que distribuíam entre si contratos de órgãos públicos (notadamente na Petrobras)”, enquanto para a Mendes Júnior afirmam ver “indícios razoáveis de que o grupo Mendes Júnior participava da formação de cartel em contratações da Petrobras”.
Entre os indícios estão o fato de as duas empresas, assim como os executivos presos, terem sido citados por Costa e Youssef e aparecerem em documentos apreendidos pela PF com os dois operadores do esquema. Além disso, as empresas fizeram depósitos nas contas das empresas de fachada usadas por Youssef para lavar dinheiro e, segundo o MPF, participaram de licitações que teriam sido fraudadas.
De acordo com a PF e o MPF, sempre as mesmas empresas venciam as licitações, em muitos casos pagando os valores máximos permitidos pela Petrobras. Segundo consta no parecer do MPF, a Petrobras fazia suas licitações ocultando o preço originalmente orçado, porém trabalhando com margens entre -15% e +20% do valor original, de modo a evitar propostas excessivamente onerosas ou consideradas inexequíveis. O cartel, entretanto, dividia as obras, permitindo que a empresa escolhida como vencedora fizesse uma proposta incluindo lucros exorbitantes, além da margem desviada para irrigar o esquema de corrupção.
Rodrigo Janot, o procurador-geral da República, encarregado de fazer a denúncia contra os políticos envolvidos no esquema, adiantou que rechaça a tese de que as empreiteiras eram vítimas de extorsão ou concussão, justamente pela suposta existência do cartel. “Como a concussão te obriga a fazer um cartel, fraudar uma licitação e ganhar um dinheirão? Está sendo extorquido para ganhar dinheiro? Para ter que botar US$ 100 milhões no bolso?”, afirmou Janot em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo.
A Polícia Federal também é assertiva ao falar sobre a combinação entre as empresas. No inquérito, a PF afirma que o cartel “perdurou por vários anos no Brasil, de forma que (...) propiciou que as empresas fraudassem centenas de licitações, gerando prejuízos bilionários” e gerou “o estabelecimento e direcionamento dos consórcios, com a divisão do mercado e o preço final superfaturado, onde foi incluído o valor do ‘ajuste’ a ser desviado e repassado aos agentes públicos.”
Ainda segundo a PF, as empreiteiras e os políticos formavam uma relação simbiótica, que “implica uma inter-relação de tal forma íntima entre os organismos envolvidos que se torna obrigatória”. Assim, conclui a PF, tamanho é “o intrincado relacionamento da organização criminosa” que “por vezes é difícil distinguir quem foi o corrupto e quem foi o corruptor”.
Como todo processo, o da Operação 'Lava Jato' envolve uma disputa entre teses, as dos advogados de defesa e as dos procuradores da República. Quando o tempo chegar, é a Justiça que definirá quem está correto.

Dilma: fui eleita pelas

forças progressistas!  

Eles querem o Golpe porque estão muito tempo fora do Poder... 
                    CONVERSA AFIADA
Ao discursar na reunião do Diretório Nacional do PT, nessa sexta(28) à noite, em Fortaleza, Dilma Rousseff afirmou que seu governo não é dela, mas dos partidos que a apoiaram e de todos os brasileiros, que votaram ou não nela. Mas a presidenta não foi condescendente com a oposição, a quem acusou de golpista:


— Os golpistas, que hoje têm essa característica, não nos perdoam por estarem tanto tempo fora do poder. Temos que tratar isso com tranquilidade e serenidade, não podemos cair em qualquer provocação e não faremos radicalismo gratuito, pois temos a responsabilidade de governar.


“Nós temos que tomar as medidas necessárias, sem rupturas, sem choques, de maneira gradual e eficiente como vem sendo feito. Temos que estar unidos. Eu preciso do protagonismo de todos vocês e neste protagonismo destaco o PT. O PT tem maturidade e hoje sabe que precisamos ter legitimidade e governabilidade”, disse a presidente.


Segundo Dilma, a missão do PT é compreender que a conjuntura, a situação do País e as condições da economia do país mudam.


“Nós nos adaptamos às novas demandas e damos respostas a cada uma delas. Acho que esta é a grande missão do PT”, disse, ao demonstrar que, embora dentro da meta, a inflação em 6,5% tem incomodado.


Dilma desafiou o partido a renovar suas perspectivas diante das demandas econômicas.


A presidente garantiu, porém, que a condução da economia não vai afetar a essência do programa do partido: 


-“Uma coisa deve ficar clara e ninguém deve se enganar sobre isso. Fui eleita por forças progressistas, não para qualquer processo equivocado, mas para continuar mudando o Brasil”, garantiu.

Dilma disse que “a verdade venceu a mentira” na eleição, porque os dados divulgados agora estão mostrando que seu governo estava certo.


— Sobre o desmatamento, diziam que tinha perdido o controle e teríamos uma elevação significativa da taxa. Foi uma falsidade, porque esta semana se divulgou que caiu 18% em relação a 2013. Falavam que a inflação estava fora do controle, acontece que agora os últimos dados mostram que vai acabar abaixo da meta.


A presidenta falou do PT e dos aliados:


— O governo não é 'meu', não o guardo  abraçadinha a ele. O governo é dos partidos, do PT, dos partidos da nossa aliança. Temos uma coalizão, temos uma coligação de partidos e o governo é dos movimentos sociais, dos que votaram em mim e dos que não votaram.

Afirmou que ao Congresso Nacional caberá o protagonismo das discussões da reforma política. Ela defendeu ainda a aproximação com os movimentos sociais.


— Temos que olhar os movimentos sociais; sobretudo nós, temos que ouvi-los. Numa sociedade democrática, o Congresso é fundamental, mas é na nossa relação com os movimentos sociais que recebemos as sugestões da parte organizada da população — afirmou Dilma.


(Sobre a matéria, ver o que disse o presidente do PT, Rui Falcão, sobre a Ley de Medios )