sexta-feira, 25 de outubro de 2013

O que nem Dilma e nem Marina  estão dizendo

PAULO NOGUEIRA                                                

O petróleo é bom, mas não é suficiente para uma sociedade justa como a falada por Dilma
O petróleo é bom, mas não é suficiente para uma sociedade justa como a falada por Dilma
Dilma e Marina, os dois principais nomes para 2014, estão falando da questão da desigualdade social – o maior desafio do país e do mundo — sem tocar no ponto central dela.
O ponto: você não faz nada de realmente expressivo contra a iniquidade se não cobrar mais impostos dos mais ricos. Poucas semanas atrás, o Nobel da Economia Robert Schiller disse exatamente isso.
Schiller disse temer que o mundo fique ainda mais desigual, e exortou os governos a taxar mais os ricos. Menos por Não gostar dos ricos, ele disse, mas para que as coisas não fiquem ainda mais malucas.
No Brasil, não se trata nem de fazer os ricos pagarem mais impostos. Estamos um passo atrás. Trata-se de fazê-los pagar impostos. O caso de sonegação comprovada da Globo na compra dos direitos da Copa de 2002 é exemplar. Passados meses desde que documentação denunciadora apareceu num vazamento de alguém da Receita, nada aconteceu.
Repito: nada. Absolutamente nada. Nem a Globo pagou – em dinheiro de hoje, a dívida é calculada em 1 bilhão de reais – e nem, ao que se saiba, o poder público se movimentou para cobrar e punir.
Na Europa e nos Estados Unidos, há um empenho dos governos em fechar o cerco a práticas das grandes corporações catalogadas como “legais mas imorais”, a maior das quais é criar subsidiárias em paraísos fiscais com o único objetivo de não pagar o imposto devido.
É o que no Brasil se chama, eufemisticamente, de “planejamento fiscal”.
Empresas como Google, Amazon, Microsoft e Starbucks estão sofrendo um forte cerco fiscal nos Estados Unidos e na Europa. Vários governos têm divulgado o quanto faturam e quanto pagam de imposto. São taxas fiscais irrisórias, na faixa de 5%, ou às vezes até menos.
Na Inglaterra, até escritórios especializados em oferecer “planejamento fiscal” a grandes empresas estão sendo investigados e, não raro, caçados.
Fora tudo, o uso de paraísos fiscais gera uma enorme desigualdade. Os ricos ficam mais ricos e os pobres mais pobres. Para manter as contas em ordem, os governos avançam sobre pensionistas, viúvas etc – a parte mais fraca. E a história contemporânea mostrou que os mais fracos cansaram de ser espremidos, e foram para as ruas protestar.
Na sociedade mais avançada do mundo, a escandinava, a fórmula do sucesso é exatamente cobrar mais impostos dos ricos.
No Brasil, é um tema proibido. A direita não fala nada, por razões óbvias: é beneficiária da desigualdade. E a esquerda tem medo do poder da plutocracia. Quem perde, com isso, é a sociedade.
Veja Dilma e Marina, por exemplo. Dilma afirmou que o leilão de Libra vai contribuir poderosamente para a construção de uma sociedade “mais justa e com melhor distribuição de renda”. A intenção é boa, mas sem cobrar mais imposto dos ricos nem 100 Libras vão resolver a tragédia da iniquidade nacional.
Marina, no Roda Viva, foi sabatinada sobre sua visão tributária por Maria Christina Pinheiro, do Valor.
A maior alíquota no Brasil é de 27,5%, disse Maria Christina. (Na Escandinávia, é cerca de 50%.) Marina pensa em mudar isso?
Loquaz o tempo todo, a ponto de ignorar as tentativas frustradas do mediador do programa de abreviar as respostas, Marina desconversou e logo mudou de assunto.
Enquanto os políticos brasileiros não enfrentarem a verdade – o Brasil é uma espécie de paraíso fiscal para quem pode mais, e isso tem que mudar urgentemente – falar em sociedade justa vai ser pouco mais que uma questão retórica.

Itaú, Natura e Marina,

com a mesma imagem

O site da Rede Sustentabilidade, de Marina Silva, apregoa: “Rede é participação e acesso, é conexão entre pessoas. Com o registro da #Rede, começam processos inovadores de participação cidadã. Conecte-se”.
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Não por coincidência, Itaú e Natura estão entre os principais apoiadores da candidatura Marina Silva.
Trata-se de uma das mais ousadas e arriscadas experiências de marketing: o investimento pesado no sentido de rede, provocando um imbricamento entre a imagem das empresas e de uma candidatura política.
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Historicamente, poucos banqueiros ousaram participar diretamente do jogo político. E nenhum arriscou a misturar imagens de forma tão ostensiva.
Nos anos 50, Roxo Loureiro, um banqueiro ousado que praticamente inaugurou a poupança e o sistema de agências descentralizadas, entrou na política. Gastou mais do que podia. E foi fuzilado por uma declaração impensada de Octávio Gouvêa de Bulhões, que provocou uma corrida contra seu banco. Aliás, seu principal executivo era Otávio Frias, que, anos depois, se tornaria o proprietário da Folha.
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Ainda nos anos 50, o banqueiro Walther Moreira Salles tinha tudo para ser o governador de Minas Gerais. Conseguira o impossível: o apoio tanto do PSD quanto da UDN. Recusou para não colocar o banco em risco.
Nos anos 70 foi a vez de Olavo Setúbal, do Itaú. Apesar da solidez, o Itaú tornou-se vítima de boatos que chegaram a provocar corridas em algumas praças importantes, como a de Campinas. Setúbal manteve a carreira pública, mas sem arriscar a disputar eleições.
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Na história do país, apenas o ex-governador de Minas Magalhães Pinto conseguiu fazer carreira política e bancária. Seu banco quebrou anos depois, mas sem ter sido prejudicado pela política.
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Apostar em políticos é estratégia de marketing tão arriscada quanto apostar em boxeadores: basta um nocaute para liquidar com qualquer campanha; basta uma denúncia, uma derrota acachapante, uma reversão de imagem para respingar no patrocinador. Basta derrotar os adversários para ter contra si todos seus eleitores.
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Não apenas isso. Especialmente em períodos eleitorais, a radicalização política não poupa gregos, troianos e egípcios, ainda mais nesses tempos de redes sociais. É uma mistura que poderá colocar contra o banco os eleitores do PT, do PMDB e Minas Gerais inteira.
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As duas empresas têm a seu favor o fato de serem inquestionavelmente sólidas e bem administradas. No caso da Natura, há uma ampla identificação com o ecoliberalismo de Marina Silva. No caso do Itaú, o foco em um público urbano moderno, mesmo alvo do partido de Marina.
Mas, se vivo fosse, Olavo Setúbal certamente não teria permitido essa aventura.

Fidel Castro está agonizando Original de FIDEL CASTRO, no (22/outubro/2012)                           Carta Capital

  
(fotos Alex Castro)
Cansado de ler e ouvir falar de sua própria morte, anunciada praticamente toda semana nas redes sociais, Fidel Castro resolveu publicar ele mesmo um artigo no jornal Granma com este título: “Fidel Castro está agonizando”. Devemos reconhecer que o homem tem senso de humor. No texto, o “comentarista-em-chefe” cubano aproveita para fazer uma crítica contundente à mídia e ao capitalismo.                                                 
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Fidel Castro está agonizando
Por Fidel Castro
Bastou uma mensagem aos graduados do primeiro curso do Instituto de Ciências Médicas Victoria de Girón para que o galinheiro da propaganda imperialista se alvoroçasse e as agências informativas se lançassem vorazes atrás da mentira. Não só isso. Em suas transmissões adicionaram ao paciente as mais insólitas idiotices.
O jornal ABC da Espanha publicou que um médico venezuelano, que mora nem se sabe onde, revelou que Castro havia sofrido uma embolia em massa na artéria cerebral direita. “Posso dizer que não vamos voltar a vê-lo publicamente”. O suposto médico, que se o é abandonaria primeiro a seus próprios compatriotas, qualificou o estado de saúde de Castro de “muito próximo do estado neurovegetativo”.
Embora muitas pessoas no mundo sejam enganadas pelos órgãos de informação, quase todos em mãos dos privilegiados e dos ricos, que publicam estas imbecilidades, as pessoas acreditam cada vez menos nelas. Ninguém gosta de ser enganado. Até o mentiroso mais incorrigível gosta que lhe digam a verdade. Todo mundo acreditou, em abril de 1961, nas notícias publicadas pelas agências dando conta de que os invasores mercenários de Girón ou Baía dos Porcos, como queiram chamar, estavam chegando a Havana, quando em realidade alguns deles tentavam infrutiferamente alcançar em barcos os navios de guerra ianques que os escoltavam.
Os povos aprendem e a resistência cresce frente às crises do capitalismo, que se repetem cada vez com maior frequência; nenhuma mentira, repressão ou novas armas poderá impedir a derrocada de um sistema de produção crescentemente desigual e injusto.
Há poucos dias, muito próximo ao 50º aniversário da “Crise de Outubro”, as agências de notícias assinalaram três culpados: Kennedy, recém chegado à chefia do império, Kruschev e Castro. Cuba nada teve a ver com a arma nuclear, nem com a chacina desnecessária de Hiroshima e Nagasaki, perpetrada pelo presidente dos Estados Unidos, Harry S. Truman, estabelecendo a tirania das armas nucleares. Cuba defendia seu direito à independência e à justiça social.
Quando aceitamos a ajuda soviética em armas, petróleo, alimentos e outros recursos foi para nos defendermos dos planos ianques de invadir nossa Pátria, submetida a uma suja e sangrenta guerra que esse país capitalista nos impôs desde os primeiros meses, e que custou milhares de vidas e mutilados cubanos.
Quando Kruschev nos propôs instalar projéteis de alcance médio, similares aos que os Estados Unidos tinham na Turquia – ainda mais próxima da URSS que Cuba dos Estados Unidos – como uma necessidade solidária, Cuba não vacilou em assumir tal risco. Nossa conduta foi eticamente imaculada. Nunca pediremos desculpas a ninguém por aquilo que fizemos. O certo é que decorreu meio século e ainda estamos aqui, de cabeça erguida.
Eu gosto de escrever e escrevo; gosto de estudar e estudo. Há muitas tarefas na área dos conhecimentos. Nunca as ciências, por exemplo, avançaram a uma velocidade tão espantosa.
Deixei de publicar Reflexões porque, certamente, meu papel não é o de ocupar as páginas de nossa imprensa, consagrada a outras tarefas que requer o país.
Aves de mau agouro! Não recordo nem sequer o que é uma dor de cabeça. Como prova de quão mentirosos são, lhes deixo de presente as fotos que acompanham este artigo.
(Publicado originalmente no jornal Granma em 22/10/2012)

Foto Cynara Menezes
 Cynara Menezes - Blog Socialista Morena

                                                        A Folha em 1984      


Caí de amores pela Folha de S.Paulo aos 17 anos, em 1984, quando entrei na faculdade e o jornal apoiou a campanha pelas Diretas-Já. Até então, menina do interior da Bahia, não conhecia bem a grande imprensa. O jornal que estampava em sua primeira página o desejo de todos nós, brasileiros, de votar para presidente, me cativou. Como para vários da minha geração, trabalhar na Folha se tornou um sonho para mim.

E de fato trabalhei no jornal, entre idas e vindas, quase 10 anos. Tive espaço, ótimas oportunidades, conheci de perto figuras incríveis: Ulysses Guimarães, Darcy Ribeiro, Florestan Fernandes, Leonel Brizola, Lula. E principalmente: na Folha escrevi como quis –ninguém nunca mudou meu texto e jamais adicionaram nem uma frase sequer que eu não tenha apurado, ao contrário do que viveria nos oito meses que passei na Veja (leia aqui).
Em 2009 meu respeito pela Folha morreu. Naquele ano, o jornal publicou um artigo absolutamente execrável acusando Lula de ter tentado estuprar um companheiro de cela, um certo “menino do MEP” (antiga organização de esquerda), quando esteve preso, em 1980. Qualquer pessoa que lê o texto percebe que Lula fez uma brincadeira (de mau gosto, ok), mas o autor do artigo não só levou a sério, ou fez de conta que levou a sério, como convenceu o jornal a publicar aquele lixo.
Como eleitora de Lula, aquilo me incomodou. Por que nunca fizeram algo parecido com outro político? Por que o jornal jamais desceu tão baixo com ninguém? Apontar erros, incoerências, fazer oposição ao governo, vá lá. Dizer que Lula estuprou uma pessoa! Por favor. Me pareceu que alguém na direção do jornal estava sob surto psicótico ao permitir que algo assim fosse impresso. Vários amigos da Folha me confidenciaram vergonha e indignação com o texto.
Continuei a ler o jornal nestes últimos quatro anos mais por hábito do que por outra coisa. Quando veio o editorial em que a ditadura foi chamada de “ditabranda” não fiquei surpresa. Quando a Folha publicou a ficha falsa da candidata Dilma Rousseff no DOPS quando atuou na luta armada, tampouco. A minha própria ficha já tinha caído, lá atrás. O jornal a favor das Diretas-Já deixara de existir –ou será que nunca existiu? Afinal, antes disso a Folha havia apoiado o golpe militar. Terei eu caído num golpe –de marketing?
Nesta quinta, 24 de outubro de 2013, tomei a iniciativa de cancelar minha assinatura da Folha de S.Paulo. O jornal acaba de contratar dois dos maiores reacionários do País para serem seus “novos” colunistas. Não faz sentido, para mim, seguir assinando um jornal com o qual não tenho mais absolutamente nenhuma identificação. Pouco importa que minha saída não faça diferença para a Folha: é minha grana, trabalho para ganhá-la, não vou gastá-la em coisas que não valem a pena. O mundo não é capitalista? Pois não quero, com meu dinheiro, ajudar a pagar gente que me causa vontade de vomitar.

O mais triste é que, ao deixar de assinar a Folha, deixo também de ler jornais impressos. Nenhum deles me representa. Esta é literalmente uma página que viro, dá a sensação que perdi um amigo querido. Mas a vida é assim mesmo: às vezes amigos tomam rumos diferentes. Sem rancores.    

       

                                   
                                                                   


VITÓRIA DA DILMA: MERKEL SE UNE AO BRASIL contra os estados unidos     

Ataulfo, dá bye-bye ao caça da Boeing !
As televisões europeias, nesta noite de sexta-feira, deram destaque a essa decisão da Chanceler alemã, Angela Merkel:

http://www.usnews.com/news/articles/2013/10/25/germany-joins-brazil-seeking-un-action-against-spying
“A Alemanha se une ao Brasil (e não o contrário) para buscar na ONU uma ação contra a espionagem (dos Estados Unidos, embora as duas não mencionem os EUA – PHA)”

“35 lideres mundiais estão furiosos por saber que os Estados Unidos os espionam”

The diplomats plan to introduce the proposal for a vote in the U.N. General Assembly human rights committee later this year, Foreign Policy reports.
Os diplomatas pretendem levar a voto no comitê de direitos humanos da Assembleia Geral da ONU ainda este ano, diz a revista Foreign Policy.

Rousseff addressed the U.N. General Assembly in September criticizing the NSA and calling for the U.N. to establish legal regulations that would prevent abuses on the Internet, including international surveillance and violations of privacy. 

Rousseff se dirigiu à Assembleia Geral da ONU em Setembro, quando criticou a National Security Agency dos Estados Unidos e pediu à ONU para criar regras que evitem abusos na internet, o que inclui o grampo e violações de privacidade.

(Roberto Amaral, no Facebook Enquanto(os norte-americanos) construíam poderosas armas de guerra, para combater não sei quem, o Novo Brasil de Lula combatia a fome e a miséria. Como resultado, os pobres salvaram o Brasil da crise e os ricos quebraram a América.)                                                                                                           





           N A V A L H A


Navalha
Como o PiG (*) vai ignorar esse fato, cabe observar:
1) Merkel passou por cima dos europeus – especialmente do Hollande da França, seu vizinho e parceiro na criação da União Européia – e se aliou diretamente ao Brasil, à Dilma;
2) Merkel devolveu o primeiro-ministro inglês, o Cameron, à condição de poodle dos Estados Unidos, posição em que os ingleses, como o Renato Machado, preferem ficar, desde Churchill.
3) A aliança Rousseff-Merkel vai ajudar a votar o Marco legal da Internet, na próxima quarta-feira, com a guarda dos arquivos no Brasil – apesar da feroz resistência das empresas telefônicas (todas estrangeiras, graças ao Príncipe da Privataria ).
4) Bye-bye, caças da Boeing. A escolha dos caças se afunila entre a Rússia e a Franca (os suecos são laranja dos americanos). É claro que, antes de decidir, a Dilma vai consultar a Tucanhêde, sabidamente, a maior especialista brasileira em AR.
Paulo Henrique Amorim
 (*) Em nenhuma democracia séria do mundo, jornais conservadores, de baixa qualidade técnica e até sensacionalistas, e uma única rede de televisão têm a importância que têm no Brasil. Eles se transformaram num partido político – o PiG, Partido da Imprensa Golpista.

Washington em ação: O tempo é dos porta-aviões que virão intimidar       

publicado em 25 de outubro de 2013 

                                                  

                              
                                                   Adivinhe quem veio para o jantar?

Por que Washington não pode parar: a chegada da 

era das pequenas guerras e microconflitos               

Tradução Heloisa Villela                             
Em matéria de projeção pura de poder, nunca existiu nada assim. Sua força militar dividiu o mundo – o planeta todo – em seis “comandos”.
Sua frota, com 11 porta-aviões de grupos de combate, domina os mares e o faz sem desafios por quase sete décadas.
Sua Força Aérea domina os céus globais e apesar de estar em ação continuamente por anos, não enfrentou nenhum avião inimigo desde 1991 ou se viu diante de um desafio em algum lugar desde 1970.
Sua frota de drones se mostrou capaz de perseguir e matar inimigos suspeitos em cantos remotos do planeta, do Afeganistão e do Paquistão ao Iêmen e à Somália sem preocupação com fronteiras nacionais e sem a menor preocupação de ser derrubada.
Financiam e treinam exércitos substitutos em vários continentes e têm complexas relações de apoio e treinamento com exércitos por todo o planeta.
Em centenas de bases, algumas minúsculas e outras do tamanho de cidades norte-americanas, seus soldados montam guarda no planeta, da Itália à Austrália, de Honduras ao Afeganistão, e das ilhas de Okinawa, no Oceano Pacífico, a Diego Garcia, no Índico.
Seus fabricantes de armas são os mais avançados da Terra e dominam o mercado global.
Suas armas nucleares em silos, em bombardeiros e em sua frota de submarinos seriam capazes de destruir diversos planetas do tamanho da Terra.
Seu sistema de satélites espiões é imbatível, nem se pode desafiar. Seus serviços de espionagem podem ouvir conversas telefônicas ou ler e-mails de quase todo mundo, de líderes mundiais de destaque a insurgentes obscuros.
A CIA e suas forças paramilitares em expansão são capazes de sequestrar pessoas em qualquer lugar, do meio rural da Macedônia às ruas de Roma ou Trípoli.
Para vários de seus prisioneiros, foram montadas (e desmontadas) prisões secretas pelo planeta e em seus navios da Marinha.
Eles gastam mais com seus militares do que os próximos treze países do mundo somados.
Junte-se a isso os gastos com o estado de segurança nacional total, e o volume é bem maior do que o de qualquer grupo de nações.
Em matéria de poderio militar avançado e sem desafios, nunca houve nada como as forças armadas dos Estados Unidos, desde que os mongóis varreram a Eurásia.
Não é de espantar que os presidentes norte-americanos agora usem, regularmente, a frase “a melhor força que o mundo já conheceu” para descrevê-las.
Pela lógica da situação, o planeta deveria ser uma moleza para elas.
Nações menores, com forças bem mais comedidas, conseguiram no passado controlar vastos territórios.
E apesar de toda a discussão sobre o declínio norte-americano e a queda de sua força em um mundo “multipolar”, sua habilidade de pulverizar e destruir, matar e mutilar, explodir e bater só cresceu neste novo século.
Nenhuma outra força militar de outra nação chega perto. Nenhuma tem mais de um punhado de bases militares. Nenhuma tem mais de dois grupos de porta-aviões de guerra.
Nenhum inimigo potencial tem uma frota como essa de aviões-robôs. Nenhum país tem mais de 60 mil forças de operações especiais. País por país, não existe disputa.
O exército russo (um dia “vermelho”) é uma sombra do que já foi. Os europeus não se rearmaram significativamente. As forças de autodefesa do Japão são poderosas e estão crescendo lentamente, mas sob o guarda-chuva nuclear dos Estados Unidos.
Apesar de a China, regularmente identificada como o próximo estado imperial em ascensão, estar envolvida em um crescimento militar exibicionista, com seu único porta-aviões ainda é apenas um poder regional.
Apesar dessa chocante equação de poder global, por mais de uma década temos assistido a uma lição a respeito do que uma força militar, não importa o quão esmagadora, pode e (quase sempre) não pode fazer no século vinte e um.

A Máquina de Desestabilização

Vamos começar com o que os Estados Unidos podem fazer. Neste ponto os dados recentes são claros: eles podem destruir e desestabilizar.
Na verdade, em todo lugar que se aplicou a força militar dos Estados Unidos nos últimos anos, se houve algum efeito de longo prazo, foi para desestabilizar regiões inteiras.
Em 2004, quase um ano e meio depois que tropas norte-americanas invadiram Bagdá, saqueada e em chamas, Amr Mussa, líder da Liga Árabe, comentou profeticamente: “Os portões do inferno estão abertos no Iraque”.
Para o governo Bush, a situação naquele país já estava controlado e ninguém prestou atenção na descrição de Mussa, pareceu exagero,até ultrajante, quando aplicada à ocupação norte-americana no Iraque.
Hoje, com as estimativas científicas a respeito do assombroso número de mortes provocadas pela invasão e pela guerra, na casa dos 461 mil — e outros milhares que ainda estão morrendo todo ano — e com a Síria em chamas, parece até que a descrição foi incompleta.
Agora ficou claro que George W. Bush e seus principais assessores, fundamentalistas ferrenhos quando se trata do poder militar norte-americano e de sua capacidade de alterar, controlar e dominar o grande Oriente Médio (e possivelmente o planeta), lançaram uma transformação radical da região.
A invasão do Iraque cavou um buraco no coração do Oriente Médio, deflagrando uma guerra civil sunita-xiita que agora se espalhou catastroficamente para a Síria, matando mais de 100 mil pessoas por lá.
Bush e seus assessores ajudaram a transformar a região em um mar revolto de refugiados, deram vida e significado a uma antes inexistente Al-Qaeda no Iraque (e agora uma versão da mesma na Síria), e deixaram o país afundado em um mar de bombas improvisadas, terroristas suicidas e a ameaça, como em tantos outros países da região, de uma possibilidade de implosão territorial.
E isso é apenas um esboço conciso. Não importa se você está falando sobre a desestabilização do Afeganistão, onde as tropas norte-americanas estão há quase 12 anos; do Paquistão, onde a campanha aérea com drones, da CIA, nas comunidades da fronteira, é levada a cabo há anos, enquanto o país se torna mais e mais instável e violento; do Iêmen, onde a chamada Al-Qaeda na Península Árabe cresceu cada vez mais; ou da Somália, onde Washington deu apoio, repetidamente, a exércitos que treinou e financiou, enquanto um país já instável se desmantelou e a influência do al-Shabab, um grupo de insurgentes islâmicos cada vez mais radicais e violentos, começou a transbordar pelas fronteiras regionais.
O resultado tem sido sempre o mesmo: desestabilização.
Considere a Líbia, onde o presidente Obama, não mais interessado em intervenções com soldados em solo, enviou drones da força aérea em 2011, em uma intervenção sem sangue (a não ser, claro, se você estivesse no solo), que ajudou a derrubar Muamar Kadafi, o autocrata local e seu regime de polícia e prisões secretas, e deslanchou uma jovem democracia… opa, um momento, não foi bem assim.
Na verdade, o resultado, que incrivelmente foi uma surpresa para Washington, foi um país ainda mais danificado, com um governo central desesperadamente fraco, um território controlado por várias milícias — algumas de natureza islâmica extremista — insurgência e guerra no vizinho Mali (graças a um influxo de armas roubadas do vasto arsenal de Kadafi), um embaixador norte-americano morto, um país praticamente incapaz de exportar petróleo, e assim por diante.
A Líbia foi, de fato, tão desestabilizada, carece tanto de uma autoridade central, que Washington recentemente se sentiu à vontade para despachar forças de Operações Especiais às ruas da capital, em plena luz do dia, para uma operação de captura de um suspeito de terrorismo procurado há tempos, um ato que foi tão “bem sucedido” quanto a derrubada do regime de Kadafi e, de forma semelhante, contribuiu para a desestabilização ainda maior de um governo que Washington ainda apoiava em tese. (Quase imediatamente em seguida, o primeiro-ministro líbio se viu brevemente sequestrado por uma unidade de milícia, no que pode ter sido em parte tentativa de golpe).

Maravilhas do Mundo Moderno

Se o poder militar esmagador sob o comando de Washington pode desestabilizar regiões completas do planeta, o que então esse poder militar não pode fazer?
Nesse ponto, os fatos são claros e decisivos.
Como todas as ações militares significativas dos Estados Unidos neste século demonstraram, o uso da força militar, não importa em que formato, se provou incapaz de atingir até mesmo os objetivos mínimos de Washington.
Considere esta uma das maravilhas do mundo moderno: junte a tecnologia militar, derrame dinheiro sobre suas forças armadas, supere o resto do mundo, e nada disso faz com que o mundo se comporte de acordo com o que você quer.
Sim, no Iraque, para citar um exemplo, o regime de Saddam Hussein foi rapidamente “decapitado”, graças a uma demonstração de força esmagadora por parte dos invasores norte-americanos.
A burocracia estatal foi desmontada, o exército desbaratado e a autoridade de ocupação foi estabelecida com o apoio de tropas estrangeiras, logo instaladas em bases militares multibilionárias que tinham como objetivo permanecer por gerações. Um governo local “amigável” foi instalado.
E foi aí que os sonhos do governo Bush acabaram, nos destroços criados por um conjunto de minorias insurgentes mal armadas, em terrorismo e numa guerra civil étnico-religiosa brutal.
No fim, quase nove anos após a invasão e apesar do fato de o governo Obama e de o Pentágono estarem doidos para manter tropas estacionadas por lá de alguma maneira, um governo central relativamente fraco se recusou, e elas partiram, últimas representantes do maior poder do planeta sumindo na calada da noite.
Para trás ficaram as ruínas históricas, “cidades fantasma” e bases norte-americanas saqueadas que deveriam ser nossos monumentos no Iraque.
Hoje, sob circunstâncias ainda mais extraordinárias, um processo semelhante parece estar se desenrolando no Afeganistão – outro espetáculo do momento que deveria nos impressionar.
Após quase 12 anos lá, ao se ver incapaz de suprimir uma insurreição minoritária, Washington está pouco a pouco retirando as tropas de combate, mas quer deixar, nas bases gigantes que construímos, talvez 10 mil “instrutores” para os militares afegãos e algumas forças de Operações Especiais para continuar caçando membros da Al-Qaeda e outros ditos terroristas.
Para a única superpotência do planeta, tudo isso deveria ser uma moleza.
Ao menos o governo do Iraque tinha alguma força própria (e a riqueza do petróleo para lhe dar apoio). Se existe um governo na Terra que se qualifica como “marionete”, deve ser o do Afeganistão, com o presidente Hamid Karzai.
Afinal, ao menos 80% (talvez 90%) das despesas do governo são cobertas pelos Estados Unidos e seus aliados, e suas forças de segurança são consideradas incapazes de lutar contra o Talibã e outros insurgentes sem o apoio e o dinheiro dos Estados Unidos.
Se Washington saísse totalmente (incluindo aí o apoio financeiro), é difícil imaginar que um sucessor do Karzai sobrevivesse muito tempo.
Como, então, explicar o fato de Karzai ter se recusado a assinar um acordo futuro, de longo prazo, de segurança bilateral. enquanto ele era escrito?
Ao contrário, recentemente ele condenou ações dos Estados Unidos no Afeganistão, como fez várias vezes no passado, e disse que simplesmente não assinaria o acordo, e começou a negociar com os representantes dos Estados Unidos como se ele fosse o líder da outra superpotência do planeta.
Washington, frustrada, teve que despachar o secretário de Estado John Kerry em uma missão de última hora a Cabul para negociações de alto nível, cara-a-cara.
O resultado, anunciado após uma maratona de 24 horas de conversações e encontros, foi apresentado como um sucesso: problema(s) resolvido. Opa! Todos menos um.
Como ficou claro, foi exatamente o mesmo em que a presença militar norte-americana no Iraque tropeçou – a exigência de Washington de imunidade legal para as tropas norte-americanas que permanecerem no Afeganistão.
No fim, Kerry embarcou de volta sem garantia de um acordo.

Entendendo a Guerra no século 21

Se a presença militar americana sobreviverá ou não mais alguns anos no Afeganistão, o fato concreto é: o presidente de um dos países mais pobres e fracos do planeta, ele mesmo relativamente sem poder, está essencialmente ditando as regras a Washington – e quem pode dizer se, no fim, como aconteceu no Iraque, as tropas norte-americanas não terão de sair de lá também?
Mais uma vez, a força militar não sai ganhando.
Ainda assim, o poderio militar, as armas avançadas, a força e a destruição como armas de política, como formas de criar um mundo à sua imagem ou ao seu gosto, funcionaram muito bem no passado.
Pergunte aos mongóis, ou aos poderes imperiais da Europa, da Espanha no século XVI aos britânicos no século XIX, que forjaram seus impérios à força com sucesso e os mantiveram por longos períodos.
Em que planeta vivemos agora? Por que este poder militar, o mais forte já imaginado, não pode vencer, pacificar ou simplesmente destruir poderes fracos, movimentos insurgentes nada impressionantes, ou grupos esfarrapados (quase sempre tribais) de pessoas que rotulamos de “terroristas”?
Por que esse poder militar não é mais transformador ou ao menos razoavelmente eficaz?
Isso é, para buscar uma analogia, como os antibióticos? Se usados por muito tempo, em muitas situações, um tipo de imunidade acaba se desenvolvendo contra eles.
Sejamos claros: essa força militar ainda é um instrumento potencial poderoso de destruição, morte e desestabilização.
Por tudo que sabemos – não é algo que tenhamos visto nos últimos anos – ele pode também ser um instrumento poderoso para a defesa genuína.
Mas, se a história recente serve de guia, o que essa força militar não pode ser no século 21 é um instrumento de policiamento, um meio de alterar o mundo para se adequar a um modelo de desenvolvimento de Washington.
O planeta e as pessoas de toda parte parecem mais e mais resistentes, de forma que a opção militar fica fora da mesa como instrumento efetivo da superpotência.
Os planos militares de Washington e as táticas usadas desde o 11 de setembro têm sido particularmente desastrosos.
Quando você olha para trás, a doutrina da contrainsurgência, ressuscitada das cinzas da derrota norte-americana no Vietnã, está de volta à lata de lixo da História. (Quem ainda hoje se lembra do seu slogan “limpar, assegurar e construir”, que agora parece a frase final de uma piada ruim?)
“Surge” (aumento repentino de tropas), uma vez considerada estratégia militar brilhante, desapareceu na neblina. “Nation building”, termo que foi muito usado em Washington, hoje é execrado. “Botas em solo”, das quais os Estados Unidos tinham um número enorme e ainda têm 51 mil no Afeganistão, agora ninguém quer.
O público norte-americano está, e universalmente todo mundo concorda, “exausto” de guerras.
Grandes forças norte-americanas desembarcando para lutar em algum lugar da Eurásia no futuro próximo? Não conte com isso.
Mas lições foram aprendidas com o colapso da política de guerra? Também não conte com isso.
É bastante claro que Washington ainda não absorveu completamente o que aconteceu.
Sua crença na guerra continua incrivelmente intacta em um século no qual o poder militar tornou a politica norte-americana equivalente à de um estado religioso.
Nossos líderes ainda dão muito crédito às guerras antiterroristas do futuro, mesmo quando se afogam em seus esforços militares do presente.
Eles ainda desejam ressuscitar uma solução militar aplicável.
Agora a mensagem é: evite essa quantidade de botas – na verdade, reduza o número de soldados em tempos de cortes do Orçamento – e adote o pacote antiterrorismo.
Nada mais de derramar sangue (norte-americano). Pegue os “homens maus”, um ou uns poucos de cada vez, usando o exército privado do presidente, as forças de Operações Especiais, ou sua força aérea privada, os drones da CIA.
Construa novas micro-bases globalmente. Desloque esses porta-aviões de combate para a costa de qualquer país que você queira intimidar.
Está claro que estamos em um novo período em termos da produção de guerra norte-americana. Chame-a da era das miniguerras, ou microconflitos, especialmente nas áreas tribais do planeta.
Então algo realmente está mudando em resposta às derrotas militares, mas o que não está mudando é a preferência de Washington por guerras escolhidas. O que não está mudando é o pensamento de que , se você ajustar suas táticas e estratégias corretamente, a força funcionará. (Recentemente, Washington se salvou de mergulhar em outro previsível desastre miliar na Síria por um comentário improvisado do secretário de Estado John Kerry e pela intervenção oportuna do presidente russo Vladimir Putin.)
O que nossos líderes não entendem é o fato mais básico e prático do momento: a guerra simplesmente não funciona, não a grande nem a micro – não para Washington.
Uma superpotência em guerra em locais distantes do planeta não é mais uma superpotência em ascensão, mas com problemas.
A força militar norte-americana pode ser uma máquina de desestabilização. Mas ela certamente não é uma máquina para impor e fazer cumprir políticas.

O resultado do Ibope

e o Brasil teimoso       

O resultado do Ibope vai intensificar o alarido conservador que já ganhava contornos de uma operação de vida ou morte nos últimos meses.

Saul Leblon                                                                                            CartaMaior



O resultado do Ibope desta 5ª feira(23) vai intensificar o alarido conservador que já ganhava contornos de uma operação de vida ou morte nos últimos meses.

A um ano do pleito, é cedo para quem pode comemorar a perspectiva de vitória incondicional no 1º turno, como mostram as pesquisas.


Mas o cedo para a cautela é tarde para o desespero de quem uiva e ruge mas não avança.

Patina.

E vê a perspectiva da reeleição crescer  com consistência, sem dispor sequer de um nome definido para afrontá-la. Quanto mais de um projeto crível.

A operação ‘vale tudo’, velha conhecida de outros pleitos, está de volta.

Desta vez, com requintes de decibéis.

Sintomático, em primeiro lugar, é que nenhum espaço seja poupado na arregimentação de um poder de fogo que parece não ter mais nada a perder.

Tome-se o jornal Valor Econômico, uma sociedade entre os Frias e Marinhos.

O diário nunca ocultou  a natureza de um veículo feito para o  mercado.

Pautado por eficiente carpintaria informativa, indisponível nos demais noticiosos da mesma cepa, tornar-se-ia uma ilha de credibilidade no oceano ardiloso da chamada grande imprensa.

Não é mais assim. Infelizmente.

Desde que ficou clara a exaustão do linchamento petista na embutida operação AP 470, o jornalismo do Valor foi convocado a desembainhar armas.

A frequência com que o verbo ‘surpreendeu’  passou a frequentar suas manchetes é inversamente proporcional ao acerto da recorrente extrema unção ministrada  à economia brasileira em suas páginas.

Se não for hoje, de amanhã não escapa.

É o que resmungam os textos às seguidas contrariedades de indicadores cujo resultado ‘surpreendeu os mercados’, dizem as manchetes desenxabidas.

O jornalismo  novo-cristão do Valor foi o endereço do recado duro desfechado pela Presidenta Dilma Rousseff  contra a manipulação informativa  sobre o modelo de partilha, adotado na exploração do pré-sal brasileiro.

A segunda-feira (21/10) seria decisiva para o teste desse protocolo. Um fiasco no leilão de Libra poderia colocar tudo a perder .

Ademais de oferecer a retroescavadeira ansiada pela oposição e pelas petroleiras internacionais para enterrar o futuro da regulação do pré-sal, poderia sepultar junto o projeto de reeleição do governo Dilma.

Manchete garrafal na edição do Valor endereçada aos investidores horas antes do certame:

‘Modelo de Libra deve ser revisto’

Ora, se eu cogito investir bilhões num negócio com prazo de validade inferior ao de um pote de iogurte, melhor recuar. Melhor esperar as condições mais favoráveis aos ‘mercados’, veiculadas pelo Valor a partir de abalizadas inconfidências  de ‘fontes do Planalto’.

 ‘Não atribuam a nós uma dúvida que não existe no governo (assumam). Quem são essas fontes, por que não se mostram’, fuzilou a Presidenta depois do sucesso do leilão, que consolidaria um núcleo estatal, com 60% do consórcio (Petrobras, mais as chinesas), mas incluiria também as imprevistas (inclusive por Carta Maior) adesões da Shell e da Total, com os restantes 40%.

O episódio magnifica uma rotina que será intensificada em espirais ascendentes até a urna de 2014.

O conservadorismo pressente que a alavanca política na qual já apostou a eleição de 2006 – o dito ‘mensalão’— não lhe dará, de novo, o passaporte da volta ao poder.

As baterias  se voltam, assim,  para a trincheira econômica, de onde se vislumbra um flanco histórico para ressuscitar a velha e boa receita do lacto purga ortodoxo contra os males do país.

Existe algum chão firme nesse propósito.

O Brasil vive, de fato, uma transição de ciclo econômico. Como a viveu em 30, em 50, em 60 e em 2002.

Decisões estruturais são cobradas para pavimentar o passo seguinte do seu desenvolvimento.

Não há receita pronta; tampouco as  pedras do jogo podem ser alinhadas em uma palheta bicolor.

Quem reduz a luta pelo desenvolvimento às escolhas binárias acredita no fabulário clássico que trata a economia política como ciência exata.
   
O Brasil é o desmentido eloquente desse charlatanismo.

Nos últimos doze anos, o país não fez tudo o que poderia ter feito.

Mas ampliou o investimento social do Estado; recuperou o poder de compra popular; gerou um novo ator político composto de 60 milhões de pessoas que ascenderam ao mercado de massa; retomou o papel indutor do setor público na economia; reservou entre 70% a 80% da renda da maior descoberta de petróleo do século 21 a uma redistribuição social capaz de redimir a escola pública e a saúde; afrontou a lógica da Nafta em busca de uma nova ordem internacional; fortaleceu a agenda progressista latino-americana.

Avançou.

Mas o país ainda flutua no leito de uma travessia inconclusa. 

Carece, agora, de um salto de investimentos  que lhe forneça os trilhos, a coerência e a base sustentável à nova engrenagem em construção.

O Brasil tem no pré-sal  um poderoso vetor desse processo, capaz, ademais, de renovar sua planta  fabril estiolada em décadas de crise externa e desequilíbrio cambial.

Os encadeamentos intrínsecos  ao modelo de partilha destinam ao mercado doméstico brasileiro ao menos 50% dos R$ 200 bilhões em encomendas de equipamentos e serviços requisitados apenas no caso de Libra.

Os oligopólios mundiais cobiçam o apetite brasileiro.

Num planeta cujo principal problema é justamente a falta de demanda para sair da crise, há uma Nação que adicionou 60 milhões de consumidores à fila do caixa; tem plano de aceleração do crescimento que inclui 17 mil kms de estradas e ferrovias, ademais da construção simultânea de portos, aeroportos e hidrelétricas e, por fim, dispõe de 100 bilhões de barris de petróleo no fundo do mar. E sabe extraí-los de lá.

Não é pouco.

A chance de abocanhar mais do que interessa ao país ceder, pressupõe ganhar uma guerra: a guerra das expectativas.

O pulo do gato consiste em fazer o Brasil desacreditar da capacidade de comandar o seu próprio destino.

A isso se dedica com redobrada contundência o noticioso econômico nos dias que correm.

O episódio protagonizado pelo Valor é apenas a ilustração sôfrega do que vem pela frente.

Os exemplo  se avolumam.

O desemprego em setembro oscilou de 5,3% para 5,4%, em relação a agosto.
Uma diferença de 0,1%.

Foi o melhor setembro do mercado de trabalho desde 2002, diz o IBGE.

A renda real do trabalhador  cresceu 0,9% no mês e a  indústria liderou a criação de vagas: 68 mil novos empregos.

Manchete garrafal no site de O Globo na manhã desta 5ª feira: ‘Taxa de desemprego sobe para 5,4% ‘.

Não é um ponto fora da curva.

A Folha’ esquenta as turbinas para 2014 oferecendo sua manchete principal no mesmo dia  a ressuscitar as missões do FMI.

Aquelas que faziam furor em suas visitas imperais a um Brasil endividado e genuflexo.

O diário dos  Frias recorre à desacreditada gororoba  do diagnóstico fiscal do Fundo na tentativa de ofuscar a vitória do governo no leilão de Libra.

O Fundo aleijou a Europa com a mesma receita endossada aqui pela manchete da Folha.

A ponto de a Espanha hoje ter um déficit fiscal que é quase o dobro daquele anterior à crise.

A austeridade ministrada decepou a receita do governo.

A recessão autossustentável fez o resto.

Há seis milhões de desempregados no país (26% da força de trabalho).

O principal jornal espanhol, El Pais, criou  um espaço fixo para contar histórias da grande diáspora da juventude da Espanha, em busca daquilo que a austeridade lhe subtraiu: emprego, esperança e razão de viver.

O conservadorismo sabe as consequências do que busca.

Elas são funcionais ao jogo de quem considera que para um país ir adiante, é preciso fazer o seu povo andar para trás.

É  um velho divisor da política nacional.

Convém estar atento aos campos que  ele delimita, para além das aparências e divergências pontuais.

Nos anos 50, um pedaço das forças progressistas só foi perceber o seu lado quando o povo já estava nas ruas apedrejando os carros do jornal O Globo.

Getúlio, isolado pela esquerda e esmagado pela direita, dera um cavalo de pau na história com um único tiro.

Que até hoje alerta para o conflito de interesses intrínseco à luta pelo desenvolvimento brasileiro.