sábado, 31 de maio de 2014

O justiceiro

André Singer (*)                    

Ao renunciar de repente à presidência e à condição de ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Joaquim Barbosa atrai outra vez os holofotes para si. Se quisesse, de fato, tranquilidade para assistir aos jogos da Copa, como disse, teria maneiras mais eficientes de obtê-la. O gesto o coloca no primeiro plano do noticiário.

O último ato de Barbosa, 15 dias antes de anunciar que deixaria o cargo na corte, havia sido o de proibir que os condenados do mensalão trabalhassem fora. A controvertida decisão autocrática do comandante da ação penal 470 deveria ir a plenário logo e, a julgar pelo que ocorreu no tema da formação de quadrilha, seria revogada pela maioria dos seus pares.

É possível que, ante a probabilidade de ser derrotado nos próximos dias, o que empanaria a imagem que se esmerou em construir, Barbosa, que já havia deixado transparecer vir pensando em abandonar o STF, tenha achado por bem apressar a iniciativa. Deixa fixada, assim, a aura de justiceiro, aquele que efetivamente conseguiu colocar na prisão gente poderosa, algo que constava como impossibilidade no imaginário desta nação tão desigual. O que for feito depois não será mais responsabilidade dele.

Infelizmente nada indica que a verdadeira cruzada movida por Barbosa para levar à cadeia líderes do PT seja mais do que isso: um caso de endurecimento judicial que recaiu apenas sobre um dos times do campeonato político nacional. Onde estão os acusados do mensalão do PSDB? Quem aplicará às denúncias que envolvem o Metrô de São Paulo a mesma sanha punitiva vista na ação penal 470? Não está a Operação Lava Jato a mostrar que os métodos de financiamento da política continuaram intactos depois do processo do mensalão? Barbosa não deveria permanecer na ativa se quisesse, de fato, equilibrar o jogo?

Ainda que divergindo quanto ao mérito, convém reconhecer a força pessoal do ex-promotor na condução do rumoroso julgamento do mensalão. Embora obviamente favorecido por um enorme apoio da direita e por uma cobertura de mídia mais do que simpática a condenações fortes, o relator mostrou capacidade de dirigir os trabalhos e, até que houvesse a recomposição recente, a maioria dos colegas para a conclusão exemplar que defendia.

O fato de ser um homem de origem humilde, o primeiro negro a ocupar um lugar no STF, ainda por cima escolhido por Lula, legitima Joaquim no papel daquele que veio para instaurar a igualdade perante a lei, aspiração do povo há pelo menos 200 anos. Numa inversão bem brasileira, ele o fez contra a esquerda, que nunca havia estado no poder. Em virtude de incríveis acasos históricos, resulta, por isso, em sério candidato à liderança do conservadorismo popular que existe por aqui.
avsinger@usp.br 



andré singer
André Singer é cientista político e professor da USP, onde se formou em ciências sociais e jornalismo. Foi porta-voz e secretário de Imprensa da Presidência no governo Lula.
SEM PESSIMISMO

'Vamos gostar deste país!',


responde Lula à torcida


contra o sucesso do Brasil

Ex-presidente concede entrevista à revista Carta Capital em que fala de Mundial, protestos, eleições e a relação com as elites econômicas. Democratização da comunicação volta a ser tema central
                                                               
REPRODUÇÃO
lulamino
Ex-presidente durante entrevista: mídia nativa tem 'predisposição ao negativismo'
São Paulo – O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva concedeu entrevista exclusiva à edição desta sexta-feira (30) da revista Carta Capital, em que voltou a defender a realização da Copa do Mundo no Brasil e o otimismo da população em relação ao país. Ao mesmo tempo, o ex-presidente defende a realização dos protestos antes e durante o torneio de futebol, e vê neles o resultado da melhoria das condições de vida no Brasil na última década: "Quem comia acém, passou a comer contrafilé e agora quer filé", explica, com as analogias comuns em seu discurso.
"Ainda há pouco tempo, a gente não esperava que pudessem acontecer manifestações. E é plenamente aceitável dentro do processo de consolidação democrática que vive o Brasil. Eu acho que, ao realizar a Copa, o governo assumiu o compromisso de garantir o bem-estar e a segurança dos brasileiros e torcedores estrangeiros. Quem quiser fazer passeata que faça, quem quiser levantar faixa, que levante, mas é importante saber que, assim como alguém tem o direito de protestar, o cidadão que comprou ingresso e quer ir ver a Copa tenha a garantia de assistir aos jogos em perfeita paz", disse Lula.
Sobre o desequilíbrio do noticiário da mídia tradicional e o "mau humor" que tomou uma parte da população a partir dos protestos de junho de 2013, Lula apontou para a forma como se atende aos desejos de uma parcela da elite que tenta "negar a política". "Há uma predisposição ao negativismo, e isso contribui para a desinformação da sociedade brasileira", avalia Lula. "Interessa a uma parte da elite brasileira a negação da política. O que vem depois é sempre pior, quando você nega a política", completa, em um segundo momento.
A íntegra da entrevista está na edição de Carta ( AQUI) Capital que chega hoje às bancas. Nela, Lula fala ainda da campanha pela reeleição de Dilma, da acomodação do PT e da necessidade de revigorar o partido e da necessidade de o governo melhorar sua comunicação com a sociedade brasileira e com os investidores estrangeiros. Confira, abaixo, trecho em vídeo da entrevista a Mino Carta e Luiz Gonzaga Belluzzo.

PIB   AJUDA    A reELEGER  DILMA

                           cONVERSA AFIADA


 Saiu no Muda Mais, esse site que a Fel-lha (*) (não chegue perto por causa do mau hálito, oriundo da bílis) está louca pra descobrir de quem é:

O PIB BRASILEIRO CONTINUA CRESCENDO



Para desespero dos pessimistas de plantão, o Produto Interno Bruto (PIB) continua crescendo. Teve variação positiva de 0,2% no primeiro trimestre do ano e chegou a R$ 1,2 trilhão. O ministro da Fazenda, Guido Mantega,  declarou que a economia brasileira mostra sinais de aquecimento e que os resultados no próximo trimestre serão ainda mais promissores.

De acordo com os dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a Agropecuária cresceu 3,6% e os Serviços 0,4% em relação ao quarto trimestre de 2013.  Em relação a igual período em 2013, o PIB cresceu 1,9%, com todos os setores registrando resultados positivos. 

Entre os números que mostram que a economia brasileira está em um ritmo melhor, o ministro destacou a queda na inflação nesse segundo trimestre, que deverá estimular o aumento do consumo por parte das famílias. Quanto à inadimplência, hoje está em um dos menores patamares, em 3%. Para o ministro, Isso cria condições para a volta da oferta de crédito para o financiamento e, consequentemente, para o consumo.

Outro fator positivo: o crescimento da massa salarial. Em 12 meses ficou acima de 4%, destacou Mantega em entrevista coletiva em São Paulo. Além disso, a confiança do setor externo no Brasil melhorou. “Prova disso é a retomada dos investimentos”.

Para completar, o IBGE ainda reviu, para cima, o PIB de 2013, O crescimento econômico no passado foi de 2,5% e não de 2,3% como divulgado anteriormente pelo Instituto.


E para quem ainda quer fazer acreditar que sediar o Mundial será ruim para a economia do país, má notícia. A Copa do Mundo é boa sim, também para a economia. Deverá estimular principalmente o setor de serviços. O ministro explicou que o comércio está bastante aquecido e a chegada de turistas às cidades-sede vai aumentar muito o consumo.



Navalha
Quando o eleitor votar em outubro, a renda dele terá crescido, ele terá emprego, paga as contas em dia, comprou um carro, mandou filho para a faculdade ou para o Pronatec e, se abrir a janela e olhar lá para fora, vai ver que a economia brasileira está melhor que a americana, a inglesa, a francesa, a italiana, a espanhola e a alemã – só para dar exemplo das metropoles em que os colonistas (**) colonizados pensam que são bem recebidos.
(Como diz o Conversa Afiada, o pessoal do Manhattan Connection, que governa o Brasil e o mundo da GloboNews, quando desce o elevador e chega ao térreo, em Nova York, volta a ser um latino igualzinho a milhões de outros que moram por ali.)
Eleitor não vota com PIB.
Nem como colonista.
​Como diz o Lula, a Dilma tem 99,9% de chances de se reeleger.
Se não tivesse, o PMDB tinha aderido ao Arrocho …
E o Dudu, aquele que o Janio de Freitas conhece como ninguém, e o Dudu, que achava que o Brasil ia quebrar e os cacos iam cair no cesto dele ?
Na hora da eleição, o emprego estará em 5%, o PIB anualizada acima de 2% – e a audiência do jn, depois da Copa, na casa dos dez …
(Paulo Henrique Amorim)
(*) Folha é um jornal que não se deve deixar a avó ler, porque publica palavrões. Além disso, Folha é aquele jornal que entrevista Daniel Dantas DEPOIS de condenado e pergunta o que ele achou da investigação; da “ditabranda”; da ficha falsa da Dilma; que veste FHC com o manto de “bom caráter”, porque, depois de 18 anos, reconheceu um filho; que matou o Tuma e depois o ressuscitou; e que é o que é, porque o dono é o que é; nos anos militares, a Folha emprestava carros de reportagem aos torturadores. 

(**) Não tem nada a ver com cólon. São os colonistas do PiG que combateram na milícia para derrubar o presidente Lula e, depois, a presidenta Dilma. E assim se comportarão sempre que um presidente no Brasil, no mundo e na Galáxia tiver origem no trabalho e, não, no capital. O Mino Carta costuma dizer que o Brasil é o único lugar do mundo em que jornalista chama patrão de colega. É esse pessoal aí.

Dilma chama oposição para o debate: ‘Querem ganhar na marra’

31/5/2014  16:45
Por Redação - de Belo Horizonte        

Dilma elevou o tom contra o pessimismo que a oposição vem pregando na economia
Dilma elevou o tom contra o pessimismo que a oposição vem pregando na economia
A presidenta Dilma Rousseff elevou a temperatura da pré-campanha eleitoral, em sua visita a Belo Horizonte. Na noite passada, sem nominar o pré-candidato do PSDB à Presidência da República, Aécio Neves, ela alertou que o tucano quer trazer de volta um “figurino neoliberal” e um modelo que, segundo ela, “já fracassou”. Em encontro do diretório do PT de Minas Gerais, Estado governado por Aécio por oito anos, Dilma afirmou, ainda, que os adversários querem “trazer de volta a recessão” e afirmou que os tucanos “nunca se interessaram” por questões sociais.
– Tem candidato dizendo, por exemplo, que quer ser eleito para aplicar medidas impopulares, que não tem medo da opinião pública, que está se lixando para a reação que pode provocar essas medidas e que vai derrubar qualquer barreira para impor o seu figurino neoliberal. Eles querem trazer de volta um modelo que já fracassou. A partir daqui, de Minas Gerais, querem trazer de volta a recessão, o desemprego, o arrocho salarial, o aumento da desigualdade e o aumento da submissão que o Brasil tinha no passado ao Fundo Monetário, por exemplo – disse a presidenta, em referência clara às declarações recentes de Aécio de que estaria disposto a adotar “medidas impopulares” se eleito, caso fosse necessário.
Dilma, durante o encontro que serviu para confirmar a pré-candidatura do petista Fernando Pimentel ao governo do Estado, também fez referência à proposta aprovada nesta semana pela Comissão de Assuntos Sociais do Senado (CAS), de autoria do presidenciável tucano, que estende o benefício do Bolsa Família por até seis meses no caso do beneficiário aumentar sua renda em decorrência de atividade profissional ou econômica. A proposta foi duramente criticada pelo governo, que entende que ela desfigura o Bolsa Família ao retirar limites de renda e de tempo de permanência no programa.
– Nós temos de proteger o nosso projeto do assanhamento de um pessoal que, de quatro em quatro anos, sempre acredita que, finalmente, eles vão ter hora e vez. Hora e vez e a oportunidade de enganar o povo de novo. Hoje eles estão tentando aparecer como grandes defensores do Bolsa Família, quando a gente lembra que chamavam o Bolsa Família de Bolsa Esmola. Nunca foram a favor das políticas, sempre acharam que fazer política social era jogar o dinheiro pela janela – detonou.
Em tom confiante, Dilma previu sua vitória na campanha pela reeleição.
– Eles querem ganhar na marra. Vão descobrir pela quarta vez que nós e o povo brasileiro não nos deixamos enganar – disse, referindo-se às duas vitórias de Lula (em 2002 e 2006) e ao seu próprio triunfo sobre os tucanos em 2010.
Em seu discurso, Dilma também criticou aqueles que pretendem torcer contra a seleção brasileira, lembrando que, quando foi presa pelo regime militar, era ano de Copa do Mundo e ela, “de cabeça erguida”, torceu pela seleção brasileira “porque ela é do povo brasileiro”.
– Hoje em plena democracia, não torcer pela seleção brasileira é de uma sem-cerimônia incrível. É simplesmente não ser capaz de ter orgulho do seu país. É ter um imenso complexo de vira-lata – concluiu.

Eleitor à deriva


A maioria dos brasileiros está satisfeita, mas por que os números das pesquisas ameaçam a reeleição de Dilma?
Mauricio Dias                    Carta Capital
                                                                                                                                                                              Roberto Stuckert Filho/PR
Dilma
A Presidenta Dilma Rousseff durante declaração a imprensa na VII Cúpula Brasil-União Europeia
E a mídia e os intérpretes das sondagens de intenção de voto contornaram de mansinho uma explicação da recente pesquisa Ibope. Ela pode ajudar a decifrar o comportamento dos eleitores nesse momento. A quatro meses da disputa presidencial a intenção eleitoral do entrevistado abre um contraste de difícil interpretação.
Ao responder à pergunta – “como se sente com relação à vida que vem levando hoje?” – uma ampla maioria dos entrevistados respondeu de forma categórica estar muito satisfeita (9%) ou satisfeita (71%) em oposição a uma minoria (17%) de insatisfeitos ou muito insatisfeitos (3%).
Qual a explicação? A satisfação e a insatisfação, maior ou menor de uns e outros, não existem apenas pelo prazer ou pelo desgosto de viver. Há fatores circunstanciais como o amor e o desemprego, fundamentais à vida. Embora não sejam os únicos.
Independentemente do nível de escolaridade e a renda familiar , os eleitores aparecem em igual sintonia. Segundo a pesquisa, o grupo daqueles que se declaram satisfeitos varia de 67%, com os entrevistados da 5ª à 8ª série do ensino fundamental, a 75% de satisfação entre os integrantes do ensino superior.
A mesma aproximação ocorre no mundo dos insatisfeitos e dos muito insatisfeitos. A renda familiar e o nível de ensino praticamente não os distingue na resposta. Juntos, formam uma média de 3% de eleitores. Ou seja, entre a base e o topo da pirâmide social há respostas iguais.
Há, porém, um abismo brutal no comportamento desses dois grupos na cabine eleitoral. O voto os separa.
Que relação existirá entre a manifestação de satisfação ou insatisfação e a resposta à pergunta sobre a aprovação ou a desaprovação “da maneira como Dilma vem administrando o País?”

A pirâmide dividida em classes dá resposta a isso. No topo dela há uma desaprovação de 56%, contra 38% de aprovação. Na base, a desaprovação cai para 26% e a aprovação dá um salto e alcança 69%. Na renda familiar, esse afastamento se repete. Do alto da pirâmide 59% contemplam a administração de Dilma e a desaprovam. Na base, a aprovação é de 60%. Ou seja, reação de igual intensidade em sentido inverso, sentenciaria Newton, aplicando uma lei de física à regra eleitoral.
Um desfecho importante para esse contraste vem da pergunta sobre o interesse pelas eleições manifestado agora. Há 41% dos que se consideram com “muito interesse” e “interesse médio”. Surpreende a manifestação de “pouco interesse” e “nenhum interesse”: 57%.
Os eleitores potenciais de Dilma, os mais pobres, avaliados pela escolaridade e pela renda, ainda se mantêm, em grande número, distantes do processo eleitoral. Portanto, a oposição deve ser comedida ao comemorar uma eleição de dois turnos.


Desculpe, professor. É 

decente demais para não 

ser divulgado…


Fernando Brito      
nilsonlage
Não costumo fazer isso.
Muito menos sem a autorização do autor.
Mas, como ele publicou na sua página do Facebook, penso não estar quebrando a discrição.
Até porque ele tem muitos a acompanhá-lo, como professor que foi de várias gerações de jornalistas.
Fui um destes privilegiados.
Nílson Lage é um nome que, no meio acadêmico e profissional, mesmo que ele a recuse, provoca uma atitude reverencial.
Há mais de 50 anos largou um curso de Medicina para entregar-se à paixão de mais de meio século pelo Jornalismo.
É para fazer muita gente, me perdoem a expressão gaúcha, se enfiar no cu de um burro.
Um depoimento
Nílson Lage. no Facebook
Meu pai carregava sacos de cimento.
Estudei em grupo escolar.
Fiz o ginásio e o científico (segundo grau) no Colégio Militar do Rio de Janeiro.
Cursei duas graduações, na Uerj e na UFRJ.
Fiz mestrado e doutorado.
Jamais paguei um tostão para estudar.
Editei jornais, dirigi redações.
Não compactuei com a ditadura nem escrevi nada de que me arrependa.
Fiz carreira acadêmica sempre por concurso.
Jamais tive padrinho.
Organizei concursos públicos também, nenhum deles fraudado.
Estou velho. Conheço o mundo. Há corrupção em toda parte.
Mas sei que não teria em outra parte as oportunidades que tive.
E não terão em outras partes as oportunidades que têm
Vejo gente reclamando, mas as ruas estão entupidas de carros novos, os aeroportos têm mais movimento do que nunca. No Facebook, anunciam apartamentos em Miami e em Paris.
Os pobres estão menos pobres, agora. Espalham-se as universidades. Que bom!
Quem insulta o Brasil, minha pátria, me insulta. O mínimo que posso fazer, aqui, é bloquear o canalha.
Hoje já bloqueei dois.
PS. Se o professor tiver o infortúnio de ler este blog, sei que vou tomar uma bronca por este “decente demais” do título. Ele rapidamente corrigiria: decente é ou não é, é feito gravidez, não tem “mais ou menos” grávida. Desculpe aí, mestre, vai ficar, tá?

sexta-feira, 30 de maio de 2014

Os órfãos de Joaquim Barbosa

Órfão da toga justiceira, Aécio Neves tenta vestir uma fantasia de justiceiro social, esgarçada pela estreiteza dos interesses que representa.

Saul Leblon 

STF
Joaquim Barbosa deixa a cena política como um farrapo do personagem desfrutável que se ofereceu um dia ao conservadorismo brasileiro.

Na verdade, não era  mais funcional ter a legenda política associada a ele.

Sua permanência à frente do STF  tornara-se insustentável.

Vinte e quatro horas antes de comunicar a aposentadoria,  já era identificado pelo Procurador Geral da República, Rodrigo Janot, como um fator de insegurança jurídica para o país.

A OAB o rechaçava.

O mundo jurídico manifestava constrangimento diante da incontinência autoritária.

A colérica desenvoltura com que transgredia  a fronteira que separa o sentimento de  vingança e ódio da ideia de justiça, inquietava os grandes nomes do Direito.

Havia um déspota sob a toga que presidia a Suprema Corte do país.

E ele não hesitava em implodir o alicerce da equidistância republicana que  confere à Justiça o consentimento legal,  a distingui-la dos linchamentos falangistas.

O obscurantismo vira ali, originalmente, o cavalo receptivo a um enxerto capaz de atalhar o acesso a um poder que sistematicamente lhe fora negado pelas urnas. 
Barbosa retribuía a ração de holofotes e bajulações mercadejando ações cuidadosamente dirigidas ao desfrute da propaganda conservadora.

Na indisfarçada  perseguição a José Dirceu, atropelou decisão de seus pares pondo em risco  um sistema prisional em que 77 mil sentenciados desfrutam o mesmo semiaberto subtraído ao ex-ministro.

Desde o início do julgamento da AP 470  deixaria  nítido o propósito de atropelar o rito, as provas e os autos, em sintonia escabrosa com a sofreguidão midiática.

Seu desabusado comportamento exalava o enfado de quem já havia sentenciado os réus  à revelia dos autos, como se viu depois,  sendo-lhe  maçante e ostensivamente desagradável submeter-se aos procedimentos do Estado de Direito.

O artificioso recurso do domínio do fato, evocado como uma autorização para condenar sem provas, sintetizou a marca nodosa de sua relatoria.

A expedição de mandados de prisão no dia da República, e no afogadilho de servir à grade da TV Globo,  atestaria a natureza viciosa de todo o enredo.

A exceção inscrita no julgamento reafirmava-se na execução despótica de sentenças sob o comando atrabiliário de quem não hesitaria em colocar vidas em risco.

O  que contava era  servir-se da lei. E não servir à lei.

A mídia isenta esponjava-se entre o incentivo e a cumplicidade.

Em nome de um igualitarismo descendente que, finalmente, nivelaria pobres e ricos no sistema prisional,  inoculava na opinião pública o vírus da renúncia à civilização em nome da convergência pela barbárie.

A aposentadoria de Barbosa não apaga essa nódoa.

Ela continuará a manchar o Estado de Direito enquanto não for reparado o arbítrio a que tem sido submetidas lideranças da esquerda brasileira, punidas não pelo endosso, admitido, e reprovável, à prática do caixa 2 eleitoral.

Igual e precedente infração cometida pelo PSDB, e relegada pela toga biliosa, escancara o prioritário sentido da AP 470:   gerar troféus de caça a serem execrados em trunfo no palanque conservador.

A liquefação jurídica e moral de  Joaquim Barbosa nos últimos meses tornou essa estratégia anacrônica e perigosa.

A toga biliosa assumiu, crescentemente, contornos de um coronel Kurtz, o personagem de Marlon Brando, em Apocalypse Now, que se desgarrou do exército americano no Vietnã para criar  a sua própria guerra dentro da guerra.

Na guerra pelo poder, Barbosa lutava a batalha do dia anterior.

Cada vez mais, a disputa eleitoral em curso no país é ditada pelas escolhas que a  transição do desenvolvimento impõe à economia, à sociedade e à democracia.

A luta se dá em campo aberto.

Arrocho ou democracia social desenham  uma encruzilhada de nitidez crescente aos olhos da população.

A demonização do ‘petismo’ não é mais suficiente para sustentar os  interesses conservadores na travessia de ciclo que se anuncia.

Aécio Neves corre contra o tempo para recadastrar seu  apelo no vazio deixado pela esgotamento da judicialização da política.

Enfrenta dificuldades.

Não faz um mês, os centuriões do arrocho fiscal que o assessoram -–e a mídia que os repercute--  saíram de faca na boca após o discurso da Presidenta Dilma, na véspera do 1º de Maio.

Criticavam acidamente o reajuste de 10%  aplicado ao benefício do Bolsa Família.

No dia seguinte, numa feira de gado em Uberaba, MG, o tucano ‘não quis assumir o compromisso de aumentar os repasses, caso seja eleito’, noticiou a Folha de SP (02-05). 

De mim, você jamais ouvirá uma irresponsabilidade de eu assumir qualquer compromisso antes de conhecer os números, antes de reconhecer a realidade do caixa do governo federal", afirmou Aécio à Folha, na tarde daquela sexta-feira.

Vinte e seis dias depois, o mesmo personagem, algo maleável, digamos assim, fez aprovar, nesta 3ª feira,  na Comissão de Assuntos Sociais (CAS) do Senado, uma medida que exclui limites de renda e tempo para a permanência de famílias pobres no programa (leia a reportagem de Najla Passos; nesta pág)

A proposta implica dispêndio adicional que o presidenciável recusava assumir há três semanas.

Que lógica, afinal, move as relações do candidato com o Bolsa Família?

A mesma de seu partido, cuja trajetória naufragou na dificuldade histórica do conservadorismo em lidar com a questão social no país.

Órfão da toga justiceira, Aécio Neves tenta vestir uma inverossímil fantasia de justiceiro social, desde logo esgarçada pela estreiteza dos interesses que representa.

 A farsa corre o risco de evidenciar seus limites  tão rapidamente quanto a anterior.

A ver.