sexta-feira, 28 de março de 2014

Se pensar pequeno, o governo escorrega na

goela conservadora

Para quem acha que capitalismo é apenas um sistema econômico, não uma relação de poder, o Brasil desta 5ª feira-27 incentiva a revisão de conceitos.

 Saul Leblon                               

Agência Brasil
A marcha dos acontecimentos nas  últimas  48 horas:


- o Supremo aposentou  o domínio do fato e ressuscitou  o império da lei  para julgar o mensalão tucano;



- os que tentaram fatiar e vender a Petrobrás em 1997, agora  reivindicam uma CPI para defendê-la; 



- a Standar & Poor’s rebaixa a nota do país em desacordo com a política fiscal enquanto o capital estrangeiro não para de comprar títulos do Brasil ;



- o Ibope  anuncia que a  aprovação ao governo  despenca , no mesmo dia em que o IBGE  divulga  o menor nível de desemprego no desde 2002  e a maior renda real  dos trabalhadores   em 12 anos.



Como entender a  feijoada de  paradoxos?



Olhando o calendário



Estamos a sete meses  das eleições presidenciais  de 2014; as pesquisas mostram Dilma na liderança, com chances  de vencer no 1º turno.



 Os resultados  da economia  desmentem  a  guerra santa das expectativas.



Por enquanto.



Mas  o martelete conservador opera diuturnamente.



A dar um crédito --generoso-- ao passado do Ibope, a trepidação ininterrupta já teria provocado   uma trinca nas expectativas, suficiente para ressuscitar aquilo que o ciclo Lula tinha extirpado do imaginário brasileiro: o medo do futuro.



A associação entre o medo e o  futuro  forma um redemoinho  capaz de cegar a visão do presente e sepultar a disposição da sociedade para enfrentar os interditos ao passo seguinte do  seu desenvolvimento.



A manada  de bisão acantonada nas redações  dedica-se a isso com afinco: afia os cascos no chão e recobre o horizonte brasileiro de uma espessa  poeira cinza asfixiante. O chão treme.



É imperioso  ligar o aspirador de pó à passagem do tropel noticioso. A mesa do café da manhã fica  imprestável  quando  dividida com a edição do dia.



A culpa pelas más notícias nunca é do carteiro. OK. Exceto se ele exorbita  e troca a entrega da correspondência  pela ordem de despejo.



O  pisoteio  dos cascos isentos  faz mais ou menos isso ao reduzir  a partículas ínfimas  qualquer  saliência que desafie  a pauta do Brasil aos cacos.



Nenhum vestígio positivo do  passado e do  presente  mas,  sobretudo, os  brotos do  futuro, sobrevivem à passagem diária do tropel.



Repita-se:  isso,  há sete meses do pleito que pode dar um quarto mandato à coalizão  centrista comandada pelo PT.



Há quem ache merecido.



Até sorria ao ouvir o barulho do  Brasil esmigalhando sob as patas do tropel.



As alianças ‘escolhidas’  pelo PT, afinal, sem falar no próprio,  submeteram a sociedade  a uma camisa de força conservadora, diz Eduardo Campos, de braço dado com os Bornhausen, de conhecidos pendores mudancistas...



Há quem vá além e prefira  a parceria com autênticos 'partisans'  de um novo amanhecer.



Combatentes  da cepa de um Jarbas Vasconcelos, por exemplo;  ou  da estirpe  de Agripino, le rouge, companheiros de caminho dos que levaram  ao Procurador Geral,  Rodrigo Janot, um pedido de investigação contra a Presidenta Dilma Rousseff pelo caso Pasadena.



A manada ganhou esta semana outro reforço  de notórios compromissos com o país.



A agencia  Standart  & Poor’s , cuja credibilidade é conhecida, mostrou a que veio  ao rebaixar  a nota do país para  pendurá-lo um degrau acima do patamar  a que estão relegados alguns Estados falidos.



E não ficou nisso: ‘Os sinais enviados pelo governo ainda não são claros’, advertiu a agência no idioma da chantagem  imperial. ‘Podemos promover ainda um novo corte na nota’, reforçou a senhora Lisa Schineller , analista da agência, em teleconferência  à mídia embevecida.



Em seguida foi direto ao  centro da sua meta  que é para ninguém ter dúvida do que é o principal na vida de uma nação:  ‘(a punição) é um reflexo da política fiscal (a economia para pagar os juros dos rentistas) ,’cuja credibilidade se enfraqueceu de forma sis-te-máti-ca’, escandiu a executiva  da ‘S& P’.Orgasmos intelectuais na plateia.



Nesse bacanal da isenção com a equidistância a ninguém ocorreu, naturalmente, perguntar-lhe se a mesma corrosão da credibilidade teria atingido a agência de risco pelo desempenho pregresso.



 Em agosto de 2008 a  ‘S&P’ atribuiu ao banco Lehman Brothers  um esférico triple A: a nota máxima do ‘rating’ de credibilidade , da qual  ela afastou  o Brasil um pouco mais agora.Trinta dias depois o banco implodia  acionando a espoleta da maior crise do capitalismo desde 1929.



Há um outro recuerdo  ilustrativo do combustível que move a engrenagem por trás da fala assertiva da senhora Schineller.



A  ‘S&P’ foi responsável por rebaixar a nota do Brasil em julho de 2002.



As pesquisas do Datafolha mostravam então o candidato Lula na liderança das intenções de voto, com 38% da preferências dos eleitores, seguido de Ciro Gomes.



Só depois  vinha o delfim da eterna derrota conservadora: José Serra.



O risco da argentinização  sob um governo petista era o mote do jogral conservador, ao qual a S&P adicionou seu grave de tenor.



Como corolário da impoluta trajetória ética e técnica recorde-se que o governo norte-americano encontrou um erro de cálculo de ‘apenas’ US$ 2 trilhões nas contas que orientaram a mesma  Standard & Poor’s  a rebaixar o rating do país em 2012.



Essa a folha corrida. Cuja representação era aguardada  com ansiedade pela manada  e seus  candidatos amigáveis à sucessão.



A bala de prata não negou fogo.



Mas o day after da apoteose foi  talvez o maior fiasco já enfrentado  pelo jornalismo isento  que se vestiu de gala com  manchetes garrafais à espera de uma  3ª feira negra que não veio.



O  dólar caiu ao menor nível em quatro meses; o capital estrangeiro continuou  a desembarcar  --uma parte, ressalve-se, apenas para desfrutar dos juros altos--  mas US$ 9,2 bi em investimento efetivos aportaram no 1º bimestre.



A  Bolsa atingiu a maior pontuação desde setembro de 2013 (e continuou subindo, após a divulgação do Ibope desfavorável ao governo)



As ações da Petrobras se mantiveram em  espiral ascendente --e assim seguiram também após o Ibope.



Para finalizar, o Tesouro anunciou uma arrecadação recorde em fevereiro  –em frontal desacordo com o veredito da ‘inconsistência fiscal’  alegada pela ‘S&P’ para cortar o ‘rating’ do país.



O que aconteceu no day after --e no day after do day after-- na verdade, só reafimou aquilo que os indicadores tem mostrado neste início de ano, à revelia das manchetes alarmistas.



O Brasil tem problemas; sérios alguns  (leia ‘Quem vai mover as turbinas do Brasil?’).



Mas está longe de ser a terra arrasada produzida pelos cascos que esmagam e amesquinham tudo o que se opõe à pauta da economia que vai afundar –  'se não for hoje, de amanhã não passa'.



Na última 2ª feira, por exemplo, o insuspeito jornal Valor Econômico reuniu 18 indicadores atualizados para medir a temperatura da economia  neste início de ano.



Treze dos dezoito  apontavam um desempenho positivo.



São eles:  renda, emprego, atividade industrial, vendas do varejo, vendas de serviços, venda de aços planos, crédito, inadimplência, nível de atividade do BC, vendas de automóveis, fluxo de veículos pedagiados e  vendas de papel para embalagem.



Dos cinco indicadores negativos, apenas um  se referia  a  atividade produtiva de fato: produção de automóveis (influenciada pela antecipação de vendas do final de 2013 e o fim da isenção do IPI)



Os demais  dizem respeito à formação das expectativas, diretamente contaminadas pela guerra eleitoral manipulada pela mídia  –intenção de consumo, confiança da indústria, confiança do consumidor, indicador antecedente da FGV.



Em resumo,  os mercados ,  ao contrário do jornalismo colegial, sabem que as candidaturas conservadoras não emplacam.



Enquanto cuidam de faturar, usam as redações  isentas, a exemplo dos serviços pagos, da  ‘Standard & Poor’s  e do Ibope,  para chantagear o final do governo Dilma.



Mas não só chantagear.



Também para engessar a presidenta-candidata no palanque de outubro .



E, no limite,  desossar sua eventual reeleição, circunscrevendo-a  num círculo de ferro de mercadismo  e mediocridade.



A transição de ciclo econômico vivida pelo Brasil apimenta esse embate.



Mas não é a sua determinação maior.



A determinação  dominante é o mutirão do dinheiro graúdo para engessar o governo em curso-- e, sobretudo a sua continudiade, a partir de 2015--  e impedir que ele seja de fato o portador  do  desejo mudancista do eleitorado  brasileiro, majoritariamente associado à condução do processo pela própria Presidenta-candidata.



O cerco está visível a olho nu.



Trata-se de espremer Dilma e tanger o  PT , obrigando-os a pensar pequeno.



Pensar um futuro governo menor que o país.



Uma campanha presidencial  menor que as possibilidades e urgências da Nação.



Com um programa de governo  --e uma estratégia eleitoral --  menor que a ponte necessária entre a prostração democrática que favorece a chantagem em curso, e a repactuação da  sociedade com o desenvolvimento, feita  de prazos e metas críveis  para a construção da cidadania plena .



Se pensar pequeno, o governo que finda ,e o seu novo mandato,  corre o risco de  caber na goela conservadora.



Que não  hesitará em mastigá-lo  até o último farelo.

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