Nada como um dia após o outro, com uma noite no meio, é claro. E a noite desta terça-feira foi do governo, que reagiu na hora certa e ganhou por aclamação com o voto simbólico das lideranças de quase todos os partidos: após mais de dois anos de duras negociações, foi aprovado o Marco Civil da Internet, o único projeto de real importância previsto para ser votado este ano no Congresso Nacional.
No mesmo dia, o rebaixamento da nota do Brasil pela agência de risco Standard & Poors teve o efeito contrário ao que esperavam os especuladores e a turma do quanto pior melhor abrigada nas colunas apocalípticas da imprensa. No final do dia, para espanto dos "especialistas", a Bolsa subiu e o dólar caiu.
Assim, dissiparam-se as nuvens escuras que sobrevoavam o governo no inicio da semana. O céu só não clareou de todo porque ainda paira no ar a criação da uma CPI da Petrobras, agora a única tábua de salvação para as combalidas campanhas dos candidatos de oposição.
O tucano Aécio Neves e agora também Eduardo Campos, do PSB, que não estava muito interessado nisso, mas ficou com medo de ser passado para trás pelo concorrente como mais aguerrido candidato de oposição, convocaram suas tropas de choque com a missão de recolher as assinaturas necessárias para a criação da CPI, o que ainda estavam longe de conseguir até ontem à noite.
Era comovente o esforço de figuras patéticas como o tucano Álvaro Dias e o democrata José Agripino, com a ajuda do deputado Rubens Bueno, o estafeta do PPS, que só faz isso, implorando o apoio de seus colegas.
Sem propostas capazes de entusiasmar o eleitorado, Aécio e Eduardo ganharam o discurso da CPI, mas se não conseguirem instalar a comissão, o que no momento parece improvável, vão ter que começar tudo de novo para encontrar um mote de campanha que não seja só atacar o governo Dilma.
A política é como a vida da gente: tem dia em que tudo dá certo, tem dia em que tudo dá errado. A vida não é linear, e os ventos a favor ou contra podem mudar a qualquer momento, independentemente da nossa vontade. Ontem, por exemplo, eu sentia muita dor no braço que quebrei há dois meses. Sem tomar remédio e sem que nada de diferente tivesse acontecido, amanheci disposto, as dores sumiram.
Ainda temos muito chão pela frente, mas depois que a base aliada se acalmou e, no fim, até Eduardo Cunha apoiou o projeto do governo para a criação do Marco Civil da Internet, contrariando os interesses de poderosos lobbies dos provedores, teles e empresas de comunicação, o governo volta a ter a iniciativa do jogo e a oposição partidária e midiática vai continuar esperando algum "fato novo" para mudar o rumo das pesquisas, se a CPI não vingar.
Mais uma vez, a "crise do fim do mundo" foi adiada. E, ao contrário do que escreveram alguns comentaristas mais afoitos sobre minha coluna de ontem, eu continuo exatamente no mesmo lugar, fiel aos meus princípios e à verdade factual dos acontecimentos, que teimam em mudar de um dia para outro. Não fosse assim, não precisaria estar aqui atualizando o Balaio todo dia, com ou sem dor no braço.
(*) Ricardo Kotscho, 65, é repórter desde 1964. Já trabalhou em praticamente todos os principais veículos da imprensa brasileira, nas funções de repórter, repórter especial, editor, chefe de reportagem, colunista, blogueiro e diretor de jornalismo. É atualmente comentarista do Jornal da Record News e repórter especial da revista Brasileiros.
Nenhum comentário:
Postar um comentário