O movimento sindical urbano e o papel do
CGT até o golpe militar de 1964 que
derrubou o presidente João Goulart
Mônica Almeida Kornis / Débora Paiva Monteiro
O movimento sindical urbano foi extremamente atuante durante todo o período do governo João Goulart (1961-1964). Essa atuação se inicia antes mesmo de Jango tomar posse, com a greve geral decretada pelos líderes sindicais em reação ao impasse criado pelos ministros militares à posse do vice-presidente eleito, por ocasião da renúncia do então presidente Jânio Quadros (1960-1961), em 25 de agosto de 1961.
Goulart enfrentou, em seus três anos de governo, inúmeras greves, motivadas não apenas por reivindicações salariais, mas também para pressionar o governo a realizar as reformas de base. Nesse sentido, pode-se dizer que o governo Goulart foi um dos marcos na história do movimento sindicalista brasileiro, na medida em que nesses anos as ações sindicais, inclusive as greves, ampliaram e explicitaram a participação dos sindicatos nas grandes questões da política nacional. Isso fica evidente em alguns episódios, como o que envolveu a indicação do nome de Brochado da Rocha, no lugar de Auro de Moura Andrade, para chefiar o segundo gabinete parlamentar (1962), por pressão do Comando Nacional de Greve (CNG), logo transformado em Comando Geral de Greve (CGG).
Durante o IV Congresso Sindical Nacional dos Trabalhadores, também realizado em 1962, em São Paulo, o CGG transformou-se em Comando Geral dos Trabalhadores (CGT), congregando organizações oficiais como a Confederação Nacional dos Trabalhadores da Indústria (CNTI), a Confederação Nacional dos Trabalhadores em Estabelecimentos de Crédito (Contec) e a Confederação Nacional dos Trabalhadores em Transportes Marítimos, Fluviais e Aéreos (CNTTMFA), além de organizações paralelas, como a Comissão Permanente das Organizações Sindicais (CPOS), o Pacto de Unidade e Ação (PUA) e o Fórum Social de Debates (FSD).
Reunindo em suas fileiras as lideranças mais expressivas do movimento sindical brasileiro no início da década de 1960, como Clodesmidt Riani, Roberto Morena e Dante Pellacani, o CGT teve um papel relevante em vários momentos do governo Goulart. Um dos mais importantes deu-se durante a luta pela antecipação do plebiscito que decidiria pelo retorno ou não ao regime presidencialista. Em setembro de 1962, contando com o apoio de alguns militares nacionalistas, foi decretada greve geral que só foi suspensa após a aprovação da antecipação do plebiscito, pelo Congresso. Nesse mesmo mês, os principais líderes sindicais reuniram-se com o presidente para discutir a organização do novo gabinete provisório, que governaria até a realização do plebiscito em janeiro de 1963, mostrando a grande influência que o movimento exercia sobre o governo.
Goulart não conseguiu efetivar as almejadas reformas de base. O governo não contava com apoio do Congresso para realizar a reforma constitucional necessária à implementação do seu programa de reformas. Além disso, a radicalização do movimento, sobretudo durante o período presidencialista, criou tensões com o próprio governo que busca um novo equilíbrio de forças, patrocinando a formação de uma organização rival ao CGT, a União Sindical dos Trabalhadores. A demissão do ministro do Trabalho Almino Afonso, próximo dos líderes sindicais, também foi nessa mesma direção e desagradou o CGT.
Já em 1964, com os rumores de um possível golpe para depor o presidente, o CGT ameaçou decretar uma greve geral com o objetivo de defender as liberdades democráticas. O movimento sindical organizado foi um dos responsáveis pelo grande comício popular realizado no dia 13 de março na Central do Brasil, no Rio de Janeiro. Reunindo cerca de 150 mil pessoas, o Comício das Reformas o presidente obteve apoio d. Apesar das tentativas de conter o movimento golpista, em 31 de março os militares afastaram Jango da presidência. O governo militar interveio nas organizações vinculadas ao CGT, sendo ele próprio desarticulado e seus principais líderes presos.
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