Eduardo Cunha é um deputado de muita linha (telefônica, bem entendido...)
Fernando Brito
O líder do PMDB, Eduardo Cunha, foi recebido ontem, como deve ser recebido qualquer líder de partido, pelo vice-presidente Michel Temer e pelos ministros da Justiça e das Relações Institucionais.
E não obteve o que queria, como deve acontecer com quem usa a representação parlamentar para advogar interesses privados, não os públicos.
A “liberdade” que Cunha defende para a internet é a liberdade das empresas de telefonia de definirem quem e por quanto terá uma velocidade de tráfego de dados maior pela rede mundial de computadores.
É o direito de ir e vir, cibernético, traduzido da monstruosa forma de fazer uns irem a jato e outros de patinete, dependendo de quanto pague.
Não se está falando de velocidade de conexão ou de capacidade dos servidores que utiliza, mas do direito de trafegar pelas infovias em velocidades “diferenciadas”.
Uma Higiénópolis digital.
Poucas pessoas têm a coragem de dizer isso, na imprensa.
Um delas, como sempre, é Janio de Freitas, que o faz, hoje, na Folha.
A fonte de rebelião
Janio de Freitas / Folha de São Paulo
Na hostilidade dos deputados do PMDB ao governo há um impulso maior do que a “insatisfação com o tratamento injusto” dispensado ao partido por Dilma Rousseff. A própria bancada não precisou, porém, de mais do que esse argumento para rebelar-se, porque nele estava implícito o objetivo principal, quando não único, da maioria dos seus integrantes: receber mais nomeações e verbas federais.
Líder e inspirador da bancada, o deputado Eduardo Cunha deu sentido prático à rebelião alinhando poucas mas suficientes recusas a projetos apoiados pelo governo. Para todos os efeitos, esta atitude é um desdobramento da rebelião, e não a sua causa. Mesmo para a bancada, é assim que se explica. Mas não é assim na realidade.
A força por trás da rebelião são as empresas de telefonia. As suas objeções e as do deputado Eduardo Cunha ao projeto do Marco Civil da Internet são idênticas. Incidem sobre as mesmas partes que desejam ver retiradas, umas, e outras modificadas no projeto. Motivo que levou a rebelião a exigir o adiamento da votação e a reabertura das discussões. Contra a posição do governo, que defendeu o projeto aprovado tal como está e tão depressa quanto possível.
A falta do Marco Civil da Internet é um atraso brasileiro. Há inúmeros manifestos por sua aprovação. O deputado e relator Alessandro Molon trabalhou com seriedade e minúcia na formulação final do projeto. Argumenta que as modificações de interesse das empresas de telefonia e defendidas por Eduardo Cunha resultariam na “exclusão digital de milhões de usuários brasileiros da internet, beneficiando só os mais ricos”.
Rebelião do PMDB é pseudônimo de manobra das telefônicas. Mas a esperteza que a propôs não é delas, não.
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