Pesquisas do Ibope não divulgadas em 1964:
Reforma agrária tinha grande apoio popular às vésperas do golpe e Jango seria forte candidato
Luiz Carlos Azenha
Naquela época, presidente e vice presidente eram escolhidos em eleições simultâneas mas separadas. Foi isso que possibilitou a eleição de uma chapa que apontava em direções distintas: Jânio Quadros de presidente (pela coalizão PTN-PDC-UDN-PR-PL) e João Goulart de vice. Quadros renunciou, aparentemente à espera de voltar por cima. Goulart, eleito pela coalizão liderada pelo PTB, sob oposição dos militares, só assumiu com a aprovação do parlamentarismo, costurado num acordo feito por Tancredo Neves (do PSD). Mais tarde, a população apoiou em plebiscito a volta do presidencialismo — já uma demonstração de forte apoio ao projeto trabalhista de Jango.
O Brasil era, então, um país muito mais provinciano. As forças de oposição a Jango controlavam os governos de São Paulo (Adhemar de Barros, do PSP, o Partido Social Progressista), Guanabara (Carlos Lacerda, da UDN) e Minas Gerais (Magalhães Pinto, da UDN). Nas comunicações entre o embaixador dos Estados Unidos no Rio e Washington, estes governadores eram apontados como essenciais em qualquer tentativa de conter Jango.
A imprensa brasileira era, igualmente, menos nacionalizada. A diversidade de jornais era grande. Jango só contava com a Última Hora, de Samuel Wainer, e a TV Excelsior, do empresário Mário Wallace Simonsen. Em São Paulo tanto a Folha de S. Paulo quanto O Estado de São Paulo faziam fortes críticas ao governo. Os empresários Octávio Frias e os irmãos Mesquita se ligaram ao IPES, o Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais, uma espécie de Instituto Millenium anabolizado, determinado a combater “o avanço do comunismo soviético no ocidente”. O IPES aglutinou, organizou, propagandeou e financiou, ainda que indiretamente, a derrubada de Jango. Na Guanabara, o mesmo papel era feito pelos jornais O Globo,Correio da Manhã, Jornal do Brasil e Tribuna da Imprensa.
Como Jango ocupava o Palácio do Planalto, havia dúvidas se poderia se candidatar em seguida (não havia, à época, o instituto da reeleição). Na ausência dele, os candidatos mais fortes seriam o ex-presidente Juscelino Kubistchek (PSD) e o direitista Carlos Lacerda. Porém, as pesquisas agora divulgadas demonstram que o candidato puro sangue da direita tinha poucas possibilidades de bater o centrista JK.
Este preâmbulo é necessário para apresentar as pesquisas que Luiz Antonio Dias, chefe do Departamento de História da PUC de São Paulo, resgatou dos arquivos
Ele é professor do programa de pós graduação de História da PUCSP e de Ciências Humanas da UNISA. Algumas dessas pesquisas são analisadas em um capítulo do livro O jornalismo e o golpe de 1964: 50 anos depois, que será lançado em abril no evento Mídia e memórias do autoritarismo, que acontecerá na Escola de Comunicação da UFRJ.
Notem que o apoio ao trabalhista Jango se dava nas camadas sociais mais pobres e era esmagador no Nordeste, onde o projeto da reforma agrária tinha grande ressonância. A segunda pesquisa apresentada abaixo foi feita dias antes do golpe. Em pergunta não tabulada aqui, a maioria revelou que tinha medo crescente do comunismo, mas não associava comunismo ao governo João Goulart.
Eis os resultados:
IBOPE – Pesquisas Especiais. Notação PE053 MR275. Realizada em diversas cidades do país, 16 no total. 500 entrevistas nas capitais e 300 nas demais cidades (total de entrevistados: 6.400). Entre junho e julho de 1963. Sem indicação de contratante.
IBOPE – Pesquisas Especiais. Notação PE 060 MR0277. Pesquisa de Opinião Pública Realizada em Fortaleza, Recife, Salvador, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo, Curitiba e Porto Alegre, entre 9 a 26 de março de 1964. Sem identificação de contratante. 500 entrevistados em SP e Rio e 400 nas demais (pesquisa ampla, com muitas questões, algumas aponto abaixo, uma das poucas pesquisas realizadas em várias cidades quase ao mesmo tempo). Essa pesquisa não foi publicada/divulgada em 1964.
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