domingo, 7 de junho de 2015

Parada LGBT reafirma luta por direitos e tem presença até de evangélicos                                         

Dezenas de milhares de pessoas vão à Avenida Paulista sob o tema 'Eu Nasci Assim, Eu Cresci Assim, Vou Ser Sempre Assim: Respeitem-me!'. Religiosos rejeitam discurso raivoso de alguns líderes de seitas e cultos...
Marcelo Santos               
PAULO PINTO / FOTOS PÚBLICAS
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Parada do Orgulho LGBT de São Paulo continua uma das maiores manifestações por reconhecimento de cidadania
Sob o tema 'Eu Nasci Assim, Eu Cresci Assim, Vou Ser Sempre Assim: Respeitem-me!', a 19ª Parada do Orgulho LGBT de São Paulo reuniu neste domingo (7) dezenas de milhares de pessoas de diversos perfis e idades nas ruas da região central da capital paulista. Até as 17h ainda não havia estatísticas oficiais sobre o total de participantes na manifestação, que misturou festa e ativismo em um dos principais eventos de rua do país. Entre os destaques da edição deste ano, um grupo de evangélicos foi à Paulista demonstrar repúdio à intolerância religiosa contra a população LGBT.
"P.* que o pariu! E você acha que viu de tudo na vida ... que... que... que bacana!", surpreendeu-se um ciclista, estancando sua magrela diante do Conjunto Nacional, um ponto de referência da avenida. O susto foi ao ler cartazes empunhados pelo grupo de manifestantes evangélicos. "Jesus cura a homofobia", dizia a principal faixa, estilizada com as cores do arco-íris.
A ação despertou curiosidade e elogios dos transeuntes. Além de dezenas de pedidos de fotos. "Fui batizado e criado na Igreja Quadrangular. Lá é um ambiente onde a homossexualidade é considerada pecado. Fico muito feliz em ver que nem todos os evangélicos discriminam os gays. Só Deus sabe que não se trata de uma escolha minha, eu nasci assim", conta o jovem bissexual Edson Luiz Grothe Valdoski, de 18 anos, ao lado da amiga Tais Andrade, também de 18.
MARCELO SANTOS /RBA
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Evangélicos repudiam intolerância e preconceito de líderes religiosos
A ideia de levar cartazes à Paulista em solidariedade ao público LGBT surgiu do teólogo José Barbosa Junior, 44, que já foi pastor na Igreja Batista e hoje participa de cultos numa comunidade chamada Caminho da Graça, na zona sul paulistana. "Não foi algo original. Já tinha visto movimentos semelhantes nas redes sociais. Quando lancei a ideia, não imaginava que teria tanto apoio". O evento criado na rede social Facebook teve a confirmação de 1,2 mil pessoas pela internet.
Membro da Igreja Batista, a funcionária pública Fernanda Costa Barreto, 25, ficou sabendo do encontro pela internet e, antes do meio dia, segurava um cartaz em que se lia: "A única coisa que deve ser boicotada é o preconceito", numa referência à campanha proposta pelo pastor e televangelista Silas Malafaia contra a marca o Boticário, devido à peça publicitária veiculada para o próximo Dias dos Namorados, retratando casais héteros e homoafetivos. "Eu acredito que o que faz mal à família não é a homossexualidade e sim os vícios e a violência, como a cometida contra a mulher", opinou.
O casal Glauber Ramos, 45, e Adriana Simões, 42, também evangélicos, distribuíam sorrisos e abraços pela Paulista. "Nosso intuito não é 'evangelístico'. Não viemos aqui para pregar. Queremos deixar claro que não nos sentimos representados por Silas, Feliciano, Bolsonaro", explicou a mulher.

No vão do MASP

A 19ª Parada do LGBT começou às 10h, com cerca de 1,5 mil pessoas de pessoas no vão do Museu de Arte de São Paulo (MASP) levando cartazes como 'Fora Cunha', em referência ao presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha (PMDB-RJ). A parada é maior manifestação popular do gênero contra a homofobia e por garantia de direitos. Foram 18 trios elétricos que percorreram a Paulista, passando pela Consolação até chegar à Praça da República, onde, às 21h, está previsto um show de encerramento com 19 atrações diferentes. É o fim de uma extensa programação semanal de debates  e palestras, além da 15ª edição da Feira Cultural LGBT, no Vale do Anhangabaú, que reuniu cerca de 100 mil pessoas.

Alckmin cobrado

Um momento de tensão, durante a coletiva de imprensa da organização do evento, foi quando um jornalista do coletivo Jornalistas Livres entregou ao governador Geraldo Alckmin um dossiê com denúncias sobre o caso da travesti Verônica Bolina, reproduzindo um áudio erm que Verônica repetia frases ditadas supostamente pela coordenadora estadual de política de defesa e promoção dos direitos LGBT, Heloísa Alves, em que negava ter sido torturada na 78ª Delegacia de Polícia de São Paulo. Enquanto ativistas gritavam palavras de ordem, chamando a polícia do governo Alkmin de torturadora, os secretários de segurança, Alexandre Moraes, e de desenvolvimento social, Floriano Pesaro, presentes à mesa da solenidade de abertura, defendiam-se dizendo que se tratava de "mentira".
Ainda durante a coletiva, Fernando Quaresma lamentou o atual cenário político na Câmara e Senado Federal, o que considerou um retrocesso. "Todos os dias recebemos agressões em diversos meios que ferem nossa autoestima, falando em curas e terapias. Abordando nossas orientações sexuais e identidades de gêneros como um mal que precisa de um tratamento."

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