segunda-feira, 15 de junho de 2015

Foreign  Affairs   publica

artigo exaltando política

externa brasileira

Miguel do Rosário                          

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A Foreign Affairs, a principal publicação norte-americana sobre geopolítica e relações internacionais, uma das mais prestigiadas e lidas no mundo inteiro, publicou um interessante artigo sobre o Brasil, intitulado: “Brasil consolida sua influência para além do Atlântico”.
O “para além do Atlântico”, no caso, é sobretudo o continente africano, com o qual o Brasil estabeleceu parcerias comerciais que elevaram o comércio exterior com essa região do mundo de US$ 4 bilhões em 2000 para $28 bilhões em 2013.
Além de ser um artigo que traz informações valiosíssimas para entendermos o novo lugar do Brasil no mundo, ele vem escrito com uma isenção que desconhecemos aqui.
Diante da campanha diuturna da nossa imprensa contra o Brasil, causa até um certo estranhamento ler, numa das mais importantes revistas de geopolítica do mundo, um artigo que exalta a política externa do Brasil. E que não venham, pelo amor de Deus, chamar a Foreign Affairs de “esquerdista” ou “bolivariana”…
A revista elogia a inteligência dos estrategistas do governo, que contornam o baixo orçamento militar através de parcerias estratégicas com outros países, que permitam ao Brasil exportar armas e tecnologia, e com isso, financiar sua própria indústria de defesa.
A gente bem que podia tentar traduzi-lo coletivamente, não é? Vamos tentar. Se quiser participar, basta traduzir um trecho e publicar aí nos comentários. Se quiserem ir juntando às traduções já prontas num comentário só, está valendo.
Eu já traduzi o título. Segue a tradução do primeiro parágrafo:
“Após anos firmando alianças na área de segurança com América Latina e Caribe, o Brasil agora está olhando para o leste, consolidando sua influência para além do oceano Atlântico. O Brasil começou discretamente, fornecendo à África assistência técnica em ciência, tecnologia e desenvolvimento profissional. ”
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Atualização: O leitor Tiago dos Santos fez a tradução. Ele deixou o seguinte recado: “Fiz a tradução da matéria, não ficou perfeito, mas vai dar pra entender bem. Se alguém quiser contribuir, por favor.”
A Amazônia Azul
Brasil afirma a sua influência em todo o Atlântico.
Por Nathan Thompson e Robert Muggah (Tradução de Tiago dos Santos).
Após de anos firmando alianças de segurança na América Latina e no Caribe, o Brasil está agora olhando para o leste, firmando a sua influência através do Oceano Atlântico. O Brasil começou silenciosamente, proporcionando a África assistência técnica em ciência, tecnologia e desenvolvimento profissional.
Mas ao longo da última década, o Brasil tem acoplado iniciativas de soft power(poder brando) com um aumento dramático na cooperação militar com a África, a realização de exercícios navais conjuntos, proporcionando transferências de treinamento e armas militares, e estabelecendo postos avançados nos portos em toda a costa ocidental do continente. Hoje, a postura oficial de defesa do Brasil tem maior alcance, envolvendo a capacidade de projetar poder da Antártida para a África.
As parcerias transatlânticas do Brasil estão realizando uma ambição de longa data. Em 1986, ao lado de Argentina, Uruguai e 21 países africanos, o Brasil propôs Paz e Cooperação da Zona do Atlântico Sul. O objetivo não declarado então, como agora, era minimizar a interferência externa na região, especialmente pela NATO(Organização do Tratado do Atlântico Norte).
O desejo de manter os estrangeiros fora do Atlântico Sul é motivado em grande parte por interesses comerciais. O Brasil, em particular, para proteger seus recursos naturais na chama Amazônia Azul. Amazônia Azul que incluem extensas reservas de petróleo e gás, bem como as concessões de pesca e mineração dentro e para além das suas atuais fronteiras marítimas.
Para os líderes brasileiros, preservar influência sobre a Amazônia Azul é uma questão de segurança nacional e soberania. Programa PROMAR(PROGRAMA DE MENTALIDADE MARÍTIMA) da Marinha do Brasil promove atividades e campanhas de conscientização pública exaltando a importância econômica, ambiental e científica do Atlântico Sul.
Para proteger as fronteiras da Amazônia Azul, o Brasil está peticionando a ONU um alargamento dos limites da Plataforma Continental , a área que se estende a 200 milhas náuticas a partir da costa, zona econômica exclusiva, em que um país tem direitos especiais para explorar e utilizar os recursos marinhos.
Para reforçar suas demandas, o Brasil está criando um sofisticado sistema de vigilância para monitorar a Amazônia Azul. O chamado Sistema de Gerenciamento da Amazônia Azul pretende digitalizar mais de 4.600 milhas de costa para os navios militares e comerciais estrangeiras através de uma combinação de satélites, radares, aviões, navios de guerra e submarinos. Em janeiro, o país nomeou três finalistas para o projeto de 4 bilhões de dólares, um consórcio liderado pelo conglomerado aeroespacial Embraer, outro liderado pela empresa multinacional de construção Odebrecht, e um terceiro liderado pela Orbital Engenharia. O exército brasileiro também está construindo um sistema de vigilância das fronteiras multibilionária, e os dois programas podem, eventualmente, ser integrados.
NA ÁFRICA
Na África, a influência do Brasil se estende para além dos seis países de língua portuguesa do continente. Seu comércio total com países africanos inchou de cerca de US$ 4,3 bilhões em 2000 para 28,5 bilhões dólares em 2013. Não é surpreendente que a parceria de segurança e defesa do Brasil com a África é uma grande responsável pela a expansão dos negócios.
Em 1994, por exemplo, o Brasil assinou um acordo de cooperação de defesa com a Namíbia; Hoje, o Brasil é o fornecedor e parceiro de treinamento primário de Marinha da Namíbia. Em 2001, o Brasil garantiu sua presença na África Austral, abrindo uma missão consultiva naval em Walvis Bay, Namíbia no maior porto comercial e único porto de águas profundas do pais.
Namíbia foi apenas o primeiro. O Brasil também assinou acordos de cooperação de defesa com Cabo Verde (1994), África do Sul (2003), Guiné-Bissau (2006), Moçambique (2009), Nigéria (2010), Senegal (2010), Angola (2010), e da Guiné Equatorial (2010 e 2013). Na sequência fez exercícios conjuntos com a Marinha Benin, Cabo Verde, Nigéria e São Tomé e Príncipe, em 2012, e exercícios adicionais com Angola, Mauritânia, Namíbia e Senegal, no ano seguinte(2013), o Brasil abriu uma outra missão naval, em Cabo Verde.
Enquanto isso, um acordo de cooperação de defesa com o Mali está atualmente sob revisão, e o Ministério da Defesa do Brasil anunciou planos para uma terceira missão naval em São Tomé e Príncipe, este ano(2015).
O Brasil também está fornecendo a África formação militar, em conjunto com a formação da marinha. Entre 2003 e 2013, a Escola Naval brasileira e Escola de Guerra Naval treinou cerca de 2.000 oficiais militares da Namíbia sozinho. A Força Aérea Brasileira tem prestado apoio aos pilotos de Angola, Guiné-Bissau e Moçambique. E desde 2009, a Agência Brasileira de Cooperação fez uma parceria com o Ministério da Defesa do país, orçamentação aproximadamente 3,2 milhões de dólares 2009-2013, para os programas de formação para o pessoal militar africano.
A enxurrada de acordos de cooperação envia um sinal forte aos empreiteiros da defesa brasileiras para fazer negócios na África. Ambas, empresas públicas e privadas estão alinhadas e organizadas comercialmente, como a Defesa Brasileira e a Associação das Indústrias de Segurança, Comdefesa, e a Agência Brasileira de Promoção de Investimentos.
Fabricantes de armas brasileiras estão fazendo esforços para alinhar o desenvolvimento de armas e tecnologia de produção de dutos com a demanda Africano. A Embraer, por exemplo, tem intermediado várias ofertas de suas aeronaves, o Super Tucano A-29, juntamente com treinamento e assistência técnica. A empresa assinou contratos com Angola, Burkina Faso, Mauritânia com um valor total de US$ 180 milhões.
Da mesma forma, Gana, Mali, Senegal assinaram contratos ou mostraram intenção de comprar Super Tucanos da Embraer. Estas ofertas são insignificantes em comparação com aqueles que a empresa fez com os Estados Unidos, Suécia, e os Emirados Árabes Unidos, mas eles são significativas, no entanto, uma vez que eles significam uma relação de aprofundamento da África com o Brasil.
O Brasil também tem participação em feiras internacionais de armas, e alguns de seus principais clientes são baseados na África. O país exportou mais de US $ 70 milhões em armas pequenas e munição para 28 países africanos 2000-2013, de acordo com os últimos dados disponíveis da ONU. Argélia encabeça a lista de compradores de armas de pequeno porte e munição do Brasil, com compras de mais de US$ 23 milhões. Argélia é seguida por Botswana, África do Sul, Quênia e Angola.
Feiras de armas oferecem oportunidades importantes para o Brasil para aprofundar a sua cooperação Sul-Sul com a África. Em 2013 na América Latina Aeroespacial e Defesa, a maior feira da região, o ministro da Defesa do Brasil reuniram-se com 14 ministros ou vice-ministros de países africanos e latino-americanos ao longo de apenas três dias. Tais acontecimentos confirmam que o Brasil está endurecendo seu poder suavemente através do Atlântico Sul. No processo, o Brasil está usando a África para sinalizar a sua chegada como um player global no cenário mundial.
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Abaixo, o texto original:
The Blue Amazon
Brazil Asserts Its Influence
Across the Atlantic
By Nathan Thompson and Robert Muggah
After years of shoring up security alliances in Latin America and the Caribbean, Brazil is now looking eastward, asserting its influence across the Atlantic Ocean. Brazil started quietly, providing Africa with technical assistance in science, technology, and professional development.
But over the past decade, Brazil has coupled soft-power initiatives with a dramatic boost in military cooperation with Africa, conducting joint naval exercises, providing military training and arms transfers, and establishing outposts in ports across the continent’s western coast. Today, Brazil’s official defense posture is even more far-reaching, involving the ability to project power from Antarctica to Africa.
Brazil’s transatlantic partnerships are the culmination of a long-standing ambition. In 1986, alongside Argentina, Uruguay and 21 African countries, Brazil proposed the South Atlantic Peace and Cooperation Zone. The unstated goal then, as now, was to minimize external meddling in the region, especially by NATO.
The desire to keep foreigners out of the South Atlantic is motivated in large part by commercial interests. Brazil, in particular, wants to safeguard its on- and offshore natural resources, which the navy calls the Amazônia Azul, or Blue Amazon. These include extensive petroleum and gas reserves, as well as fishing and mining concessions within and beyond its current maritime frontiers.
To Brazilian leaders, preserving influence over the Blue Amazon is a question of national security and sovereignty. The Brazilian navy’s PROMAR program actively promotes public awareness campaigns extolling the economic, environmental, and scientific importance of the South Atlantic.
To secure the boundaries of the Blue Amazon, Brazil is petitioning the UN Commission on the Limits of the Continental Shelf to extend its exclusive economic zone, the area stretching 200 nautical miles out from the coast, in which a country has special rights to explore and use marine resources.
To shore up its demands, Brazil is creating a sophisticated surveillance system to monitor the Blue Amazon. The so-called Blue Amazon Management System is intended to scan more than 4,600 miles of coastline for foreign military and commercial vessels through a combination of satellites, radar, drones, naval vessels, and submarines.
In January, the country named three finalists to develop the $4 billion project: a consortium led by the aerospace conglomerate Embraer, another led by the multinational construction company Odebrecht, and a third by the aerospace upstart Orbital Engenharia. The Brazilian army is also building a multibillion-dollar border surveillance system, and the two programs may eventually be integrated.
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PIVOT TO AFRICA
In Africa, Brazil’s influence extends beyond the continent’s six Portuguese-speaking countries. Its total trade with African nations ballooned from roughly $4.3 billion in 2000 to $28.5 billion in 2013. Not surprisingly, Brazil’s security partnership with Africa is motivated to a large extent by a desire to expand business opportunities for Brazilian defense firms.
In 1994, for example, Brazil signed a defense cooperation agreement with Namibia; today, Brazil is the primary supplier and training partner of Namibia’s navy. In 2001, Brazil secured its foothold in southern Africa by opening a naval advisory mission in Walvis Bay, Namibia’s largest commercial port and sole deep-water harbor.
Namibia was just the first. Brazil has also signed defense cooperation accords with Cape Verde (1994), South Africa (2003), Guinea-Bissau (2006), Mozambique (2009), Nigeria (2010), Senegal (2010), Angola (2010), and Equatorial Guinea (2010 and 2013). Following joint navy exercises with Benin, Cape Verde, Nigeria, and São Tomé and Príncipe in 2012, and additional exercises with Angola, Mauritania, Namibia, and Senegal the following year, Brazil opened another Brazilian naval mission in 2013, in Cape Verde.
Meanwhile, a defense cooperation agreement with Mali is currently under review, and Brazil’s Ministry of Defense has announced plans for a third naval mission in São Tomé and Príncipe, to open this year.
Brazil is also providing Africa with military, air, and navy training. Between 2003 and 2013, the Brazilian Naval School and Naval War School trained as many as 2,000 military officials from Namibia alone. The Brazilian air force has provided support to pilots from Angola, Guinea-Bissau, and Mozambique. And since 2009, the Brazilian Cooperation Agency has partnered with the country’s Ministry of Defense, budgeting roughly $3.2 million from 2009 to 2013, for training programs for African military personnel.
The flurry of cooperation agreements sends a strong signal to Brazilian defense contractors to do business in Africa. Both public and private firms are getting in line, not least trade organizations such as the Brazilian Defense and Security Industries Association, Comdefesa, and the Brazilian Trade and Investment Promotion Agency.
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Brazilian arms manufacturers have ramped up their efforts to align weapons development and technology production pipelines with African demand. Embraer, for example, brokered several deals to sell its signature aircraft, the Super Tucano A-29, along with training and technical assistance. The company signed contracts with Angola, Burkina Faso, and Mauritania worth more than $180 million in total.
Likewise, Ghana, Mali, and Senegal either signed procurement deals or signaled their intention to purchase Embraer’s Super Tucano. These deals pale in comparison with those the company has made with the United States, Sweden, and the United Arab Emirates, but they are significant nevertheless, since they signify a deepening relationship with Brazil.
Brazil is also cashing out at international arms fairs, and some of its major clients are based in Africa. The country shipped more than $70 million in small arms and ammunition to 28 African countries from 2000 to 2013, according to the latest available UN data. Algeria tops the list of Brazil’s small arms and ammunition clients, with purchases of more than $23 million. Algeria is followed by Botswana, South Africa, Kenya, and Angola.
Arms fairs offer important opportunities for Brazil to deepen its south–south cooperation with Africa. At the 2013 Latin America Aerospace and Defense fair, the largest in the region, Brazil’s minister of defense met with 14 ministers or deputy ministers from African and Latin American countries over the course of just three days. Such events confirm that Brazil is hardening its soft power across the South Atlantic. In the process, Brazil is using Africa to signal its arrival as a global player on the world stage.

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