Não é raro, no jornalismo, os “focas” não perceberem que deixam
para o final a informação que vale mais do que tudo o que vai sendo dito pelos
seus narradores “oficiais”.
A repórter Cleide Carvalho, de O Globo, usou deste
recurso para, com imensa sutileza, chamar de pouco versados no vernáculo os
coleguinhas que embarcaram, por sua fissura condenatória, na ridícula história
de “ordem para destruir o e-mail” que teria sido dada pelo empresário Marcelo
Odebrecht a seus advogados e apreendida pela Polícia Federal.
“Segundo o dicionário Houaiss, consultado pelo GLOBO, destruir não
significa apenas destroçar, causar perda ou desfazer algo, mas também “produzir
efeito negativo sobre (algo)”, desarmar ou desfazer a
tática de um adversário.
Como o e-mail está nos autos do
processo, é obvio que o “destruir” não era físico, mas jurídico. Se a
Cleide tivesse citado o Aurélio, está lá: “reduzir a nada”…
Mas importou pouco ou coisa alguma.
Nem mesmo que fosse totalmente
ilógico o camarada mandar “destruir” fisicamente um e-mail que está no
processo, digitalizado e com “n” cópias.
Até a Folha/SP que, a princípio, não
“embarcou” no expediente pueril, agora se “redime” deslocando para a manchete a
nota que diz que o bilhete “revela a tática da defesa” – para os produtores de
escândalos seletivos.
Uma chusma de repórteres ingênuos,
entremeada por alguns sujeitos que se entregaram de pena e alma à Polícia e ao
MP em troca de colocarem suas canequinhas sob os vazamentos que produzem, nem
quer saber de nada e produz o absurdo como fato real.
E, nas redações, encontra editores
capazes de fazer qualquer coisa tem o maior escândalo do dia…
Imagino os delegados se perguntando se
“este tal Houaiss não era um esquerdista? Não era filiado ao PSB e pior, cotado
como candidato a vice de Lula em 89?”
Então deve ter feito isso no dicionário
para encobrir a empreiteira e livrar o Lula…
Como? Houaiss morreu em 1999?
Isso não vem ao caso…
Minha geração – que não tinha nem o
Google – cansou de ir ao “pai dos burros”: Aurélio, Caldas Aulete…quando chegou
o Houaiss foi um maná dos céus.
A nova, ao menos em parte, está órfã.
PS. A matéria da Cleide, com
o advogado Ricardo Sayegg, sobre as barbaridades jurídicas da
apreensão das notas aos advogados é ótima. Mas como ninguém liga mesmo para
lei, nesta época infeliz da vida brasileira…
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