O que você precisa saber
sobre as pedaladas
fiscais e o TCU
Paulo Nogueira
Você que consome notícias nas grandes empresas de jornalismo vai ouvir falar freneticamente do TCU nos próximos dias.
Já está ouvindo, a rigor.
Não porque se trate de um assunto de extraordinária importância. Mas porque os editores e colunistas da Globo, Veja e Folha acham que isto vai manter no ar a palavra impeachment.
Eles pensam, assim, agradar a seus patrões, e na verdade agradam mesmo.
Numa entrevista recente, o presidente da Globo, Roberto Irineu Marinho, RIM para os que se comunicam com ele no correio eletrônico global, afirmou que a empresa tem boas relações com o governo Dilma.
Caro RIM: como disse certa vez Wellington, quem acredita nisso acredita em tudo. Boas relações a Globo teve com a ditadura e, posteriormente, com os governos que ela controlava, de Sarney a FHC.
A questão do TCU não vai dar em nada, e os mais espertos sabem disso, mesmos entre os que profetizam o fim de Dilma.
Mas é importante para manter Dilma na defensiva e, com ela, Lula, o fantasma que apavora a direita para 2018.
(Para quem quer detalhes, recomendo uma reportagem da BBC).
Se tribunais de contas fossem instâncias de vida e morte para governantes, não sobraria nenhum governador tucano de São Paulo.
No Palácio dos Bandeirantes, Covas colocou, no TCE de SP, seu braço direito, Robson Marinho.
A jornalistas que na época questionaram se haveria conflito de interesses, ele respondeu que ninguém melhor que um amigo de confiança para uma função tão vital como a de fiscalizar as contas do governo paulista. Vale dizer, as dele próprio, na ocasião.
Robson Marinho enriqueceu, nestes anos todos. Mas está impedido de desfrutar de parte da fortuna porque a Suíça congelou uma conta milionária sua num banco local por entender que era abastecida por corrupção.
Mesmo diante da atitude da Suíça, Robson Marinho foi mantido no TCE, do qual só há pouco tempo foi, enfim, afastado.
A mídia jamais se incomodou com sua permanência no TCE, e consequentemente nem Alckmin por não sofrer nenhum tipo de pressão.
Mas agora, por uma mistura de hipocrisia e oportunismo, um tribunal de contas vira uma preocupação monumental para quem enxerga nisso uma chance de atazanar Dilma.
A tática é a de sempre: você mantém o assunto nas manchetes, e ouve os políticos que você sabe que gritarão frases pseudomoralistas.
A rigor, os jornalistas da grande mídia podem até economizar um telefonema. Como Elio Gaspari fazia na Veja na década de 1980, podem inventar declarações. Porque as fontes toparão qualquer coisa, num casamento obsceno de conveniência.
“Pedaladas fiscais”, o pecado do qual Dilma é acusada, é um expediente comuníssimo nas corporações, incluídas, evidentemente, as jornalísticas.
Em meus anos de executivo na Abril, cansei de ver isso acontecer. Você segura alguns pagamentos, antecipa certas receitas – e acerta tudo no exercício seguinte.
As empresas usam este expediente para mostrar ao mercado que estão atentas à coluna de gastos e ao chamado bottom line, a linha que define lucro ou prejuízo.
Para os executivos das corporações, é uma manobra para garantir ou aumentar bônus num determinado ano.
Mas, como se trata de pegar Dilma, vale tudo.
Alguém tem dúvida de que FHC pedalou em seus anos de presidência? Apenas isso não era assunto porque FHC era um amigo fiel da plutocracia.
Não vai acontecer nada agora, como não aconteceu antes.
Mas quem consome notícias das grandes empresas de mídia vai ficar com o coração batendo rápido nas próximas semanas, caso tenha qualquer simpatia por Dilma e os 54 milhões de votos que a reconduziram ao cargo no final do ano passado.
Minha recomendação, neste caso, é a de sempre: fugir da grande mídia em nome não da sanidade.
E também para evitar que você fique muito mal-informado.
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