Fracasso da novela 'Babilônia' marca o fim da tevê como a conhecemos
Paulo Nogueira
A Globo vive num regime de autoilusão, como se pode verificar pela entrevista com o diretor-geral Carlos Schroder publicada pela Folha.
Perguntaram a Schroder sobre o fiasco da novela Babilônia, que dias atrás cravou 17 pontos no Ibope em São Paulo, um extraordinário recorde negativo na trajetória das novelas da Globo.
Schroder achou vários culpados.
O primeiro deles, naturalmente, é o povo brasileiro, “mais conservador” do que as pessoas imaginam.
Depois, ele citou uma novela da Record e outra do SBT.
Admitiu, ligeiramente, que alguma coisa na trama “não funcionou”.
Schroder só não tocou na maior razão do fracasso: o declínio veloz da televisão como mídia na Era Digital.
Rapidamente, a tevê como conhecemos caminha para o mesmo local reservado a jornais e revistas: o cemitério.
Considere o slogan do aplicativo de vídeos que a Reuters acaba de lançar: “A tevê de notícias para quem não vê tevê”.
O consumo de vídeos está cada vez menos na televisão e cada vez mais na internet.
No campo do entretenimento, sites como o Netflix e agora a Amazon oferecem uma fabulosa quantidade de séries, filmes e documentários.
Você vê quando quer, na hora que quer, o que quiser.
No campo das notícias, vídeos selecionados pelas comunidades são postados nas redes sociais, e ali consumidos – fora das emissoras tradicionais.
Uma parte expressiva dos vídeos que viralizam nas redes sociais é produzida pelos próprios internautas – ao flagrar cenas notáveis no dia a dia, como a surpresa que aguardou o dono de um automóvel que parou numa vaga de deficientes.
No esporte, você começa a ter a opção de assinar canais específicos para ver o que deseja – sem ter que comprar um pacote caro de tevê por assinatura.
Sabia-se faz tempo que a internet ia matar jornais e revistas. Mas não se imaginava que a tevê se transformaria tão celeremente na próxima vítima.
Uma pesquisa recente nos Estados Unidos mostrou que o número de pessoas que não se imaginam sem internet e celular cresceu vigorosamente nos últimos anos, na mesma medida em que decresceu o contingente dos que não podem viver sem tevê.
No Brasil, um levantamento deixou claro que televisão é hoje uma coisa para um público velho e com baixo nível de educação, exatamente o oposto daquilo que os anunciantes buscam.
A Globo, neste sentido, é a próxima Abril.
Caíram todas as circulações das revistas da Editora Abril nos últimos anos. A única falsamente estável é a da Veja, graças a manobras (custosas) que inflam artificialmente os números, e que os anunciantes fingem não ver.
Do mesmo modo, todas as audiências da Globo são uma sombra do que foram antes do surgimento e expansão da internet.
O Jornal Nacional luta para se manter na casa dos 20 pontos, marca que seria uma tragédia há dez anos.
O Fantástico já escorregou para baixo dos 20, e ninguém mais comenta o que ele deu ou deixou de dar.
Quando, no futuro, alguém for estudar a história da tevê convencional, Babilônia será citada provavelmente como um capítulo especial.
Babilônia, com sua miséria de Ibope, é o grande marco do fim da tevê como a conhecemos.
A culpa não é do povo, como quer a Globo, mas de uma coisa chamada vida, ou mercado, como você preferir.
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