Por que a Globo não cobre
os escândalos do futebol,
segundo Ricardo Teixeira
Kiko Nogueira
Depois que o Jornal Nacional dedicou 14 minutos ao escândalo da Fifa no dia em que ele estourou, a cobertura do caso na Globo foi mirrando.
A renúncia de Blatter foi praticamente ignorada, embora houvesse uma chamada dos apresentadores para “as novidades da investigação”. Não havia novidade alguma, a não ser o fato de que Blatter admitia não ter apoio para continuar.
O modo como a emissora fala da roubalheira no futebol evidencia sua saia justa diante da situação de cumplicidade. Isso vem de longa data, evidentemente. E quem foi mais explícito sobre essa relação delicada? Claro, o ex-presidente da CBF Ricardo Teixeira.
Em 2011, a revista Piauí publicou uma longa e reveladora matéria com Teixeira. Ele e a repórter Daniela Pinheiro se encontraram em Zurique dez vezes. O entrevistado fala muito e de quase tudo, mas o assunto principal é sua relação íntima com a TV Globo (em contraposição a seu ódio mortal do valente jornalista britânico Andrew Jennings, autor das reportagens mais devastadoras sobre a corrupção no esporte).
“Só jornalista fala mal de mim”, diz. Não os da Globo. E se orgulha por que sua parceira não repercute as denúncias de irregularidades. “Só vou ficar preocupado, meu amor, quando sair no Jornal Nacional”, afirma.
Um empresário lhe confidencia que tinha receio de ser entrevistado sobre pacotes de viagem para a Copa de 2014 e lhe indagarem sobre “preços estratosféricos”. Ele já combinara tudo. “Não vai ter isso, não: está tudo sob controle”, declara o cartola.
A blindagem de RT contribuiu para a prosperidade de ambos. Daniela faz referência a um Globo Repórter sobre a CPI da Nike em que se deixava claro que o estilo de vida do empresário era incompatível com sua suposta renda. Ele dá o troco alterando o horário de uma partida entre Brasil e Argentina. Segundo Teixeira, aquela foi a última ocasião em que saiu uma matéria negativa sobre a CBF.
“Quanto mais tomo pau da Record, fico com mais crédito na Globo”, afirma. “Em 2014 posso fazer a maldade que for. Não dar credencial, proibir acesso, mudar horário de jogo. E sabe o que vai acontecer? Nada”.
Depois de um longo e tenebroso inverno, com a pressão do FBI no cangote, a Polícia Federal resolveu indiciar Ricardo Teixeira por quatro crimes: lavagem de dinheiro, evasão de divisas, falsidade ideológica e falsificação de documento público. A Justiça americana apura contratos possivelmente fraudulentos entre ele e o secretário geral Jérome Valcke.
Fica a dúvida sobre se a lei do silêncio da Máfia vai sobreviver a esse novo capítulo.
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