quinta-feira, 10 de abril de 2014

Alemão diz que Marina ia suspender acordo de tecnologia nuclear a Dilma barrou-a. Fez muito bem


 Fernando Brito                            
geracaobrxalem
Tem grande destaque no site da agência de notícias alemã Deutsche Welle a declaração do ex-ministro alemão do Meio Ambiente, Jürgen Trittin, do Partido Verde, de que ele e a ex-ministra Marina Silva tentaram encerrar o Acordo Nuclear Brasil-Alemanha e foram impedidos por Dilma Rousseff, então Ministra das Minas e Energia.
Dilma fez muito bem nisso e só quem não conhece a história da tecnologia nuclear no Brasil pode achar simpática esta sandice de tirar do Brasil a capacidade de desenvolvê-la.
Para começar, ninguém cogita, hoje, no Brasil de construir bombas nucleares, embora Fernando Henrique Cardoso tenha sujeitado o país ao que nem a ditadura americanófila que tivemos aqui fez: aderir unilateralmente ao Tratado de Não-Proliferação de Armas Nucleares.
Não fazê-las é uma coisa, mas nos proibirmos de desenvolver conhecimento e domínio dos processos tecnológico-industriais dos combustíveis nucleares sem que os países que detêm tecnologia bélica nuclear se desarmem também é outra, bem diferente.
Mas o campo aqui é o da energia.
Antes do acordo com a Alemanha, feito nos anos 70, tínhamos um acordo com o EUA que resultou na compra da problemática usina de Angra I, fabricada pela Westighouse, vendida como pacote fechado, sem a inclusão de transferência de conhecimento sobre os processos de enriquecimento de urânio.
Três anos depois, os americanos anunciaram que não venderiam mais urânio enriquecido e ficamos pendurados no vazio.
O acordo com a Alemanha veio como resposta a esta situação e foi a partir dele que desenvolvemos o conhecimento significativamente avançado que temos hoje de tecnologia nuclear.
O Brasil não usa senão marginalmente a energia nuclear na sua matriz energética:  ela representa menos de 2% do total de nossa produção energética. Na França, são 40%, na Suécia 33%, na Alemanha, 18% e nos EUA, 10%.
Exceto na Alemanha, nenhum deles fala em desmontar suas plantas nucleares.
E isso deixa aquele país mais “limpinho e cheiroso”?
Ao contrário, sequer consegue cumprir as cotas de emissão de CO2: entre 2011 e 2012, a produção de energia com carvão aumentou muito:  4,7% com linhito e 5,5% com hulha, 5,5%.
Com toda a propaganda sobre as usinas eólicas e solares, a fonte de energia que mais cresceu na Alemanha na primeira década do século 21 foi a fóssil:  o carvão (hulha e linhito) responde por 44% da geração elétrica alemã.
O mundo nunca produziu tanto carvão, o mais poluente dos combustíveis.
A produção mundial de carvão aumentou 69% entre 2000 e 2012, atingindo 7,9 mil milhões de toneladas.
E rendendo muito dinheiro: atraíram investimentos de 118 bilhões de euros, 70% deles vindos de apenas 20 bancos gigantes, liderados pelo Citi (7,29 bilhões de euros), seguido do Morgan Stanley ( € 7,23 bi), Bank of America (6,56 bi ), JP Morgan Chase, Deutsche Bank, Crédit Suisse, Banco Industrial e Comercial da China, Royal Bank of Scotland, Bank of China e BNP Paribas.
As pessoas que, com razões respeitáveis, têm restrições à energia nuclear à energia nuclar não podem entrar de gaiato numa história que nos veda acesso a conhecimento científico e a comportamento que elas próprias não têm.
Afinal, quando perguntaram aos alemães se o carvão deveria ser abolido como fonte de energia no país, 80% deles disseram que não.
Nos olhos dos outros é refresco, não é?

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