segunda-feira, 21 de abril de 2014

Cadê o pessoal do “Padrão Foca”? A hipocrisia dos #nãovaitercopa nunca fez um #nãovaiterF1

 Fernando Brito           
             boxesinterlagos
Não tenho nenhum fetiche com Copas do Mundo. Ou com Olimpíadas. Ou com Rock in Rio. Ou com festa de qualquer espécie.
Para não ser mentiroso, só algumas  me agradam e a elas tenho faltado nos últimos anos: os reencontros com meus amigos de faculdade, que conheci há quase 40 anos, um momento raro em que todos – ou eu, ao menos,  - podemos ao mesmo tempo conversar a sério e também agir feito uns bobalhões, sempre unidos por uma fraternidade e carinho que nos mantém jovens.
Inclusive a mim, que sempre fui um “velho”, como diz meu filho, mesmo quando era “novo”.
O que não me impede, ao contrário, de reconhecer a festa, a alegria, até uma certa insensatez (a gente enche o saco de ser sensato todo o tempo, né?) como algo próprio e indispensável para as coletividades humanas e de lembrar das palavras de Leonardo Boff de que “a festa é o tempo forte da vida, onde os homens dizem sim a todas as coisas”.
Mas vejo um imenso festival de hipocrisia neste “estamos gastando um dinheirão na Copa, que poderia estar sendo gasto em saúde, educação, etc…”
É claro que gastamos pouco – sobretudo porque temos pouco para gastar – em saúde, educação, etc…
Mas o que gastamos todo ano em saúde e educação é muitas vezes mais do que está sendo gasto na Copa.
É curioso que não se aplica o mesmo raciocínio, na mídia e no senso comum, que gastamos nos vários anos de preparação da Copa o equivalente a dez vezes menos tudo  o que consumiram os juros de nossa dívida por ano, por exemplo, que foram R$ 265 bilhões.
Ou se quiserem uma comparação mais efetiva: a Copa gastou muito menos que o que se economizou, em 2011, com a redução das taxas de juros durante o período em que Dilma cometeu a “heresia” de enfrentar o “mercado”, de agosto de 2011 e outubro de 2012.
Foram R$ 40 bilhões de economia em um só ano, em valores atualizados, quase o triplo do que está saindo em seis ou sete anos de gastos orçamentários da União e dos Estados com as obras de mobilidade urbana e outras que têm ligação com a Copa. Mesmo se considerados os gastos privados e os empréstimos feitos para a construção dos estádios, ainda assim a “caixinha” feita com a redução dos juros dá para cobrir e sobra muito dinheiro.
E você, prezado amigo e querida amiga, viu alguma grita contra a alta de juros?
Ou, ao contrário, viu protestos contra essa “heresia”, que ameaçou espantar os turistas do capital estrangeiro?
Alguém aí sabe apontar algum “legado” desta grana que se foi com os juros?
Ou viu algum cartaz pedindo escolas ou hospitais “padrão Selic”?
Isso é de um primarismo mental tão grande que se derruba com algumas perguntinhas básicas.
Alguém reclama de São Paulo gastar uma fortuna para promover a Fórmula 1? Ou não é consenso que o GP, que é infinitamente menor em termos de repercussão mundial do que uma Copa do Mundo é um bom investimento para a  Cidade?
Mas o que tem uma coisa a ver com a outra? Tudo.
Vejamos.
A última “facada” da Foca (a Fifa do automobilismo) em São Paulo foi de quase 200 milhões e não vi ninguém dar um pio. E basicamente para refazer os boxes do autódromo, que não têm nenhuma serventia senão abrigar os carros e os mecânicos!
Um espaço para abrigar 20 carros e 300 ou 400 mecânicos e trocadores de pneus custar quase 25% do preço de um estádio para 60 mil pessoas não deveria ser motivo para indignação? E o estádio é financiado e o empréstimo vai ser pago, enquanto o autódromo é a fundo perdido….
E o legado? A F-1 deixa alguma avenida, VLT, BRT, Metrô, aeroporto, parque, alguma coisinha para a cidade e a população, além do movimento turístico de três dias?
Nadica de nada!
Mas ai do seu Haddad se se recusa a gastar essa dinheirama no autódromo e perde o GP para outra cidade!
Ia ser de incompetente, populista, irresponsável para baixo!
Os mesmos comentaristas de rádio, jornal e televisão que desancam a Copa iriam desancá-lo.
Também não tem escola e hospital “padrão F-1″ nem “Padrão Foca”…
Ou será que é diferente quando é um negócio milionário para a Globo?

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