segunda-feira, 14 de abril de 2014

Os ataques da Folha de São Paulo ao Ipea na Venezuela                          


Gilberto Maringoni                                                                          


                         

FOLHA AGORA ATACA IPEA NA VENEZUELA
por Gilberto Maringoni

Folha de S. Paulo de quinta-feira passada (10) fez novo ataque ao Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). O torpedo se volta o relevante trabalho desempenhado desde 2010 pela Missão Ipea na Venezuela, que deveria ser a primeira de uma série de iniciativas de integração regional. Outros escritórios seriam abertos em países do Mercosul. Não serão mais, pela mudança de rumos ocorrida no Instituto.

Aproveitando o embalo dos problemas na consolidação da pesquisa sobre violência contra as mulheres, o jornal busca desqualificar o trabalho inovador realizado por Marcio Pochmann à testa do Instituto (2007-2012). O correto seria buscar entrevistar o atual presidente do Ipea. Mas não. E isso tem razões claras. Marcio provocou uma verdadeira revolução nos trabalhos do órgão. O número de pesquisas e publicações aumentou sensivelmente, bem como os campos de análise. 

O Ipea abriu-se para áreas que iam além da economia, abrangendo sociedade, antropologia, cultura, história e relações internacionais. Seus estudos tornaram-se referência não apenas para órgãos governamentais, mas também para entidades associativas e movimentos sociais. A pauta dominante convergia para temas ligados ao desenvolvimento.

Como se sabe, Dilma Rousseff retirou o desenvolvimento da agenda nacional e realiza um governo de perfil ortodoxo e medíocre na seara econômica. Com isso, a gestão de Pochmann passou a ser um incômodo. Por pressão de Wellington Moreira Franco (PMDB-RJ), nomeado ministro da Secretaria de Assuntos Estratégicos na partilha de cargos para compor a base aliada, a presidenta decidiu nomear o economista Marcelo Neri para a presidência da instituição. 

Neri(foto) desposa teses abertamente neoliberais e focou os trabalhos na incerta “nova classe média”. Um de seus objetivos é acabar com as missões no exterior. Para isso, a Folha/SP dá sua 'desinteressada' ajuda. Os termos da matéria são levianos, a exemplo deste: “Única representação internacional do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), a filial do órgão na Venezuela prioriza análises favoráveis ao chavismo e projetos de integração com o Brasil ao estudo dos graves problemas macroeconômicos do país”. 

O chefe da missão na Venezuela é o economista Pedro da Silva Barros(foto), doutor pela FEA-USP. Em menos de quatro anos, ele produziu e coordenou dez relatórios específicos no âmbito da cooperação bilateral, com temas ligados à urbanização, indústria petroquímica, desenvolvimento na região da fronteira, integração produtiva entre os dois países etc.), oito cursos sobre negociações internacionais e políticas públicas, dois livros, seis artigos e relatórios de pesquisa, participação em 21 seminários, conferências, palestras e debates, três congressos acadêmicos e várias publicações em jornais, revistas e sites. Os dados constam de memorando enviado pelo economista ao jornal paulistano.

Folha/SP reclama que o tom dos trabalhos ”varia entre o neutro e o elogioso ao chavismo”. Não é verdade. O problema é que a mídia brasileira – useira e vezeira em distorcer fatos sobre o país – só acha relevantes e com credibilidade matérias que ataquem de frente os governos Chávez e Maduro. Por omitirem conquistas reais – como elevação da qualidade de vida, fim do analfabetismo, melhoria da distribuição de renda etc. –, tudo o que não faça coro com uma cobertura, no mais das vezes enviesada, significa “politizar” as coisas, como malandramente insinua a matéria. 

O texto do jornal critica ainda o fato de Pedro Barros escrever e opinar sobre a política venezuelana em sites e blogs. Ou seja, um jornal que alega defender com unhas e dentes a liberdade de expressão quer impedir justamente a liberdade de expressão. 

Em tempo: fui bolsista do Ipea entre 2008 e 2011 e editor da revista ‘Desafios do desenvolvimento’ entre 2011 e 2012.

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