terça-feira, 15 de abril de 2014

PASADENA

Graça Foster mantém discussão técnica e afirma: 'Não existe operação 100% segura'

Para presidenta da Petrobras, apesar do prejuízo com a aquisição de refinaria nos EUA, estatal teve avanços nos últimos anos. Sua fala no Senado passou ao largo das especulações políticas da oposição
Hylda Cavalcanti                                    
GERALDO MAGELA/AGÊNCIA SENADO
graça foster
Graça: "Estudos técnicos na época da aquisição de Pasadena apontavam para a perspectiva de um bom investimento"
Brasília – A presidenta da Petrobras, Maria das Graças Foster, reconheceu nestya terça (15), durante a audiência pública realizada na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado, que a estatal teve prejuízo com a compra da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos, mas afirmou que existem mil projetos em execução por parte da companhia e todos bem-sucedidos. Segundo ela, estudos técnicos elaborados por consultorias internacionais sobre Pasadena, na época da aquisição, apontavam para a perspectiva de um bom investimento. O problema, de acordo com Foster, é que não foram apresentadas duas cláusulas importantes no resumo executivo da diretoria administrativa da companhia que autorizou a compra – fato cuja culpa atribuiu à diretoria internacional naquele ano (2006). A despeito do uso político deste episódio pelos partidos de oposição ao governo federal, Graça manteve sua explanação no nível essencialmente técnico.
A dirigente afirmou, ainda, que a situação dos dois ex-diretores envolvidos na crise que afeta a estatal tem causado constrangimentos para os seus trabalhadores e confirmou que o valor desembolsado pela Petrobras com a compra de Pasadena chegou a US$ 1,25 bilhão no total – quando a mesma refinaria foi adquirida pela empresa Astra Oil, da Bélgica, anos antes, por US$ 42,5 milhões. Foster apresentou gráficos e tabelas sobre a situação contábil da companhia e reiterou que o valor contabilizado, do prejuízo com a operação (tida na época como estratégica), foi de US$ 530 milhões.
Por sua vez, destacou que embora Pasadena não tenha sido um investimento bem sucedido, não existe operação 100% segura. De acordo com ela, o ex-presidente, Sergio Gabrielli, quando disse no Congresso, recentemente, que Pasadena tinha sido “uma boa compra”, deve ter-se referido à expectativa existente na época da aquisição e não ao que tinha significado realmente toda a operação.
A possibilidade de compra de Pasadena começou a ser avaliada, contou Graça, em 2004, quando foram desenvolvidas as ações estratégicas da Petrobras com vistas ao ano de 2015 e ainda não tinha sido descoberto o campo de pré-sal, nem a programação de ampliação do parque de refino no Brasil. “O que existia era uma orientação de ampliar a produção do campo de Marlin, que é responsável por um óleo mais denso”, frisou. Pasadena, de acordo com a presidenta, é uma refinaria que produz 100 mil barris por dia e possui em sua estrutura, encontros de tancagens que favorecem a movimentação de carga.
Tamanha infraestrutura permite melhores parcerias entre refinadores, além de um conjunto de outras vantagens que lhe dão uma determinada importância no mercado de combustíveis. “Além disso, nos coloca dentro de um dos maiores mercados do mundo, por sua localização”, enfatizou. “A Petrobras queria capturar a margem de refino do petróleo com a refinaria e a captura de derivados de petróleo, de forma a agregar maior valor a esses derivados. Em função disso, na ocasião, a aquisição de Pasadena foi tida como uma boa ação estratégica”, acentuou.
Conforme a dirigente, duas grandes consultorias internas apontaram efetivas oportunidades para a Petrobras, se passasse a operar numa refinaria localizada no Golfo do México. Sem falar que foram feitos todos os estudos de viabilidade técnica e econômica. Graça Foster reconheceu, no entanto, que estes mesmos estudos de viabilidade também apresentaram ressalvas, mas a posição foi favorável à compra.

Cláusulas

Em 3 de fevereiro de 2006, contou ela, o Conselho Administrativo da Petrobras já tinha aprovado a compra de 50% da refinaria de Pasadena por unanimidade, mas em nenhum momento do resumo executivo do conselho, se falou nas cláusulas Marlin e Put Option existentes no contrato a ser assinado – que não foram abordados pelos antigos diretores da empresa. A cláusula Marlin exigia um lucro mínimo anual à empresa Astra Oil – detentora dos outros 50% da refinaria, independentemente do mercado. A segunda cláusula – Put Option – estabelecia que em caso de litígio, uma das duas empresas (Petrobras e Astra Oil) teria de comprar a parte da outra.
O conselho aprovou a compra e não houve menção à obrigatoriedade de comprar os 50% remanescentes da refinaria. “É obrigação de quem leva para a diretoria, na indústria de petróleo e gás, apontar os pontos frágeis e lucrativos desse tipo de operação. No caso de Pasadena a cláusula Put Option, considerada uma cláusula de saúde, é absolutamente normal, mas tem que ser muito discutida”, colocou.
De acordo com a presidenta, quando começou a ficar conflituoso o relacionamento entre a estatal e o grupo Astra e diante da convicção de que a parceria não iria prosperar, a Petrobras fez uma carta de intenções propondo adquirir a outra parte de Pasadena – os 50% restantes – por US$ 788 milhões. Mas o Conselho Administrativo não concordou porque não tinha sido apresentada, lá atrás, a intenção de compra dos outros 50% da refinaria. No final, segundo a presidente, os 50% de Pasadena foram comprados por um valor maior que o proposto: US$ 821,5 milhões. O valor que resultou em US$ 1,25 bilhão no total, incluiu custos e investimentos feitos para viabilizar a aquisição.
“Na época, foi um empreendimento de baixo retorno sobre o capital investido e reconhecemos US$ 530 milhões de perdas em Pasadena. Por outro lado, a partir da aquisição, garantimos um ativo de qualidade. É uma refinaria que opera bem hoje e tem dado resultados positivos”, frisou. Ainda sobre Pasadena, Graça explicou que no período de 2005 a 2007, foi justamente o que se chamou de “era de ouro” das margens de refino. “Nós somos uma empresa integrada, mas em algumas aquisições o valor pago por refino fica mais alto ou mais baixo. Temos que olhar a complexidade do refino no momento da aquisição da refinaria e, no Brasil, tivemos um aumento nessa complexidade”, disse.

Ex-diretores

Graça Foster deu respostas evasivas sobre as acusações de que a estatal, nos governos de Lula e Dilma Rousseff passou a privilegiar indicações mais políticas do que técnicas para a diretoria, mas partiu em defesa do corpo de empregados da estatal como um todo. Como profissional que fez carreira na companhia, tendo começado a trabalhar lá ainda como estagiária, ela afirmou que “graças aos empregados da Petrobras, não vivemos no abismo da ética”. A resposta teve como destinatário o senador Álvaro Dias (PSDB-PR), que usou o termo para falar sobre o comportamento dos ex-diretores denunciados por operações irregulares durante a aquisição de Pasadena – Nestor Cerveró e Paulo Roberto Costa (este último, preso pela Polícia Federal).
“Todos os contratos relacionados à eventual ou potencial participação do Paulo Roberto estão sendo avaliados. Todas as interfaces estão sendo apuradas. É o trabalho que podemos fazer, de monitoramento, de melhoria da governança, mas a diretoria, tanto a atual quanto a anterior, é uma diretoria técnica. Sobre a atual, eu tenho responsabilidade", ressaltou.

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