terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Renato Meirelles, do 'Data Popular': 'Rolezinho' não é movimento político

Jornal GGN – Em entrevista ao GGN, Renato Meirelles, presidente do Data Popular, traça o perfil dos jovens desta nova classe média. Hoje, no país, cerca de 9 milhões, dentre os 30,7 milhões de jovens, pertencem à classe C e carregam com eles um poder de consumo de R$ 129,0 bilhões. Os jovens das classes A e B, juntos, não têm este poder, pois possuem R$ 80 bi e R$ 19,9 bi, respectivamente.
É uma diferença grande. E este universo pede uma compreensão nova, não só quando o tema é rolezinho, mas também quando entramos no universo do consumo, da política e da nova conformação social vista pelo país nos últimos anos. A política não é parte do universo destes jovens, que são movidos mais pela democratização do consumo e pela posse dos espaços do que por ideologias. São movidos por redes sociais e pelo comando de outros jovens, com milhares de seguidores, mas sem a política em si, apesar de ser um movimento político pela quantidade de seguidores.
Não é fácil analisar. Análise pede conhecimento deste novo universo, e pede reconhecimento da importância que esses jovens dão à sua vida, às suas conquistas e ao futuro. 
A entrevista, que aconteceu na redação do GGN, traz este novo público à luz dos novos tempos. Renato Meirelles diz que novos tempos pedem novos tipos de análise. Não basta ler números, é preciso entrar na realidade deste novo público, entender para poder analisar. O Data Popular uniu-se a outro grupo e formou o Data Favela, tornando-se a tecla SAP dos novos acontecimentos do país, captando as novas mudanças por diferentes aspectos. A elite, hoje, 44% dela é a primeira geração que tem dinheiro. Um comportamento e visão de mundos que passam por um novo viés de vida, já que entende o mundo de forma diversa. É preciso ter a capacidade entender que mensagem esta nova conformação nos traz.
Cada vez mais as pessoas vão se mobilizar por grandes causas, unindo diferentes. É preciso saber como criar frentes e não se deixar cooptar por doutrinas. O jovem, hoje, não se liga em partidos, mas sim em causas. E, ainda, é muito mais tolerante e mais afeito a seguir exemplos. Não é o discurso que o traz para a luta, o que o comove é a causa em si.
A análise política sobre os rolezinhos confunde duas coisas básicas. A questão primeira é que rolezinho não é um movimento político, no sentido de não ser uma ideologia o que move esses jovens. Mas é claro que 6 mil jovens dentro do shopping é um fenômeno político, não importando se a motivação foi política ou não. “A gente consegue ver uma defesa dos direitos civis, de ser contra o preconceito, e a esquerda defende isso com propriedade e, a meu ver, com razão, porque ninguém pode ser conivente com qualquer tipo de preconceito ou de segregação no Brasil. Por outro lado também tem que entender que o que levou os jovens ao shopping e à escolha do shopping tem muito a ver com a democratização do consumo que o nosso país tem”, afirma Renato Meirelles.
O otimismo é fator fundamental na vida da nova classe média. É este otimismo que os faz estudar mais, empreender mais e acreditar mais em futuro melhor. A nova classe média entende que o formador de opinião, para ela, não é o apresentador de telejornal ou o artista de novela, hoje os filhos desta nova classe média estudou mais que seus pais, e se torna a fonte de informação dentro da família. Ele é a fonte da informação e vem de um cenário diferente de seus pais. Ele quer saber mais do futuro do país que seu pai.
A internet inaugurou a necessidade do diálogo. Se antes se tinha uma comunicação unidirecional, “poucos veículos de comunicação falavam pra todos com mecanismos que não tinha chance de diálogo, de troca, ou seja, só se escutava, não se ouvia “, explica Renato. A internet inaugurou o modelo multidirecional. “Todo mundo já ouviu que a televisão é uma grande janela para o mundo, pois bem, se a televisão é uma janela para o mundo a internet é uma vitrine para o mundo, ele não quer simplesmente saber o que acontece lá fora como ele quer mostrar a sua realidade para as outras pessoas”, diz ele. A internet, na era do diálogo, veio com a comunicação horizontal. “A única coisa que não vale, é proibir”, diz Meirelles. Os governantes aprenderam uma lição com as manifestações, amadureceu-se a democracia, com diálogo e transparência. “Com a internet é muito difícil mentir”, diz ele, lembrando que alguém sempre está filmando e, é claro, divulgando o outro lado da moeda.  Os organizadores de rolezinhos são jovens com 40 mil, 50 mil seguidores em redes sociais, o que faz que pequenas lideranças sejam evidenciadas via internet. E só vai se capitalizar isso se houver uma proposta nova, uma liderança que consiga capitalizar esses novos valores.
. “Quando houve a repressão policial na violência que todos nós observamos você sente uma sensação de comoção e o governo vem dizer que eu não posso protestar”, entende Meirelles, e completa afirmando que “ a lição foi aprendida pelos governantes e isso faz com que se dialogue com os moradores da cracolândia, se dialogue muito mais com os movimentos sociais e não vamos ter dúvidas, isto é muito benéfico para a democracia brasileira, isso é efetivamente um amadurecimento da democracia brasileira que exige, em primeiro lugar, diálogo, e em segundo lugar, transparência, porque o outro fenômeno da internet é de que é muito difícil mentir”, completa.
Diferente do que pensa o senso comum, colocando esses jovens na categoria de trombadinhas ou marginais, esses jovens, em sua grande maioria, são os filhos da nova classe média brasileira. São estudantes, pessoas que trabalham e não só usam o dinheiro do trabalho para comprar as suas roupas e os seus produtos mas também para ajudar a família. Aliás, que é um comportamento muito diferente dos jovens das classes A e B que, quando trabalham, ficam com todo o dinheiro e raramente ajudam na renda familiar. São jovens quenão tiveram o passado de restrição que os pais deles tiveram, que nunca passaram fome na vida e que cresceram neste momento de bonança econômica que nós estamos vivendo nos últimos dez anos. Esses jovens enxergam o consumo como uma forma de inclusão econômica, de inclusão social, é como se fosse o momento da celebração da melhora da qualidade de vida que ele viu a família dele ter nos últimos anos
A internet traz um novo conceito e uma nova forma de política. Não é a ideologia que comanda, mas sim a causa. O olhar da nova classe média é único, pois ele é muito mais tolerante, apesar de bandeiras conservadoras. O pensamento que norteia esta classe dá condições de enfrentamento de futuro visto de forma diversa das outras classes.

TAGS

Nenhum comentário: