A grande vantagem da democracia é que nenhum governante ou partido consegue dormir em cima dos louros da vitória. O país desenvolve-se etapa por etapa.
Quando uma etapa está prestes a se esgotar, surgem sinais nos horizontes, não muito claros, apenas indícios, insatisfações difusas que indicam o esgotamento do modelo em curso e a necessidade de se iniciar um novo ciclo.
Quem não decifra o novo, é devorado. Foi assim com Winston Churchill e Franklin Delano Roosevelt, duas das figuras referenciais do século 20. Já o medíocre Ronald Reagan teve o insight vitorioso sobre os ventos de liberalização da economia e quando o novo tempo chegou ele estava à frente.
Por sua vida e formação, e pela própria lógica partidária do PT, Lula entendeu os tempos da inclusão e da solidariedade social e tornou-se referência mundial.
O ciclo da inclusão se completou: daqui para frente é só garantir a manutenção.
Mesmo assim, hoje em dia, a radicalização política tornou-se uma batalha de retrovisor. Do lado da oposição, a tentativa cada vez mais débil de desqualificar o modelo inclusivo; da parte do governo, o acomodamento de julgar que o sucesso da etapa anterior é garantia de passagem para a nova etapa. Não é.
No vendaval dos oportunismos de toda espécie que sacudiram a Nova República, a bandeira dos despossuídos, dos não-organizados tornou-se peça chave na luta civilizatória. Os sindicalizados tinham os sindicatos para defendê-los; os setores econômicos, os partidos políticos e suas diversas associações; o poder econômico, de uma maneira geral, tinha a mídia. E quem defendia os que nada tinham? Lula entendeu a ajudou a criar uma nova classe de incluídos.
A sociedade civil brasileira ganhou maioridade. Há uma profusão de ONGs, movimentos, associações, sindicatos, organizações como nunca houve na história.
O país entra no estágio da sociedade norte-americana de meados do século 19, com um traço em comum: não querem ser meros agentes passivos; exigem participar da construção das políticas públicas em torno das quais elas desfraldaram suas bandeiras.
Dilma entendeu a importância de completar a inclusão social e de preparar a economia para novos investimentos, para a educação, a inovação.
Mas enredou-se em uma política de gabinete que a enfraquece politicamente, tornando-a mais vulnerável às pressões do Congresso e dos atores políticos antigos. Suas apostas têm esbarrado seguidamente em empecilhos criados pela própria burocracia pública e no não engajamento dos principais atores no processo, uma alienação típica de políticas de gabinete. As ideias não conquistam corações e mentes, não satisfazem nem os beneficiários de iniciativas nem os atores públicos.
Quando alguma demanda pública ganha dimensão maior - como ocorreu nas manifestações de junho de 2013 - supõe-se que tudo será resolvido com audiências pontuais, pequenos afagos que, até hoje, não resultaram em respostas satisfatórias.
A nova etapa política será do aprofundamento da democracia. O país ficou grande demais para comportar um novo grande pai, nos moldes do getulismo, pairando acima das forças sociais.
Sorte de Dilma é que a oposição parece entender os novos tempos menos ainda que o governo.
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