sábado, 22 de fevereiro de 2014

Lenta, gradual e frágil:               a democracia requer         atenção e zelo

O poder econômico e suas “assessorias de imprensa” estão sempre à espreita. E embora hoje dispensem a necessidade de se recorrer aos quartéis, são sempre uma ameaça à democracia
                         
ARQUIVO/AE
Aplausos
A elite paulistana aplaude a derrubada de Jango: meios de comunicação aderiram em peso
A passagem dos 50 anos do golpe civil-militar é uma oportunidade de discutir não só as circunstâncias, mas os efeitos para o Brasil, em termos de interrupção de projetos – de vidas, de esperanças. A história oficial, lida nos bancos escolares e divulgada nos meios de informação, tratava o movimento como “revolução”. E o pretexto, uma suposta sanha comunista. Até hoje, há quem alardeie um “perigo vermelho” em qualquer ação considerada mais avançada ou progressista.
Consumado, o golpe teve apoio quase unânime dos principais meios de comunicação. No ano passado, um desses jornalões chegou a fazer uma espécie de mea-culpa por tal postura. Outros se surpreenderam com a face violenta que logo emergiu. Das escolas e redações, estudantes e cidadãos foram privados de conhecimento e de informação, ferramentas básicas contra tentações autoritárias.
O avanço gradual da abertura democrática foi trazendo à luz algumas verdades. Soube-se que os comandos militares não foram os únicos executores e mandantes do golpe. Forças econômicas e civis moveram e financiaram a “revolução”, e empresas e o governo norte-americano participaram de todas as articulações para derrubar João Goulart.
Vieram a “abertura” gradual, a contestada Lei da Anistia, a resistência da linha-dura do regime, a campanha das Diretas Já (que completa 30 anos) e, finalmente, a volta das eleições. Foi difícil e doloroso, mas a democracia, com problemas e entraves, se consolidou. Neste ano, o país terá sua sétima eleição presidencial seguida, uma ­sequência inédita. Mas há quem se infiltre e tente jogar areia na engrenagem, o que reforça ainda mais o papel da comunicação transparente e livre, com diversidade de opiniões. O problema é que o poder econômico e suas “assessorias de imprensa” estão sempre à espreita. E embora hoje dispensem a necessidade de se recorrer aos quartéis, são sempre uma ameaça à democracia.

Nenhum comentário: