Em dez anos, seis em cada dez brasileiros estarão na classe média
Segundo Data Popular e Serasa Experian, a chamada 'classe C' (hoje 54% da população) tem poder de compra superior ao de 17 países, consome mais de R$ 1 trilhão por ano, e continuará em ascensão
Rodrigo Gomes
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DIVULGAÇÃO/DATA POPULAR
Crescimento e potencial de consumo da classe média pode ser melhor aproveitado pelo mercado aponta estudo
São Paulo – Mais 17 milhões de brasileiros devem subir um degrau da pirâmide estatística em direção à chamada classe média nos próximos dez anos. A estimativa foi divulgada hoje (18) pelo Instituto Data Popular e pelo Serasa Experian e é parte de um estudo que sustenta, ainda, que quase seis em cada dez brasileiros (58%) irão compor a denominada “classe C”. Atualmente, essa parcela da população tem um poder de consumo anual superior a R$ 1 trilhão, capacidade hoje superada por apenas 17 países do mundo.
Os institutos consideram “classe média” os domicílios cuja renda esteja entre R$ 320 e R$ 1.120 por membro da família. Uma família com um casal e dois filhos, por exemplo, é considerada estatisticamente de classe média se somar ganhos mensais de R$ 1.280 a R$ 4.480. De acordo com dados oficiais mais recentes, o Brasil tem hoje 54% da população nessas condições. Nos últimos dez anos, o número de pessoas incorporadas a essa camada da pirâmide cresceu em todas as regiões do país – 7% no Sul, 10% no Sudeste, 17% no Centro-Oeste, 19% no Norte e 26% no Nordeste.
Segundo o estudo, de R$ 1,17 trilhão gasto por este povo no ano passado, R$ 223,3 bilhões foram com itens de alimentação. O valor equivale ao consumo de toda a população de Bolívia, Paraguai, El Salvador e Uruguai. Outros R$ 71 bilhões foram investidos em saúde. E mais R$ 61 bilhões em vestuário.
O presidente do Serasa Experian, Ricardo Loureiro, explicou que o objetivo do estudo Faces da Classe Média é oferecer subsídio para melhorar as estratégias das empresas na oferta ao consumidor. “A economia vem crescendo. Há algumas dificuldades, mas ainda há um potencial surpreendente que os empresários podem explorar com mais eficiência”, avalia. Durante um ano foram ouvidas 3 mil pessoas de 150 municípios brasileiros e analisados os dados de 800 mil cadastros do Serasa Experian.
Para este ano, a classe média pretende consumir, com base no questionário do trabalho, 8,5 milhões de viagens nacionais e 3,2 milhões de internacionais. Outros 7,8 milhões de notebooks e 3,9 milhões de smartphones devem ampliar a população de conectados. Além desses bens de caráter individual, espera-se a aquisição de 7,8 milhões de móveis residenciais (traduzido como qualidade de vida), 6,7 milhões de aparelhos de televisão, 3 milhões de automóveis e 3,9 milhões de máquinas de lavar.
Este último item exemplifica as possibilidades que o estudo busca apontar. “Ainda há um potencial muito grande de consumo que não foi revelado. Metade da população ainda não tem máquina de lavar, por exemplo”, explica Loureiro.
Grupos econômicos
Para o presidente do Serasa Experian, não é mais possível tratar a classe média como um todo homogêneo. “A perspectiva do estudo é mostrar as características dos diferentes segmentos que a compõem. É um trabalho pioneiro no mundo e fomos capazes de identificar quatro grupos distintos”, disse. O levantamento traça quatro perfis, apontando ideais, desejos e comportamento dessa população. Foram usadas 400 variáveis, como perfil demográfico, estilo de vida, características do domicílio e localização geográfica, entre outros.
Os resultados dividiram o grupo social classe média em quatro segmentos: promissores, batalhadores, experientes e empreendedores.
Os promissores são 19% desse contingente (14,7 milhões de pessoas). Têm em média 22 anos, 59% possuem ensino médio completo e almejam o ensino superior. Adotam um ideal do tipo “trabalho duro para ter algo na vida”. Acessam a internet regularmente 72% deles e 51% consideram que se descontrolam ao utilizar o crédito. Gastam cerca de R$ 230 bilhões anualmente. Sua propensão ao consumo está voltada à educação, tecnologia, veículos, beleza, móveis e entretenimento.
Os batalhadores são pessoas que, em geral, passaram grandes dificuldades na vida e valorizam o que conseguiram. A maior parte deles é imigrante, ou seja, não vive em sua cidade natal. São pessoas com média de 40 anos e ensino fundamental completo. É o maior grupo, com 30,3 milhões de pessoas (30% da classe média). E o que mais compra a crédito: 68% parcelam as compras sempre que podem. É um grupo que passou a ter possibilidades de consumo nos últimos dez anos. E consome cerca de R$ 389 bilhões ao ano, sobretudo em imóveis, veículos novos, seguros, turismo nacional e eletrodomésticos.
“A vida melhorou muito. Antes era muito sofrido” é a frase síntese do grupo dos experientes. Um segmento em que 65% das pessoas já passou fome em algum momento da vida. Compreende 20,5 milhões de adultos (26% da classe média). Tem o maior número de mulheres, 58%. E 36% são trabalhadores autônomos. São considerados os mais conservadores, tanto nos valores quanto no consumo (65% sempre escolhem o produto mais barato). Esse segmento gasta anualmente R$ 274 bilhões, principalmente com móveis, saúde e turismo.
Por fim, a classe alta da classe C: os empreendedores. Este grupo tem boa perspectiva de subir para as classes B ou A. É o menor segmento, com 11,6 milhões de pessoas (16%). Destes, 78% são homens, com idade média de 43 anos, e 19% tem ensino superior completo. Seus grande interesses são: educação profissional, tecnologia, eletrônicos, veículos e turismo internacional. Possuem um potencial de gasto de R$ 276,3 bilhões por ano.
Condição de renda, não social
O estudo define três níveis de classe C: com renda per capita entre R$ 705 e R$ 1.120 (C1); entre R$ 485 e R$ 705 (C2); e de R$ 320 a R$ 485 (C3).
E considera na classe B famílias com renda per capita entre R$ 1.120 e R$ 2.728 e a classe A, acima disso. Já a classe D ganha entre R$ 89 e R$ 320. A classe E é a que tem renda média de R$ 89 por pessoa da família.
Sobre os parâmetros de renda, o presidente do Data Popular, Renato Meirelles, explica que o estudo aponta dados sobre consumo e não de condição social. “Não é um coisa do Brasil. O mundo todo é desigual. Metade das famílias brasileiras tem renda per capita de R$ 513. E os 5% mais ricos se destacam a partir de R$ 2.450 por pessoa da família. Então este é o parâmetro”. No mundo, segundo dados do Banco Mundial, 54% da população vive com renda inferior a R$ 320 mensais.
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