quarta-feira, 4 de dezembro de 2013


Votarei em Genoíno, assim que puder


Flávio  Aguiar   Flávio Aguiar                                 

Estou chocado, me sinto extorquido em minha condição de cidadão brasileiro. Nada mais tenho a acrescentar, além de minha indignação pessoal.

Acabo de ler que o deputado Genoíno renunciou a seu mandato.

Estou chocado, me sinto extorquido em minha condição de cidadão brasileiro.

Quando eu tinha sete anos, acompanhei  pelo rádio a notícia do suicídio do presidente Vargas, cuja deposição foi orquestrada pela mídia conservadora, e não se deve esquecer, por um órgão para-militar e para-judicial, chamado “a República do Galeão”.

O que era a “República do Galeão”? Era um misto de futuro DOI-CODI, onde inclusive se torturou, e tribunal de exceção, onde se espezinharam direitos mínimos da cidadania e das garantias individuais, em nome de “investigar” o “mar de lama” supostamente varguista e o atentado contra o jornalista Carlos Lacerda.


Seus inquisidores oficiantes eram oficiais da Aeronáutica, movidos pela mesma sanha que em abril de 64 assassinaria o tenente-coronel aviador Alfeu de Alcântara Monteiro.

Hoje vemos a mesma sanha lichativa na mídia conservadora, incapaz de aceitar, quanto mais deglutir suas sucessivas derrotas eleitorais.

Vemos o Supremo Tribunal Federal transformado numa “República do Galeão” ad hoc, devido à volúpia de poder de seu presidente.

Não houve tortura física, é evidente.

Mas houve tortura moral. O estalido  das algemas. A humilhação do transporte algemado.  A condução ao presídio. Quem já viveu isto, sabe. Tudo indevido. Aliás, ilegal, como a “República do Galeão”.

Depois, a discussão de uma junta médica sobre o estado de saúde de quem não tem direito a estado de saúde  – junta bovina no seu comportamento de quem está sob a canga da pressão midiática, jurídica e linchativa. Nunca – nunca desde os tempos do laudo de suicídio atribuído a Cláudio Manoel da Costa no processo dos Inconfidentes – a imagem médica no Brasil navegou tão baixo.


A situação da junta médica examinando se Genoíno podia continuar na cadeia ou não remete  àquela dos médicos que examinavam os torturados para saber se eles podiam continuar a ser torturados ou não. Ah, mas agora não se tortura, dirão os falsos Catões hipocráticos. Uma ova. Quem não ouviu falar de tortura moral? Nos cárceres estalinistas muitas vezes sequer se tocava no prisioneiro. Só se destruía a sua personalidade.

Genoíno renuncia.

Quem é Genoíno. Os dados da vida pública de Genoíno são conhecidos.
Acrescentarei apenas que Genoíno é o dedicado pai de família e vizinho (ex-vizinho, moro em Berlim) da Vila Indiana, Butantã, São Paulo, companheiro das reuniões de pais e mestres da Escola da Vila, na rua Barroso Neto.

Nada mais tenho a acrescentar, além de minha indignação pessoal.

E que voto nele, assim que puder.

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