Governo brasileiro ‘esnobou’ Boeing na escolha por caça sueco, avalia a imprensa internacional
- Segundo o NYT e o Financial Times, decisão ocorreu no momento de crise entre Brasil e Estados Unidos, desencadeada após denúncias de espionagem
RIO e PARIS - A decisão do governo brasileiro de comprar 36 caças suecos por R$ 4,5 bilhões repercutiu nos principais jornais internacionais. O americano “New York Times” e o diário britânico “Financial Times” disseram que o Brasil “esnobou” a fabricante de aeronaves Boeing, dos Estados Unidos, que também participava da disputa, há 12 anos, junto com a Dassault, da França. A escolha pelo Gripen NG (Saab), segundo os jornais, ocorreu em um momento de crise depois das denúncias de que o governo americano teria espionado estatais, assessores e até a presidente Dilma Rousseff. Já a imprensa francesa qualificou o resultado como um “fiasco”.
“O anúncio vem em um momento de crescente tensão entre os Estados Unidos e o Brasil. Em setembro, a presidente brasileira, Dilma Rousseff, cancelou uma visita de Estado aos Estados Unidos depois de revelações de que a Agência de Segurança Nacional (NSA) estava espionando chefes de Estado estrangeiros, inclusive ela. Em um discurso na Organização das Nações Unidas (ONU) naquele mês, Dilma atacou os Estados Unidos por sua intercepção ilegal de informações e dados”, diz o texto do NYT.
O jornal americano cita também o ministro da Defesa, Celso Amorim:
“Quando perguntado na entrevista coletiva (desta quarta-feira) se a espionagem tinha contribuído pela decisão de conceder o contrato à Saad, Amorim não respondeu diretamente, e preferiu apontar justificativas como custos e transferência de tecnologia”.
O New York Times entrevistou ainda um especialista no assunto. Segundo Richard L. Aboulafia, analista de aviação, o custo foi o fator principal para influenciar na escolha do governo brasileiro pelo Gripen NG.
“Você está falando de um serviço militar que não precisa de um caça de primeira linha, que sofreu um aperto no orçamento e não consegue mais voar em suas próprias aeronaves” argumentou o especialista, lembrando que a versão básica do jato da Saab pode custar cerca de US$ 45 milhões, comparados com US$ 55 milhões para adquirir o F/A-18 Super Hornet, fabricado pela Boeing.
Richard L. Aboulafia chamou a atenção também para os gastos de combustível. De acordo com ele, o custo do Gripen NG seria a metade do avião da Boing, apesar de as duas aeronaves utilizarem o mesmo motor.
“Mas o Super Hornet tem dois motores e Gripen tem um”, ressaltou o analista.
Já o Financial Times afirma na reportagem que a decisão do Brasil pode ser “a pior perda” até o momento para os Estados Unidos desde o início da polêmica do vazamento da espionagem do governo americano. Segundo o jornal britânico, as expectativas do F/A 18 Super Hornet sempre estiveram ligadas “à questão de se o Brasil queria estreitar laços com Washington ou afirmar sua independência”.
Ministro da Defesa francês se revelou um mau perdedor
A notícia da vitória dos suecos também não foi bem recebida pela imprensa francesa, que qualificou de "fiasco" a derrota francesa para os suecos e sublinhou o fato de que foi a sexta vez em 11 anos que o Rafale é preterido por um outro caça numa concorrência internacional.
A mídia culpou o excessivo preço do avião francês, de "tecnologia sofisticada", como fator determinante para a escolha do Brasil, com um governo já criticado por elevados gastos para a organização da Copa do Mundo e dos Jogos Olímpicos, e um país com um crescimento econômico dúbio. "O Rafale é quatro vezes melhor (do que o Gripen). A qualidade tem um preço", criticou Olivier Dassault, dirigente do grupo Dassault, em entrevista ao canal de TV LCI.
Ao ver a possibilidade de vender para o Brasil os caças Rafale, produzidos pela Dassault Aviation, se esfacelar em pleno ar, o ministro da Defesa francês, Jean-Yves Le Drian, se revelou um mau perdedor. Em plena concorrência com americanos e suecos, a França não economizou esforços para vencer a disputa. Mas diante da preferência brasileira pelos aviões da Suécia, o ministro declarou esta manhã em entrevista à rádio Europe1: “O Brasil, mesmo que eu deva decepcionar os brasileiros, não era e não é o alvo prioritário do Rafale, nós temos outras prospecções mais importantes. Há a Índia, o Golfo”.
Vale ressaltar que o Rafale, que acaba de perder também para o sueco Gripen uma concorrência na Suíça, ainda tenta convencer indianos e países do Golfo de que se trata de um bom avião e, sobretudo, de um bom negócio. Esta manhã, as ações da Dassault abriram na Bolsa em baixa de -3%.
Na Suécia, a notícia também repercutiu. O jornal “Aftonbladet“, por exemplo, destacou justamente os casos de espionagem dos Estados Unidos como fatores principais para o Brasil decidir pelo Gripen NG, encerrando assim qualquer acordo com a americana Boeing. Outro jornal sueco, o “Dagens Nyheter“, afirmou que o Gripen poderá ser fabricado no exterior, lembrando da transferência de tecnologia para o Brasil.
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