Na Folha, o chororô eterno das montadoras de barriga cheia
Fernando Brito
Tendo em vista que o jornalismo econômico aceita como notícia – e sobretudo como manchete – qualquer informação e análise que preveja um desastre, a Folha deu nesse domingo, 22, como manchete do seu caderno de economia que o“Risco de ociosidade ameaça montadoras no Brasil”.
E aí vem uma história de lamentações das montadoras de que vão trabalhar com uma grande capacidade ociosa, que pode chegar a 40%, sobretudo depois da chegada de diversas marcas ao mercado brasileiro.
Há dias, escrevi aqui sobre a decisão da BMW de instalar aqui uma fábrica de seus carros e perguntava se eles seriam tolos de iniciar um pesado investimento como este sem boas perspectivas de lucro.
Mas o nosso jornalismo econômico não se manca e continua amplificando o eterno chororô das montadores, que estão sempre em crise, mesmo que suas margens de lucro aqui sejam o triplo da que obtém em outros países, como revela o jornalista Joel Leite, especializado no segmento, na própria Folha.
Então para recordar os meus coleguinhas de como é velho este papo, transcrevo o título e um trecho de uma matéria de Luís Augusto Michelazzo, escrita há dez anos, em que as montadorias diziam …a mesma coisa.
Tendências 13/05/2003 14:53
Luiz Augusto Michelazzo
Anfavea: capacidade ociosa ressuscitará era das carroças
Se o mercado brasileiro de veículos permanecer deprimido as montadoras e autopeças, pressionadas pela perda de rentabilidade, pararão de investir no Brasil. O resultado é que o automóvel brasileiro acabará ficando defasado e perderá os avanços tecnológicos recentemente conquistados. Ou seja, a “era das carroças” – como a denunciada pelo então presidente Fernando Collor, poderá tornar-se realidade outra vez.
A inquietante previsão foi feita nesta segunda-feira, 12, pelo presidente da Anfavea, Ricardo Carvalho, na abertura do seminário Setor Automotivo: Revisão das Perspectivas 2003. Segundo Carvalho, a perda de tecnologia das montadoras e autopeças – que investiram no Brasil algo como US$ 27 bilhões nos últimos nove anos, US$ 9,9 bilhões pelas autopeças – será inevitável, a partir do momento em que os investidores externos convencerem-se que o País não será capaz de maturar investimentos para cá drenados. “A fábrica de veículos viável deveria estar produzindo pelo menos 150 mil unidades por ano, mas a média brasileira fica em torno das 90 mil”, disse Carvalho, salientando que a perspectiva é que o mercado interno – medido pelo licenciamento de veículos via Renavam – caia -7,2% em 2003.
Para o presidente da Anfavea, segundo quem “capacidade ociosa é custo que onera mais pesadamente as montadoras mais antigas no País”, a indústria chegará ao final do ano com capacidade instalada para produzir 3,2 milhões de veículos, mas produzirá cerca 1,8 milhão de unidades no ano.
“As exportações de autoveículos têm segurado a produção e deverão crescer 37,3% neste ano para US$ 1,49 bilhão, mas a garantia dos volumes é feita pelo mercado interno”, disse Carvalho, segundo quem vendas de pelo menos 130 mil unidades/mês viabilizariam o setor. Ele lembrou que em 1997 o mercado chegou a absorver perto dos 189 mil veículos/mês, quantia que em dezembro passado foi de 126,5 mil unidades.
Estimativas – Para o presidente da Anfavea o mercado interno devera ficar estagnado, absorvendo 1,5 milhão de unidades até dezembro, o mesmo que no ano passado. Já produção autoveículos deverá crescer cerca de 5%, chegando aos 1,88 milhão de unidades, enquanto a de máquinas agrícolas crescerá 15%, chegando às 60 mil unidades, com vendas internas 8% maiores.
Quanto às exportações de veículos e máquinas agrícolas somadas, deverão chegar aos US$ 4,8 bilhões em 2003, 20% maiores que no ano passado. Segundo ele, a meta da indústria é exportar pelo menos 800 mil unidades/ano.
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