Vale a pena conferir a entrevista de Carlos Araújo (http://www.amggoes.blogspot.com.br/2013/12/o-pt-perdeu-conteudo-ideologico-mas-tem.html), ex-preso político e hoje famoso por ter sido marido de Dilma Rousseff por 20 anos, para o jornal O Globo.
Eu destacaria um trecho, em que Araújo faz uso generoso de ironia para criticar a mídia.
Araújo: (…) A mídia colabora muito com o PT.
Globo: O PT discorda.
Araújo: Mas está sendo infantil ao dizer isso. Porque é a mídia que elege o PT, ao ser tão radical e sectária como tem sido. A mídia fala durante seis meses que o Brasil irá à falência. Não foi. Depois o Brasil não exporta mais nada e tal. Ou então esgotou o mercado interno. Não acontece nada. Agora é inflação. De novo não acontece nada. A mídia esgota todos os temas e não acontece nada. O povo brasileiro, com sua sabedoria e sua esperteza, aproveita o futebol e as novelas que passam de graça na TV, mas para o resto não dá bola.
Araújo conseguiu, usando de ironia, fazer uma crítica dura e direta aos meios de comunicação, chamados de “sectários” e “radicais”.
Apesar da ironia, contudo, o pensamento de Araújo sobre a questão da comunicação social sugere o mesmo traço de pragmatismo de curto prazo que suponho ser predominante junto ao governo. Como o PT tem vencido eleições, então é porque tudo está bem, e tudo pode ficar como está.
Acontece que o PT pode estar sobrevivendo e crescendo à sombra da mídia, mesmo apanhando diariamente, e tendo alguns de seus melhores quadros condenados injustamente num processo onde a mídia exerceu um papel essencial. Entretanto, a principal vítima de nosso sistema midiático viciosamente concentrado não é o PT, e sim o Brasil, cujo debate político e cultural se empobrece.
O problema não está no fato dos jornais serem de direita, e sim a falta de pluralidade política. Esse é um problema herdado da ditadura, que nos legou um mercado já devidamente limpo, pelo regime de força, de qualquer empresa de mídia estranha à santa aliança das famílias que controlam os principais meios de comunicação no país.
A crítica de Araújo à perda de conteúdo ideológico no PT, por sua vez, me parece sensata. Mas o sentido da frase permaneceu confuso. Araújo não diz que o PT não tem mais conteúdo ideológico, e sim que se perdeu conteúdo. O partido se tornou burocrático, pragmático e eleitoreiro, o que talvez seja uma tendência natural de todo partido que cresce.
Felizmente, em anos eleitorais, a elevação da temperatura política permite a criação de debates mais autênticos e polarizados, e, com isso, agregar novos conteúdos ideológicos aos programas de governo.
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