Tucanos tratam universidade pública como 'estorvo', diz Lula ao receber título de doutor
Em São Bernardo, ex-presidente lembra que sucessivos governos do PSDB engavetaram projeto de criação da Universidade Federal do ABC
Eduardo Maretti, RBA 04/12/2013 20:08,
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RICARDO STUCKERT/IL
São Bernardo do Campo (SP) – O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse hoje (4) que no período de seu governo (2003-2010) a educação deixou de ser tratada como "estorvo" e lembrou que os governos tucanos em São Paulo e na esfera federal, na gestão de Fernando Henrique Cardoso, rejeitaram a ideia de criar uma universidade na região do ABC
"Em 1992, o então deputado estadual professor Luizinho apresentou na Assembleia Legislativa o projeto que autorizava o governo de São Paulo a criar a universidade do ABC. Três governos estaduais se sucederam, sem atender a reivindicação, mesmo com a aprovação na Assembleia. Procurado em 2000, o governo federal também rejeitou a proposta", disse Lula, ao receber título de doutor honoris dessa mesma universidade, no campus de São Bernardo. A presidenta Dilma Rousseff também participou da cerimônia.
Segundo Lula, na era FHC "o governo tratava a universidade pública como um estorvo, um gasto inconveniente, no contexto de redução do estado. Educação não é gasto, é investimento", afirmou o ex-presidente.
"Hoje, filhos de pedreiros e agricultores podem ser doutores e isso é uma mudança extraordinária", ressaltou. Lembrando as manifestações de junho, acrescentou, dirigindo-se a Dilma em tom de brincadeira: "E depois que ele se forma doutor, não espere que ele vai ficar agradecido, ele vai pra rua fazer manifestação contra você. Porque ele se forma e percebe que o emprego que ele arruma não é o sonho que tinha".
Em seu discurso, disse que Dilma "está preparando o Brasil para um novo salto". Segundo Lula, esse salto e o desenvolvimento sustentável do país se concretizarão com o programa de concessões na área de infraestrutura, "vai mobilizar mais de 250 bilhões de dólares na construção de rodovias, aeroportos, portos, geração de emprego, para tirar petróleo do fundo do mar".
O ex-presidente citou o leilão de Libra, no dia 21 de outubro, como uma mostra do que chamou de salto.
"Confirma a confiança dos investidores no sucesso do Brasil, dentro de um modelo que preserva o patrimônio do país". Em mais uma cutucada nos governos que antecederam o seu, ele afirmou que o Brasil superou o complexo de vira-latas.
"A principal mudança que ocorreu neste período foi que aprendemos a confiar em nós mesmos, que somos capazes de superar a fome e a desigualdade, de gerar emprego e desenvolvimento. Aprendemos a fazer o nosso país respeitado no mundo sem o complexo de vira-lata que permeou este país durante todo o século 20".
Honoris causa
A decisão de conceder o título de doutor honoris causa a Lula foi aprovada pelo Conselho Universitário da UFABC em 2011. Foi o primeiro concedido pela universidade e se justifica, de acordo com o conselho, pela atuação decisiva de Lula na criação da universidade. O ex-presidente já recebeu o título de diversas universidades em vários países, como Equador, Argentina, Peru, França e Portugal, além de outras instituições brasileiras. Porém, segundo ele, o recebido em São Bernardo "é o título mais importante e marcante" de sua vida.
"Esta é a minha casa, que me deu oportunidade de trabalhar e me engajar na luta dos trabalhadores, (onde) os metalúrgicos realizaram jornadas memoráveis na luta contra a ditadura", lembrou.
Escolhido como padrinho de Lula na cerimônia, o prefeito de São Bernardo, Luiz Marinho, disse que o ex-presidente "é o mais importante intelectual orgânico que a América Latina já produziu".
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