sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Novo enterro de João Goulart repara dívida histórica, diz Maria do Rosário

Luciano Nascimento publicado 06/12/2013                                              
ANTÔNIO CRUZ/AGÊNCIA BRASIL
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Os restos mortais de Jango estão submetidos a exames para esclarecimento definitivo de sua causa da morte
Brasília – Os restos mortais do ex-presidente João Goulart embarcaram hoje (6) para a cidade de São Borja-Rio Grande do Sul, cidade natal de Jango, a 630 quilômetros de Porto Alegre, onde foram enterrados com honras de chefe de Estado, quando se completam 37 anos da morte, ocorrida no dia 6 de dezembro de 1976.

Para a ministra da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República (SDH), Maria do Rosário, o novo enterro repara uma dívida histórica do Brasil com o passado. “Nosso objetivo é que  o país tenha conhecimento de todos os fatos que constituem a nossa história, a nossa vivência nacional. O Estado cumpriu uma etapa para reforçar a democracia”, disse a ministra momentos antes da partida do voo.

Na Base Aérea de Brasília, os restos mortais foram recebidos por militares das Forças Armadas e conduzidos para o avião da Força Aérea, com destino à cidade natal de Jango, como era conhecido o ex-presidente. A cerimônia foi acompanhada pela viúva de Goulart, Maria Thereza Goulart, os filhos, João Vicente e Denize Goulart, e os netos de Jango.

“Estamos enterrando um pai pela segunda vez e estamos desenterrando uma luta, uma luta de dignidade, de sofrimento pelo Brasil. Temos certeza de que fizemos o que estava ao alcance da família para esclarecer uma verdade que permanece oculta”, disse João Vicente Goulart, filho do ex-presidente, referindo-se à investigação sobre a morte de Jango.

Em novembro, os restos mortais de Jango foram exumados com o objetivo de verificar as causas da morte do político. Cardiopata, ele teria sofrido um infarto, mas a autópsia nunca ocorreu. A suspeita da família, que em 2007 solicitou ao Ministério Público Federal (MPF) a reabertura das investigações, é de que Jango teria sido envenenado durante o exílio na Argentina.

A dúvida foi reforçada por indícios que reforçaram a hipótese de que o ex-presidente tenha sido envenenado por agentes ligados à repressão uruguaia e argentina, a mando do governo brasileiro, na chamada Operação Condor, a aliança entre as ditaduras do Cone Sul para eliminar opositores além das fronteiras nacionais. O pedido de exumação foi aceito em maio deste ano pela Comissão Nacional da Verdade (CNV).

Os restos mortais passarão por exames antropológico (medição de ossada, tomografia e radiografia) e de DNA, para confirmação de identidade. As amostras de cabelos, ossos e tecidos também passarão por exame toxicológico, com o objetivo é verificar se houve envenenamento.

Serão procurados traços de remédios usados por Jango, além de substâncias que podem levar à morte. As amostras serão enviadas a laboratórios no exterior, mantidos sob sigilo para não comprometer os resultados e a transparência do processo.

“Estamos cumprindo a responsabilidade que assumimos com a família, com a comunidade de São Borja e com o Brasil. Hoje é a data em que o presidente João Goulart veio a óbito, na Argentina, e nós assumimos um compromisso de que [após a exumação] os restos mortais seriam devolvidos nesta data para a comunidade”, destacou Maria do Rosário.

Em São Borja, houve celebração religiosa na Igreja Matriz São Francisco, local onde o povo da cidade, numa atitude de resistência, velou o corpo do ex-presidente 37 anos atrás, apesar da pressão da ditadura para impedir qualquer homenagem. O novo enterro foi realizado no Cemitério Jardim da Paz, no jazigo da família. No dia 14 de novembro, os restos mortais de Goulart João Goulart foram recebidos com honras militares, pela presidenta Dilma Rousseff, em cerimônia que contou com a presença dos ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva, José Sarney e Fernando Collor e, no dia 20, em sessão conjunta do Congresso Nacional, foi anulada a sessão de abril de 1964 que depôs o presidente Jango Goulart.

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