sábado, 7 de dezembro de 2013

Mandela e a hipocrisia ocidental


Miguel do Rosário                        

mandela
Esse texto de Mario Magalhães, biógrafo de Marighella, traz uma reflexão dura e triste sobre a hipocrisia ocidental. Grande parte das forças políticas, institucionais e midiáticas que hoje parecem competir para mostrar quem fará a melhor homenagem a Mandela, há algumas décadas competiam no sentido contrário.
É muito bom que as coisas tenham mudado, e que o mundo tenha se tornado mais consciente da importância de alguns valores essenciais, como a democracia e os direitos humanos. Justamente por causa disso, é importante não esquecer jamais o passado. Até porque a Africa atual continua oferecendo o mesmo espetáculo de miséria e desesperança, e talvez numa escala ainda mais grave do que na época da juventude de Mandela. Todas as tentativas de união política entre os países africanos, como a idealizada por Gamal Abdel Nasser, então presidente do Egito nos anos 60, foram sabotadas pelas lideranças ocidentais.
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“Enforquem Nelson Mandela”
Por Mario Magalhães (Via blog do Andre Lux)
Perdão pelo azedume, em meio aos festejos pelo grupo café-com-leite do Brasil na Copa, a preocupação com o possível oponente duro nas oitavas-de-final e o lamento por Nelson Mandela.
Não deveria, mas ainda me assombro com tanta hipocrisia, como agora, com a morte do velho líder negro sul-africano.
Muitas das bocas que hoje tecem loas à memória do velho combatente são herdeiras históricas daquelas que, com a CIA e numerosos governos alegadamente democráticos, no passado nem tão distante, avacalhavam Mandela como subversivo e terrorista.
mandela enforquem
Nessa época, Mandela era chamado de “terrorista”
Margaret Thatcher e seus discípulos ainda são celebrados como a luz que livrou o Reino Unido das trevas. Se dependesse de alguns thatcheristas, Mandela não teria nem saído vivo da cadeia. É o que lembrei meses atrás, no comecinho do blog.
Em homenagem a Nelson Mandela, reproduzo abaixo o post, documentado com o cartaz acima. Nem todas as lágrimas na despedida são sinceras.
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“Enforquem Nelson Mandela e todos os terroristas do Congresso Nacional Africano [ANC, nas iniciais em inglês]. Eles são açougueiros.”
O cartaz acima foi distribuído no Reino Unido no início da década de 1980, quando o líder negro sul-africano ainda amargava a prisão iniciada em 1962. A imprensa o atribuiu à Federação dos Estudantes Conservadores, vinculada ao Partido Conservador e sobretudo à primeira-ministra da época, Margaret Thatcher (1925-2013).
A senhora Thatcher também chamou Mandela de terrorista. O CNA era a organização política anti-apartheid à qual Mandela pertencia.
Mandela não foi enforcado e conquistou a liberdade em 1990. De 1994 a 99, presidiu a África do Sul, consagrando o fim do regime de segregação racial, a despeito da enorme desigualdade social que ainda persiste. Recebeu o Prêmio Nobel da Paz.
No momento em que Mandela, velhinho, está internado em estado grave aos 94 anos, não custa lembrar que, se dependesse de alguns estudantes britânicos ditos civilizados, ele estaria morto há muito tempo.
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