A mídia que bate em Chico nem olha pra Francisco
A mídia até agora pouco ou nada falou sobre o assunto
Wolglan Melo(*), especial para o Viomundo
Nos últimos dias, graças ao interesse em comum de meia dúzia de veículos de comunicação que compõem a chamada grande mídia em nosso país (grande na estrutura e minúscula na transparência de suas notícias), o cidadão brasileiro tem sido informado em tempo real sobre os desdobramentos da Ação Penal 470, que terminou como começou: arbitrariedades, politização do judiciário, ego, vaidade e a sumária condenação do ex-ministro Zé Dirceu, do ex-presidente do PT, José Genoíno, e do ex-tesoureiro Delúbio Soares.
Por apresentar inúmeros equívocos, que já foram repudiados, por unanimidade, até mesmo pela OAB, o processo por si só já seria suficiente para refletirmos o comportamento cínico dessa mídia que faz questão de varrer, a todo o momento, a verdade para debaixo do tapete e, em um show de anti-jornalismo, transforma erros explícitos em verdades que tomam conta do senso comum e, com isso, tenta transformar a sua opinião publicada em opinião pública.
Adaptando uma frase ostentada nos cartazes dos indignados que acamparam na praça Puerta Del Sol, em Madrid/Espanha, à realidade da nossa conjuntura política, podemos dizer que, neste caso, “tiraram a justiça, deturparam os fatos e aplicaram a lei”.
O curioso é que essa mesma mídia, que diz ser imparcial, ética e transparente, cobre com afinco as decisões do STF, mas ignora com um enorme profissionalismo dois episódios recentes de extremo interesse para a sociedade brasileira.
O primeiro diz respeito ao TRENSALÃO. De acordo com Everton Rheinheimer, ex-diretor da Siemens, há 16 anos, existe um forte esquema de corrupção comandado pelo PSDB no governo de São Paulo, cujo objetivo principal era o abastecimento do Caixa 2 do PSDB e do DEM.
O ex-diretor disse também que a sua ex-empresa compartilha uma conta na Suiça que já movimentou mais de R$ 64 milhões para o pagamento de lobistas, políticos e altos funcionários do governo tucano que eram beneficiados pelo esquema de corrupção nas licitações do Metrô de São Paulo.
A grande mídia, visando desvincular o PSDB da denúncia, informa desinformando. Em vez de comunicar à população que o caso se trata de CORRUPÇÃO, QUADRILHA e principalmente de um CAIXA 2 tocado pelo PSDB, em um contorcionismo midiático surpreendente, a grande mídia tem afirmado que o caso envolve ILEGALIDADE, CARTEL, CARTEL COM AVAL DO GOVERNO e outras palavras brandas. Ou seja, buscando despistar a atenção do espectador, nenhuma citação direta foi feita até agora em relação aos denunciados e ao partido tucano.
Já o segundo caso escancara, ainda mais, o cinismo de determinados veículos da grande mídia. No último domingo (24/11), a Polícia Federal apreendeu 450kg de cocaína em um helicóptero da empresa Limeira Agropecuária, que é propriedade do deputado estadual Gustavo Perrella (SDD/MG), filho do senador Zezé Perrella (PDT-MG), aliado político histórico do presidenciável Aécio Neves (PSDB/MG). A mídia até agora pouco ou nada falou sobre o assunto.
Não quero ser leviano e nem utilizar os mesmos e espúrios mecanismos utilizados, frequentemente, pela grande mídia para levantar suspeitas, mas é muito estranho que quase MEIA TONELADA DE COCAÍNA seja apreendida em um helicóptero de uma família tradicional da política mineira que, por tabela, tem relações intrínsecas com um candidato à Presidência da República e tudo isso seja desinteressante.
Pergunto aos meus botões: já imaginaram se o assunto envolvesse um filho, primo, sobrinho ou amigo de alguém do PT? Por exemplo, já pensou se o deputado estadual Gustavo Perrella fosse o deputado federal Zeca Dirceu, filho do ex-ministro Zé Dirceu? Será que a mídia teria a mesma inércia? Apostaria que não! Concordo com o jornalista Renato Rovai quando diz que “o que importa para a mídia não é o crime, mas a legenda do criminoso”.
Esses três exemplos nos dão uma noção clara de como essa mídia atua no Brasil. Fica claro que, de fato, o pau da mídia que bate em Chico nem olha pra Francisco.
Resumo da ópera: a verdade na grande mídia só ocorre quando ela fala do espaço ou do fundo do mar. Do contrário, é preciso ter muito cuidado, pois até o ‘bom dia’ dela, dependendo do interesse que ela tenha no dia, pode estar distorcido.
(*)Wolglan Melo é jornalista em Brasília.
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