Manifestações naCopa: qual o
sentido delas ?
Está correta a posição de João Pedro Stedile e de Lula de considerarem negativo o aproveitamento oportunista da Copa para terem o brilhareco de 15 segundos.
Emir Sader
O sentido politico de qualquer fenômeno – uma greve, uma eleição, uma mobilização popular – só é possível de ser captado pela sua inserção na totalidade que o encerra. Até a própria análise da trajetória de um partido - segundo as indicações do Gramsci - não é dado por sua vida interna – que seria uma visão sectária, autorreferente -, mas pela relação que esse partido tem com a totalidade da realidade social em que ele está inserido.
Quantas vezes uma reivindicação – justa em si mesma – desata um tipo de conflito que acaba tendo um significado que a transcende totalmente, chegando às vezes a ter o efeito oposto ao desejado originalmente. No final do governo da Luiza Erundina, por exemplo, depois da prefeitura ter perdido a luta para implementar uma reforma tributária socialmente justa, o governo ficou com recursos limitados. Naquele momento se desatou uma luta reivindicativa dos trabalhadores do setor de transporte publico. (Havia ainda a CMTC como empresa pública de transporte).
Os trabalhadores desse setor tinham o melhor salário do Brasil e sabiam que, para aumentá-lo, seria necessário elevar o preço das tarifas, o que penalizaria grande parte da população mais pobre da cidade. Mas a greve foi desatada, a Força Sindical e a CUT a levaram adiante, nenhuma das duas querendo aparecer como comprometida com o governo municipal.
Foi uma greve violenta, que quebrou centenas de ônibus da empresa pública de transporte. Era o ultimo ano do mandato da Erundina. O Maluf se aproveitou do clima criado e aprofundou sua campanha contra o PT, vencendo as eleições. Uma de suas primeiras medidas foi a privatização da CMTC, desaparecendo a principal empresa de transporte público de São Paulo.
Quando passou seu impulso inicial, movimentos que buscam enfrentamentos violentos, sem nenhum compromisso com os avanços que o Brasil vive, passaram a protagonizar o cenário das mobilizações, já com a ideia de que haveria que inviabilizar ou prejudicar ao máximo a Copa no Brasil. As mobilizações ficaram reduzidas a um numero mínimo de participantes, basicamente os que buscavam o enfrentamento violento com a Policia – sempre violenta.
Continuaram a ter espaços na mídia, seja pelas cenas que protagonizavam junto com a policia, seja pelas cenas de destruição de lojas, bancos, bancas de jornais, sinais de paradas de ônibus, entre outros, seja também pelo interesse da oposição de desgastar o governo.
É preciso inserir essas mobilizações nos dois marcos gerais que dão o seu sentido. Primeiro, a campanha eleitoral, em que a oposição – midiática e partidária – joga suas fichas nas possibilidades de desgaste na imagem do governo como reflexo de nova onda de enfrentamentos durante a Copa. A oposição apoia – por editoriais, destaques na mídia, colunistas inefáveis da direita e da extrema direita – as manifestações, consciente de que não se trata de apoiar as reivindicações. Ao contrario, os candidatos da oposição acenam com duros ajustes contra os recursos para politicas sociais, caso chegassem a ganhar. Mas apostam no desgaste do governo no processo eleitoral. Esse o primeiro sentido das manifestações atualmente: favorecer as candidaturas da direita contra o governo.
O segundo marco em que devem ser inseridas as manifestações é a campanha internacional contra o Brasil. Não é contra o Brasil das injustiças e das desigualdades sociais. Ao contrário, é uma campanha contra o Brasil do Lula, do governo que lançou o maior programa de combate às injustiças e às desigualdades sociais no Brasil.
É este o país que é atacado sistematicamente na mídia internacional - e reproduzido aqui pela mídia subserviente -, com mentiras como a do Ministério de Relações Exteriores da Alemanha, de afirmar que somos “um país de alto risco”, contrastando com a realidade concreta e com a expansão dos investimentos de empresas desse país no Brasil.
Ou com calúnias puras e simples como a desaparição de crianças em Fortaleza como forma de limpeza social para a Copa ou a da noticia de que 25 das policias dos 27 estados brasileiros estariam em greve e ameaçariam parar durante a Copa. Ou mentiras ainda mais deslavadas, que só tem a finalidade de desconstruir a imagem – incomoda para o neoliberalismo e para a politica norte-americana no mundo – de que o Brasil se soma aos países que lutam pela construção de uma alternativa ao neoliberalismo e por um mundo multipolar, de resolução pacifica e politica dos conflitos, ao invés das intervenções militares.
É nesse marco geral – das eleições brasileiras e do interesse dos candidatos de direita e da campanha contra a imagem do Brasil do Lula – que se inserem as manifestações programadas durante a Copa. Basta algumas dezenas de pessoas com formas de armamento e a atitude violenta da polícia, para que os enfrentamentos existam e contarão com o beneplácito da mídia internacional, com suas câmaras e maquinas fotográficas atentas.
Por essa razão que está correta a posição do João Pedro Stedile e do Lula, entre outros, de considerarem negativo o aproveitamento oportunista da Copa para terem o brilhareco de 15 segundos, que tem um sentido político geral negativo e não leva a nada, tanto assim que, passada a Copa, os efeitos s'p podem ser um eventual desgaste do governo favorecendo os candidatos da direita e um eventual enfraquecimento da imagem positiva que o Lula projetou no mundo, favorecendo as forças internacionais de direita. O sentido politico das manifestações é esse.
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