Prepare o seu coração: aos 75 anos, morre o cantor Jair Rodrigues
Com mais de 50 anos de carreira, ele foi intérprete de 'Deixa isso pra Lá', 'Disparada' e 'A Majestade o Sabiá', entre outras canções
Vitor Nuzzi
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TVBRASIL/PROGRAMA ALMANAQUE BRASIL
São Paulo – Deixa Isso pra Lá, Disparada, A Majestade o Sabiá. Qual dessas músicas, entre tantas, marcou mais a carreira de Jair Rodrigues? O cantor de sorriso largo, conhecido no meio artístico como Cachorrão, morreu hoje (8), aos 75 anos. A causa da morte foi infarto, segundo a assessoria do artista. Com mais de 50 anos de carreira, Jair era pai dos também cantores Jair de Oliveira e Luciana Mello. Era chamado de sambista, mas também foi considerado um precursor do rap. O disco mais recente, lançado em março, chamava-se Samba Mesmo. Na última terça (6), ele fez o que seria seu derradeiro show, em um hotel em São Lourenço, no interior de Minas Gerais.
"Quero agradecer, de coração, o imenso carinho que estamos recebendo! Em breve falaremos com todos. Só pedimos que respeitem nossa privacidade nesse momento tão difícil e sofrido... Muito obrigada!!", escreveu Luciana no Facebook.
"Um amor gigantesco!! Tive a honra de conviver e aprender com a alegria de um anjo!!! Estamos todos muito emocionados e tentando entender este momento e agradecemos todo o carinho prestado. E muito obrigado, meu pai, por toda sua luz! Descanse em paz", escreveu Jair de Oliveira.
Ainda em início de carreira e crooner do restaurante/boate Bambu, em São Carlos, interior paulista (ele nasceu em Igarapava), Jair cultivou a fama de brincalhão, o que realmente era. Mas queria ser reconhecido como intérprete. "Eu não queria ficar rotulado. Quando cantava uma música séria, eu me caracterizava."
Foi o que aconteceu no festival da Record em 1966, quando seu nome foi lembrado para interpretar Disparada, de Geraldo Vandré e Theo de Barros. A primeira reação de Vandré foi de desconfiança. "Eu também não fazia por onde o pessoal acreditar no Jair intérprete, porque lá no Fino da Bossa era aquela brincadeira mesmo, deixe que digam, que falem, Cachorrão pra lá, Cachorrão pra cá, eu plantava bananeira... A minha imagem mudou a partir daí, de Disparada." Fino da Bossa foi o programa que Jair e Elis Regina apresentaram na segunda metade dos anos 1960 na TV Record, em uma das parcerias memoráveis da música brasileira.
Ainda hoje, Jair guardava em sua casa, em Cotia (Grande São Paulo), onde foi encontrado morto, uma das queixadas de burro usadas na interpretação de um dos clássicos da música brasileira, que dividiu o primeiro lugar no festival com A Banda, de Chico Buarque, interpretada por Nara Leão.
Dona Conceição, mãe de Jair Rodrigues, profetizou: "Essa musca (como ela pronunciava) é muito bonita, meu filho. Se você defender, você vai ganhar (o festival). Coração de mãe, né?”, comentou Jair, que já fizera sucesso em 1964, com Deixa Isso pra Lá, de Alberto Paz e Edson Meneses.
O primeiro encontro entre Vandré e Jair foi tenso. O autor falou para o intérprete não brincar com a música dele, que era coisa séria. Recebeu em troca um xingamento e pediu desculpas. Depois da vitória, Jair conta que recebeu um abraço "de quebrar ossos". Hoje pela manhã, Geraldo Pedrosa de Araújo Dias, o Geraldo Vandré, ouviu pelo rádio a notícia da morte de Jair Rodrigues.
Repercussão
"Obrigado demais, impossível agradecer por ter compartilhado seu dom e energia conosco. Descanse em paz eterno professor", escreveu no Twitter o cantor Emicida. "Já deixou saudade. Vai na paz Mestre Jair Rodrigues", postou o grupo O Rappa. "Meu Querido Mestre Jair se foi, todo carinho do mundo a ele e a família Oliveira! Obrigado Mestre, eu te amava demais", disse Rapin' Hood. "Vivemos de cantar Hood, Vivemos pra cantar garoto (...) Esse era o Cachorrão."
Assista a Jair Rodrigues cantando Disparada, de Geraldo Vandré e Theo de Barros no festival da TV Record, em 1966:
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