O
que você aprende com o novo embate entre Lula e FHC
Paulo Nogueira
Clap, clap, clap.
Aplaudo de pé uma frase de Lula de hoje: “Não leio FHC”.
É um aplauso apartidário e apolítico. Quero com isso dizer o seguinte: aplaudiria também FHC se ele dissesse que não lê Lula.
Lula disse o que disse quando jornalistas lhe perguntaram o que achara de um artigo de FHC em que este acusava Lula de tergiversar quando o assunto é o Mensalão.
A sabedoria da resposta reside no seguinte: você não deve ler quem aborrece você.
Já escrevi sobre isso. Falei do “BIM”, o Brasileiro Indignado com a Mídia. É alguém de esquerda, homem ou mulher, e que gasta o seu dia lendo os blogueiros da Veja, ouvindo os comentaristas da CBN e vendo, à noite, os telejornais da Globo.
No dia seguinte a esse massacre jornalístico, ele posta sua raiva nas redes sociais.
Não se dá conta de que está alimentando o inimigo com seu consumo indigesto de notícias, e fazendo mal a si próprio.
Reinaldo Azevedo sempre tripudia sobre os “petralhas” que o lêem. (Azevedo parece mais orgulhoso por ter criado a palavra “petralha” do que Balzac por ter criado A Comédia Humana.)
Vejo alguns BINS alegarem que é importante conhecer o pensamento dos adversários. Ora, há maneiras menos penosas de fazer isso.
Há uma triagem natural que faz com que os textos ou vídeos importantes cheguem a você na internet.
Eu, por exemplo. Não tive que ouvir Jabor todo dia para, em determinado momento, saber que ele, na CBN, avisou em maio que o Brasil daria um vexame mundial na organização da Copa.
Penso em Gandhi, e vejo nele uma ação que deveria inspirar o BIM. Num determinado momento de sua vida, Gandhi comandou um boicote de produtos dos imperialistas ingleses.
Talvez um boicote funcionasse melhor do que posts irados nas redes sociais, e o desgaste físico e emocional dos indignados seria bem menor.
Lula faz isso. Boicota os artigos de FHC. Não é a primeira vez que o vejo agir assim. Ele já contou que, num certo momento de sua gestão, parou de acompanhar a mídia, ou enlouqueceria.
É o chamado manual de sobrevivência.
Na minha carreira jornalística, deixei um dia de ler a Folha, que me fazia mal por sua arrogância e negativismo. Também deixei de ver o Jornal Nacional, por achar maçante e obcecado com más notícias.
Minha carreira não sofreu prejuízo nenhum com tais decisões. O tempo ganho ao não ler a Folha e não ver o JN acabou dedicado a coisas mais proveitosas para minha ascensão pessoal e profissional.
Eventuais – raras – coisas importantes da Folha ou JN sempre acabaram chegando até mim.
Não ler o que enraivece você é um ato filosófico.
Aplaudi Lula, e aplaudirei FHC se um dia ele disser: “Não leio o Lula”.
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