O cio da terra. E o direito dos povos
Em prejuízo de avanços alcançados nos últimos anos, grandes proprietários rurais ainda exercem pesada influência sobre as decisões do Estado
CELSO MALDOS
O respeito à cultura e aos direitos dos povos tradicionais é parte de um futuro mais justo
O interesse pela questão indígena é crescente no Brasil contemporâneo. Durante muito tempo, uma parcela minúscula da sociedade desfrutou sem ser incomodada da ocupação indevida da terra pertencente a comunidades tradicionais. Não raras vezes, à base de violência e com a omissão dos poderes públicos. Com a Constituição de 1988 – fruto da pressão de amplos setores organizados sobre um Congresso Nacional em dívida com a democracia –, comunidades indígenas passaram a ter reconhecida pelo Estado a ascendência sobre a posse e a ocupação de seus territórios originais. Hoje, cresce a visão da importância dos índios para a terra. Seja por sensibilidade ambiental, seja por consciência solidária e cidadã.
O respeito a culturas e direitos dos povos tradicionais – entre os quais também quilombolas, caiçaras e ribeirinhos – vem da crença na necessidade de um novo modelo de desenvolvimento, da superação do individualismo e do consumismo para uma reorganização das sociedades e das economias. Essa mudança de rota é vital para dar maior sobrevida ao planeta e à humanidade.
Em prejuízo de avanços alcançados nos últimos anos, grandes proprietários rurais ainda exercem pesada influência sobre as decisões do Estado. A lentidão na execução de processos de demarcações e de retomadas de Território Indígena (TI) resulta em parte do poderio dos ruralistas, sobretudo no Legislativo – onde atualmente disputam com o Executivo o direito de decidir sobre demarcações. Por isso, as vitórias alcançadas pelas comunidades são escassas e árduas. Daí a escolha de levar para a capa desta edição o vitorioso resultado das batalhas de uma comunidade Xavante, em Mato Grosso, para reaver o pedaço de mundo onde nasceram seus ancestrais. E de onde haviam sido expulsos há quase 50 anos pela ganância.
Com a proximidade das eleições, é importante que leitores e eleitores reflitam sobre suas responsabilidades na contaminação da política pelos que dela usufruem em benefício próprio. É necessário identificar a quem se estará delegando poderes de legislar e governar. E saber que existe vida além das eleições para se travar a batalha por um país melhor. Como ensina o povo Xavante de Marãiwatsédé.
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