terça-feira, 29 de julho de 2014


O caso da advogada


que pediu asilo

Paulo Nogueira        
É perturbador o vídeo postado no YouTube pela advogada e ativista Eloísa Samy, 45 anos.
Mais perturbadora, ainda, é a situação que ela está vivendo: Eloísa pediu asilo político no consulado do Uruguai no Rio de Janeiro.
Ela é, tecnicamente, uma refugiada política.
Até onde a vista alcança, o crime de Eloísa é defender manifestantes presos. De graça.
Na ditadura militar, defender presos políticos era uma ação de alto risco para advogados.
Mas em 2014?
Alguma coisa está errada.
Eloísa foi acusada de formação de quadrilha armada, junto com outras 22 pessoas, algumas das quais ela sequer conhecia.
Sua prisão foi pedida por causa disso. Foi para evitar as grades que ela correu ao consulado uruguaio.
As provas contra Eloísa são pateticamente frágeis. Na verdade, são tão miseráveis que é melhor dizer que simplesmente não existem.
Mesmo assim, ela pertence a uma quadrilha, segundo a justiça do Rio.
Quadrilha é uma palavra que tem sido empregada com alguma frequência na cena política nacional.
Havia, aspas, a Quadrilha do Mensalão. Agora há, aspas, a Quadrilha dos Manifestantes.
Você, quando usa mal uma palavra, começa a destruí-la. É o caso de quadrilha.
“Jamais cometi qualquer ato que infringisse a lei”, diz ela no vídeo. Sua expressão não poderia transmitir mais sinceridade.
Todos os relatos dos que a conhecem coincidem na descrição de uma pessoa solidária, conciliadora, pacífica – ainda que firme na convicção de que o Brasil pode ser melhor do que é.
O problema de Eloísa decorre na justiça e da polícia do Rio.
Mas o que o ministro da Justiça tem a dizer?
Aparentemente, nada.
É um silêncio cômodo para o governo federal. Mas que colabora para distanciar o PT de jovens ativistas que em outras épocas militariam entusiasmadamente no partido.
É uma silêncio conveniente hoje para o PT, por causa das alianças em nome da governabilidade, mas com potêncial desastroso para seu futuro.
Quando uma empresa deixa de atrair jovens brilhantes, começa a morrer.
A lógica para um partido é a mesma.
Quando um partido deixa de atrair jovens idealistas, começa também a morrer.
Paulo Nogueira
O jornalista Paulo Nogueira é fundador e diretor editorial do site de notícias e análises Diário do Centro do Mundo.

Nenhum comentário: