domingo, 20 de julho de 2014

Congresso interveio para garantir equilíbrio entre clubes. Nos EUA     


Heloisa Villela, de Nova York  

                          campeao
                          O campeão atual é de uma cidade de apenas 600 mil habitantes. Como explicar?
Foi graças a uma lei aprovada no Congresso dos Estados Unidos que a liga de futebol americano passou a ter o direito de negociar com as redes de televisão pacotes fechados de transmissão dos jogos.
Até 1961, o país tinha duas ligas e os times disputavam, cada um por si, as verbas das tevês. Mas decidiram se unir para conseguir melhores contratos. Para a justiça, eles estavam ferindo a lei antitruste. Acabavam com a competição. O Congresso discordou e passou uma exceção específica para as ligas esportivas. Entendeu que os times eram co-dependentes, quase como uma empresa só. “Prejudicou” as emissoras de TV, fortaleceu os clubes.
Foi um passo decisivo para organizar e consolidar o que viria a se tornar a liga esportiva mais rica e poderosa do país, e do mundo.
O economista John Vrooman, da Universidade Vanderbilt, especializado nos negócios esportivos, explica que a partir daí o futebol americano passou a dividir a verba dos contratos de transmissão igualmente entre os clubes.
Não importa quem comanda a maior audiência ou tem os jogadores mais consagrados.
É o que ele chama de distribuição solidária da verba da mídia. Os times não podem nem fazer negócios paralelos, com seus mercados particulares. Quando um time de São Francisco, por exemplo, fecha algum contrato com a tevê da cidade, a verba tem que entrar na caixinha dos 32 times que fazem parte da liga e do campeonato nacional.
O outro modelo adotado por algumas ligas esportivas privilegia o que o economista chama de mérito. Exemplo: os times da Espanha. Barcelona e Real Madrid têm os dois melhores times do país, os melhores jogadores, e juntos ficam com 50% de toda a verba das transmissões de jogos do país, o que facilita ainda mais a concentração de bons atletas nestes dois clubes.
Na Alemanha, a campeã mundial de 2014, a Bundesliga adota um sistema híbrido. Meio a meio: solidariedade e mérito.
Ou seja, metade da principal fonte de renda dos times, que é verba dos contratos de transmissão, é dividida igualmente entre todos os times. Não importa que lugar eles ocupem no ranking nacional ou o tamanho das torcidas que atraem para os jogos. A outra metade é distribuída de acordo com o desempenho de cada um.
Segundo o economista, a mistura é a melhor saída porque ajuda a manter algum equilíbrio entre os times, dá a todos chance de investir em novos talentos e na compra do passe de jogadores consagrados ou que prometem se tornar grandes craques. Mas mantém o estímulo. Sabendo que parte da verba é distribuída de acordo com o desempenho, os jogadores se esforçam mais.
A liga britânica segue o mesmo modelo. Da renda anual de cerca de US$ 4 bilhões, 67% são distribuídos igualmente pelos clubes. Entre 1996 e 2004, a parcela da renda da liga que vai para o pagamento de salários subiu de 50% para 70%.
Na França, o sistema mudou recentemente. Até 2005, A liga principal francesa distribuía 80% da verba de acordo com o sistema da solidariedade. Mas começou a perder atletas para outros paises. A seleção do país ía muito bem, mas os clubes tinham péssima colocação no ranking europeu. A França mudou para a fórmula meio a meio e os times do país começaram a se sair melhor nas competições da UEFA.
Nos Estados Unidos, a liga de futebol americano é a única que adota exclusivamente o sistema da solidariedade. Tem um campeonato bastante imprevisível. Os dois últimos campeões foram de cidades médias.
Já o basquete, que misturou os dois sistemas, tem, há anos, um pequeno grupo de campeões. Apenas 8 dos 30 times da liga venceram o campeonato nacional nos últimos 50 anos.
No que diz respeito à preparação e criação de talentos, fica difícil comparar os modelos econômicos em tornos dos esportes nos Estados Unidos e na Europa, já que o basquete e o futebol americanos não investem nada na formação de craques.
Nos Estados Unidos, quem cuida do desenvolvimento de futuros atletas são o basquete e o futebol universitários.

PS do Viomundo: No Brasil, Ricardo Teixeira sempre disse que a CBF é uma entidade de direito privado e, portanto, não pode sofrer qualquer tipo de cerceamento estatal. Fechou contratos eternos com a Globo, prejudicando toda a concorrência, inclusive a Band, que é obrigada a comer na mão do monopólio. No entanto, a CBF fatura R$ 400 milhões anuais explorando um bem público, que é a seleção brasileira. Teixeira-Marin-Del Nero privatizaram a camisa amarela e o Hino Nacional! O Congresso Nacional tem todo o direito de fixar as regras gerais que regem o esporte brasileiro.

Nenhum comentário: