quinta-feira, 17 de julho de 2014


Mais do mesmo: Gilmar Rinaldi e a falta de perspectiva do futebol brasileiro                  
Esporte Fino

Bruno Wincler      

Gilmar Rinaldi é um cara correto. Foi assim ao longo de toda sua carreira de agente de futebol. Entre aqueles com quem tive de conversar por conta da minha cobertura diária de clubes sempre foi um dos mais atenciosos e – diferente de muitos colegas – não era de mentir. Chegava a omitir informações sobre negociações, algo que é até de praxe, mas sempre foi cordial em um ambiente em que a canalhice impera.
Gilmar Rinaldi, novo coordenador de seleções da CBF Foto: Tomaz Silva (Agência Brasil)
Gilmar Rinaldi, novo coordenador de seleções da CBF (Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil)
Há 20 anos Gilmar era reserva da seleção brasileira campeã do mundo nos Estados Unidos. Deixou a carreira de sucesso por grandes clubes (Inter, São Paulo e Flamengo) e logo se envolveu no ramo de empresário de jogadores. Teve uma passagem como superintendente do Flamengo no final dos anos 90. Nesta quinta-feira, ele foi anunciado como o novo coordenador de seleções da CBF.
Por mais que ele diga que deixou todas as suas atribuições de agente para trás – “Ontem mandei mensagem para os jogadores, não devem ter entendido”, disse ele nesta quinta-feira – essa proximidade de Gilmar com determinados jogadores e a possibilidade de ele estar em contato com todos os jogadores do futebol brasileiro a partir de agora era algo que poderia ser evitado. Mas esse é só primeiro dos problemas.
Na sua apresentação, nesta quinta-17, com o coordenador do futebol da CBF, Gilmar não pareceu disposto a enfrentar os reais problemas da seleção brasileira: formação falha, calendário defasado, falta de preparação para técnicos brasileiros. Apenas coroou o trabalho de Alexandre Gallo nas categorias de base da CBF e disse que a seleção principal precisará ter uma “cota” de jogadores desses times de juvenis e juniores até pelo menos os Jogos Olímpicos de 2016. Pouco, muito pouco.
Teve um discurso comedido. O vexame protagonizado pela seleção brasileira contra a Alemanha não foi sequer citado durante sua apresentação. Gilmar estava ao lado de seus novos chefes, José Maria Marin e Marco Polo Del Nero, e evidentemente não apontou para eles parte dos problemas na gestão do futebol no país.
Os dois mandachuvas não souberam explicar qual será a real função de Gilmar. Não será o que foi Carlos Alberto Parreira, coordenador da seleção principal, mas também terá funções como as de Andrés Sanchez, diretor de seleções entre 2011 e 2012. O primeiro passo para um projeto dar errado é não saber claramente quais são seus limites e seus objetivos.
Outro que estava com Gilmar na sua apresentação era Gallo, que seguirá no comando das seleções de base. No seu relatório, o técnico disse que acompanhou os trabalhos de outros países. Viajou para os Estados Unidos e valorizou o calendário unificado que permite aos clubes e às seleções um trabalho conjunto. Algo impensável para o Brasil e seu calendário ultrapassado assinado por Marin e Del Nero, os chefes de Gallo e Rinaldi.
Por mais que se perceba boa vontade dos escolhidos para a tal mudança de rumos no futebol brasileiro, nenhum dos dois têm o perfil de impor ideias para mudar as posições arcaicas dos dirigentes que comandam não só a CBF como as federações estaduais. São “bonzinhos” demais no tratamento com “raposas felpudas” como são Marin e Del Nero. Há uma benevolência de Gallo e Rinaldi em relação aos seus chefes. Se tivessem carta branca para mudar o que reconhecem estar errado, alguma esperança de melhora até poderia existir.
Ou não…
Na sua apresentação o novo coordenador das seleções disse uma frase que destoa completamente do momento vivido pelo futebol brasileiro. “Nós vamos continuar produzindo os melhores jogadores. O foco agora deve ser o coletivo”. Há muitas dúvidas em relação a essa afirmação. O Brasil há muito tempo não tem os melhores jogadores. E para voltar a formar, uma ruptura com as atuais estruturas seria necessária. Talvez Rinaldi seja muito bonzinho para ao lado de gente como Marin e Del Nero conduzir essa mudança.

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