sexta-feira, 18 de julho de 2014

Os números, a realidade e a fantasia do último Datafolha

Paulo Nogueira  
  
           Os candidatos

Pesquisa é uma coisa interessante. Você interpreta os números como quer.
A última da Datafolha, por exemplo.
Vi, nos sites das grandes empresas de mídia, o absoluto destaque não para o primeiro turno, que é certo, mas para o segundo, que é incerto.
Por quê?
Porque, de acordo com simulações, tanto Aécio quanto Eduardo Campos diminuem num eventual segundo turno a distância que os separa de Dilma.
Aécio, especificamente, ficaria a 4 pontos percentuais: 44% a 40%. Como a margem de erro é de dois pontos para cima ou para baixo, isso configuraria um empate técnico.
Até Campos, que tem se arrastado na casa de um dígito, vira um candidato poderoso num segundo turno, conforme o Datafolha. Não chega a empate técnico, mas não está tão longe assim.
As simulações de segundo turno trouxeram euforia aos suspeitos de sempre. Praticamente foi esquecido o primeiro turno nos títulos. As chamadas eram variações em torno disso: “Dilma e Aécio tecnicamente empatados no segundo turno”.
De volta ao mundo real, as notícias relativas ao primeiro turno não são auspiciosas assim para os interessados na remoção de Dilma e do PT.
Os três principais candidatos ficaram mais ou menos onde estavam no Datafolha anterior.
Dilma apareceu com 36% das intenções. Aécio continuou com 20% e Campos com 8%.
Os dois somados não levariam a disputa para uma segunda rodada, portanto. Para chegar aos 36% necessários para isso, entraram diversos nanicos.
Até Emayel, que não pontuara em nenhum outro levantamento, contribuiu com seu 1% para que o total ficasse em 36% a 36%.
Vocês podem imaginar a alegria de certos comentaristas ao analisar – ou torcer, ou massagear – os números.
Revi, depois de longa data, Merval Pereira na Globonews. Acho que a última vez que o vira fora nas eleições municipais de 2002.
Terminado o jogo do Corinthians, ontem, zapeei, e fui dar numa reportagem da Globonews sobre a pesquisa.
Quem ouviu Merval saiu com a quase certeza de que Dilma está frita. A situação dela, disse Merval, não é apenas grave, no que diz respeito à tentativa de reeleição. É muito grave. É bastante grave.
O espectador crédulo poderia pegar suas reservas, depois de ouvir Merval, e apostar numa casa de jogo londrina contra Dilma. Faria um bom dinheiro.
O que você vê na mídia, a cada pesquisa, é algo muito mais ligado a torcida e vontade do que a jornalismo e realidade.
A real notícia por trás do último Datafolha é que ainda não está claro se haverá segundo turno.
Existe uma possibilidade grande que as coisas acabem no primeiro, até porque o tempo de Dilma no programa eleitoral é bem superior ao dos demais candidatos, e Lula no papel de cabo eleitoral pode fazer muita diferença.
Mas, mesmo tudo isso considerado, qualquer, é claro, pode acontecer. Aécio pode dar uma arrancada triunfal, e mesmo Eduardo Campos pode conseguir o milagre da multiplicação de votos.
Dilma, nestas circunstâncias, seria varrida.
Só que os números do Datafolha mostram outra coisa, por mais que sejam manuseados e apresentados de uma maneira peculiar para as pessoas.
Por ora, o que se tem não passa disso: não está claro se haverá segundo turno.
O resto é torcida.
Paulo Nogueira
O jornalista Paulo Nogueira é fundador e diretor editorial do site de notícias e análises Diário do Centro do Mundo.

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