terça-feira, 3 de setembro de 2013

Glenn Greenwald, a espionagem de Dilma e o Fantástico                               

 O que o autor de um furo mundial, ativista e crítico da ligação da mídia tradicional com o poder, está fazendo num programa tão ruim?
Kiko Nogueira                                            DIÁRIO DO CENTRO DO MUNDO 
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O jornalista Glenn Greenwald deu um dos furos mais importantes do mundo nos últimos anos. Greenwald publicou as denúncias acerca do esquema de espionagem da Agência de Segurança Nacional (NSA) dos Estados Unidos. Suas conversas com o ex-consultor da CIA Edward Snowden renderam matérias no jornal inglês The Guardian, em que Greenwald é colunista, e em seu blog. Depois que seu companheiro David Miranda foi retido por mais de nove horas em Londres, voltando ao Brasil após encontrar Snowden, ele prometeu mais informações bombásticas.
Uma dessas histórias foi parar no Fantástico. Os EUA espionam Dilma. Uma longa reportagem, em que Greenwald foi um dos autores, mostra que ligações de Dilma foram interceptadas por programas americanos.
Greenwald é ex-advogado. Um idealista. Tem posições liberais claras. É corajoso e costuma estar do lado certo das grandes questões (e das pequenas também).
Por seu ativismo, costuma ser hostilizado por jornalistas da mídia tradicional, que se referem a ele, eventualmente, como “blogueiro” (você precisa ser um idiota rematado para achar que “blogueiro” é ofensa, mas isso é conversa para outra hora).
Greenwald não costuma pegar leve com essa turma. Já disse que o futuro do jornalismo está na Internet e que a televisão não é tão forte quanto antes. “É verdade que o Guardian, de maneira geral, e eu, em particular, somos outsiders, não membros da grande mídia estabelecida. Parte dessa hostilidade é amargura pessoal. Mas parte disso é o que eu tenho criticado neles: eles são muito mais servis do poder político do que vigilantes dele, e o que provoca raiva não é a corrupção daqueles que estão no poder (eles não ligam para isso), mas daqueles que expõem essa corrupção, especialmente quando aqueles que trazem transparência vêm de fora de seus círculos incestuosos. Eles são apenas cortejadores fazendo o que sempre fizeram. É assim que mantêm seu status.”
Seja quem for que tenha feito o contato com Greenwald para usar seu material na Globo, marcou um gol. Agora, é de se perguntar: Greenwald sabe no que se meteu? Assiste ao ‘Fantástico’? Já viu o quadro “Medida Certa”? Provavelmente, sim. Desde 2000, ele passa pelo menos oito meses do ano no Rio de Janeiro. Fala português. Ele e David Mirand têm uma vida aqui.
Suas novas revelações sobre a NSA e Dilma foram ao ar num programa que mistura dieta de subcelebridades, pegadinhas travestidas de utilidade pública, crianças com câncer e um humorista que perdeu a graça. Se Glenn Greenwald está sendo sincero ao criticar a mídia tradicional, seu servilismo ao poder, a maneira como as notícias são manipuladas — e não há por que duvidar de sua sinceridade –, causa alguma estranheza vê-lo numa organização e num programa que simbolizam tudo isso. Ou então esse alto padrão ético vale apenas para o mundo civilizado, e não para essa adorável bagunça selvagem que é o Brasil, olerê-olará.

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