domingo, 15 de setembro de 2013

Condor: operação militar que mata, tortura e sequestra pessoas                  


Gerson Trajano                                                  

       
Em ‘Condor’, documentário de Roberto Mader (2007), sobre uma operação conjunta dos governos militares dos países do Cone Sul nos anos 1970: Brasil, Argentina, Chile, Bolívia, Paraguai e Uruguai, com o apoio dos Estados Unidos, a fim de neutralizar e reprimir qualquer ação que se opunha aos regimes e que vitimou mais de 30 mil pessoas, segundo dados das comissões de Direitos Humanos na América Latina, Jarbas Passarinho pede para que esqueçamos os mortos durante o período militar e que o Brasil vire logo essa página da história.

Passarinho, ex-coronel do exército brasileiro, foi ministro de três governos militares durante a ditadura (1964-1985), senador da República e ainda comandou a pasta da Justiça na gestão Fernando Collor (1990-1992). Em outro depoimento no filme, ele admite que houve um golpe de Estado no Brasil em 1964. “Nos tivemos que almoçá-los antes que eles nos jantassem”, diz, como justificativa para a conduta dos militares. 


                              
                              Jarbas Passarinho, badalado 'intelectual' do golpe de 1964


O coronel também admite a existência da operação Condor, afirmando que ela foi muito mais do que apenas uma troca de informações. Durante duas décadas negou-se a existência dessa operação, sendo tratada como um exagero paranóico, um revanchismo por parte das vítimas e de seus familiares oprimidos pelos governos militares.

A operação foi instituída em novembro de 1975 no Chile, onde os militares dos seis países assinaram um documento que estabelecia uma aliança na troca de informações sobre os ativistas de esquerda, práticas contra alvos suspeitos e ações em países estrangeiros. Curiosamente, o Brasil participou da aliança mas não assinou o acordo.

A operação tinha como função principal combater o terrorismo internacional, que era representado pelos comunistas. Mas a ação não distinguia os meros opositores políticos e ideológicos dos que pegaram em armas para derrubar as ditaduras, mas sendo da mesma maneira, presos, sequestrados, torturados e assassinados brutalmente.

O filme de Mader não fala das estatísticas de mortos e desaparecidos, ou entrevista especialistas sobre o assunto. O diretor preferiu apresentar histórias humanas de pessoas cuja vidas mudaram para sempre em decorrência do acordo firmado em 75. Como é o caso da uruguaia Sara Mendez, que foi seqüestrada com seu filho Simón, que tinha poucas semana de vida. Depois de torturada e solta, ela começou uma incansável procura pelo filho e só o reencontrou 25 anos depois. Simón havia sido criado por um pai policial.

A também uruguaia Victoria Larraberti, teve seus pais presos e torturados. A família fugiu para a Argentina, quando Victoria tinha um ano e meio de idade e seu irmão, Anatole, quatro anos de vida. Os pais foram capturados e assassinados na frente dos filhos. Victoria e seu irmão foram levados de volta ao Uruguai e mantidos em centros de detenção até que finalmente foram levados para um terceiro país, o Chile de Pinochet. Lá, foram adotados e mesmo depois de encontrados pela família biológica continuaram vivendo no Chile. 

O documentário descreve com detalhes a operação, mostrando as evidências dos assassinatos políticos de Orlando Letelier, em Washington (Estados Unidos), e de Carlos Prats, em Buenos Aires (Argentina), ambas figuras de destaque no governo Salvador Allende, presidente deposto por Augusto Pinochet em 1973. Mostra também a dimensão da operação, que, em determinados momentos, chegou a eliminar simultaneamente mais de uma centena de opositores do regime militar chileno.

Patrício Polanco, dirigente do MIR – Movimento de Esquerda Revolucionário –, que defendia a luta armada, mesmo enquanto ocupava um posto no governo Allende, fala de como resistiu às humilhações e às degradações num campo de concentração criado pelo governo Pinochet exclusivamente para torturar e matar seus opositores. O filme revela as únicas imagens feitas num campo de concentração chileno dessa época.

A operação fechou o cerco sobre toda a esquerda latino-americana. Quando do golpe em 1964 no Brasil, muitos esquerdista fugiram para o Chile, mas com a queda de Allende e a Condor em execução, Pinochet passou a perseguir os brasileiros em seu país e a informar o governo brasileiro.

A opção de muitos foi se refugiar na Argentina. Mas a partir de 1976, com o governo do general Jorge Videla, já não era tão seguro viver no país, que com os militares no poder viveu uma das ditaduras mais sangrentas na região.


                                         

O documentário traz ainda uma entrevista com John Dinges, escritor e jornalista, autor do livro Os anos Condor. Ele conta como foi a participação do general Manoel Contreras, braço direito de Pinochet e comandante da polícia secreta do Chile durante a pior fase de terror do estado chileno. 

Contreras foi um dos idealizadores da operação Condor e de 1973 a 1978 comandou a Dina – Direção Nacional de Inteligência – apontada como responsável pelo assassinato e desaparecimento de 3. 200 pessoas. No filme, ele diz que nos quartéis da Dina nunca se torturou ninguém. Segundo ele, isso não passava de propaganda comunista. 

Atualmente Contrares está em prisão militar, onde cumpre 400 anos de pena por desaparecimentos, execuções e torturas de pessoas quando comandava a polícia política de Pinochet.


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