sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Exigir o Revalida para profissionais do exterior contratados pelo Mais Médicos é uma falácia     


Tarcísio Lemos (*)                        Luis Nassif Online                                    

A necessidade de os médicos estrangeiros se submeterem ao exame Revalida é uma falácia. Eles não vêm disputar vagas com os colegas brasileiros. Estão indo para lugares menosprezados por eles.    Se fizerem o dito exame, terão também o direito de  trabalhar
em qualquer lugar do Brasil, o que contribuirá, naturalmente, para abarrotar ainda mais os grandes centros, principalmente do Sul-Maravilha, e deixar os desassistidos como estão.

Agora vêm dizer que estão preocupados com a competência dos formdos no exterior. Sabem muito bem que são melhores do que a maioria dos que(apenas) buscam no SUS mais um emprego, AO invés da melhoria dos serviços prestados à população. A ideia principal é se o povo tem ou não o direito à assistência médica. Quando vislumbram a possibilidade desta conquista, “os médicos” vêm com o discurso de que é preciso aparelhar os hospitais e postos para atrair os profissionais de saúde e prestar um atendimento digno aos pacientes, submeter os candidatos a exames de competência etc.

Atribuir ao governo dos últimos 10 anos os problemas centenários de saúde é, no mínimo, desinformação ou má-fé. O Brasil tem um dos melhores programas de vacinação do mundo. O programa de assistência materna melhorou e muito, nos últimos anos. Houve redução de 17% da mortalidade infantil nos últimos 10 anos; a perspectiva de vida do brasileiro ultrapassou os 70 anos; trinta milhões de pessoas não passam mais fome! O salário mínimo sobe, ano a ano, acima da inflação e foram criados 20 milhões de novos empregos. Estes e outros mostram importantes mudanças para melhor na saúde do brasileiro. O SUS tem expandido o seu leque de atendimento e melhorará ainda mais com o programa Mais Médicos.

Eu me pergunto por que as entidades de classe não se manifestam em defesa dos pacientes. Fui da diretoria do Sindicado dos Médicos de Minas Gerais, quando os médicos dos postos do então INSS tinham que atender 28 consultas em 4 horas de trabalho. Desumano para os médicos e péssimo para os pacientes, diziam. O estranho é que não dava para atender BEM 28 pacientes em 4 horas, mas eles eram DESPACHADOS em 2 horas! Na luta que se travou, foram atendidas duas reivindicações: melhoria salarial e redução de 28 para 8 consultas, visando a um melhor atendimento. A primeira foi embolsada e a segunda o gato comeu, pois os pacientes passaram a ser despachados em 1 hora. Alugaram umas salas ao lado do posto, onde atendiam os outros 20 pacientes, RECEBENDO OUTRO SALÁRIO! Era o famigerado CONASP. O ex-presidente do sindicato dos médicos, Célio de Castro, apresentou no Congresso a proposta de fim do CONASP. Por conta disso, perdeu as eleições do CRM/MG, tidas como favas contadas. Compreendi que se a diretoria abandonasse o corporativismo não ganharia nenhuma eleição. Terminado o tempo do mandato, deixei o sindicato, pois não queria me sacrificar mais por quem não merecia a minha dedicação e o menor respeito.

Estranho o silêncio das entidades de classe diante da vinda dos médicos cubanos, durante o governo FHC-Serra. A retirada de mais de 40 bilhões, com o fim da CPMF, não causou a menor indignação por parte dos médicos e das entidades de classe, assim como os milhões gastos em obras hospitalares superfaturadas, o desvio do dinheiro da saúde por governos estaduais, dentre outros.

Por último, quem está jogando a população contra os médicos são as próprias instituições médicas que insistem em retirar o mínimo de ajuda que o governo lhes está oferecendo. Temos que começar o trabalho com o que temos no momento. Mais de 90% da atenção à saúde podem ser resolvidos apenas com os serviços básicos, sem tirar clientes de nenhum médico dos grandes centros. Muito ao contrário, parte destes pacientes, até então desassistidos, necessitará ser encaminhada para centros regionais e grandes centros, o que aumentará a clientela dos especialistas.

Acho mais grave  alegaram que necessitamos, primeiro, de aparelhar os postos e hospitais, para depois atrair os médicos. Propõem a inércia para nada mudar. É pura demagogia de quem não liga a mínima para os pobres. Temos que começar, de alguma forma, a mudar as coisas. E é isso o que o governo está fazendo.

(*) Tarcísio Lemos é médico, mestre e doutor pela Sorbonne, doutor pela UFMG, de cuja Faculdade de Medicina é professor há mais de 30 anos.

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