Como a imagem positiva do Brasil no exterior traz vantagens concretas para os brasileiros
Exemplo: menos brasileiros são barrados em outros países
Hugo Gusmão, de Granada/Espanha (*) DIÁRIO DO CENTRO DO MUNDO
“Ah, então você é brasileiro?”, pergunta o funcionário do setor de regularização de estrangeiros, em Granada, enquanto folheava a documentação que eu acabara de entregar. “O Brasil está muito bem, não é? Forte, vigoroso. Tem tudo que a Espanha não tem. Emprego, dinheiro, não é verdade?”
Já me acostumei com esse tipo de comentário desde a minha chegada a Granada, em outubro passado. Em conversas com comerciantes, advogados, feirantes ou professores universitários, somos vistos como um titã geopolítico, uma terra de oportunidades e riqueza em abundância. E duas coisas comprovariam isso: a Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016.
Ambos os eventos acompanham as referências ao Brasil e dão sustentação à ideia de que sua realização será precedida de profundas mudanças sociais e da criação de uma infraestrutura capaz de exteriorizar todo o nosso potencial. E assim o país vai passando, no imaginário popular, de uma terra selvagem onde ninguém trabalha e as mulheres estão sempre fazendo “topless”, para a de um gigante, rico e promissor.
Sem dúvida, para o bem ou para mal, trata-se de uma veiculação constantemente positiva. A Copa e as Olimpíadas são eventos escapistas capazes de vincular otimismo à marca Brasil. Não é à toa que um dos únicos elementos que não oscilam no engrandecimento da marca Espanha é justamente o ciclo vitorioso da seleção espanhola, de Casillas, Iniesta e cia.
Por outro lado, embora a força midiática dos dois acontecimentos esportivos seja indiscutível, parece um exagero atribuir a capacidade de mudar uma percepção arraigada na opinião pública espanhola unicamente aos eventos esportivos que sediaremos. Vários outros aspectos contribuem para o reforço de uma impressão relativa tanto à prosperidade brasileira quanto à carestia ibérica.
De modo geral, a imagem que um país projeta no cenário internacional pode parecer uma questão secundária, mas não é. Na Espanha, por exemplo, agências governamentais trabalham especificamente com a aferição cotidiana da forma como os principais jornais e revistas do mundo inteiro retratam o país. Afinal de contas, para um Estado em crise, onde o turismo massivo é imprescindível para manter a economia viva e aquecida, o modo como os outros o vêem torna-se uma questão estratégica.
O ciclo econômico da crise também contribuiu de maneira determinante para distanciar a impressão que Brasil e Espanha projetam no mundo. Enquanto a nação verde-amarela se viu revigorada ao transmitir a ideia de invulnerabilidade aos reveses econômicos e a de repositório de reservas energéticas de causar inveja a qualquer império, a terra das touradas foi atingida duramente pela recessão, sendo vista continuamente como um peso morto na União Europeia.
O tratamento que a imprensa internacional dispensa a ambos os países é também determinante para a formação de uma impressão negativa ou positiva. Enquanto o Brasil é visto como o “B” da sigla “BRIC” que inclui também Rússia, Índia e China, nações gigantescas e com potencial econômico impactante no cenário mundial, a Espanha figura pejorativamente como o “S” (Spain) da sigla PIGS (porcos em inglês), que designa os países do sul da Europa metidos no atoleiro econômico, composta também por Portugal, Itália e Grécia.
No mundo real, a imagem de um país afeta aspectos bem concretos em cada sociedade. Um desses pontos, através do qual se pode medir a saúde que essa aparência transmite, tem a ver com a constância dos fluxos migratórios.
Dados divulgados pelo Ministério das Relações Exteriores dão conta de uma redução de 67% no número de brasileiros barrados no exterior em 2012. Por outro lado, a imigração legal sofreu uma redução de 50%, entre 2006 e 2009, segundo a OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico).
Na Espanha este fenômeno do movimento de retorno ocorreu no início da década de 70 e seguiu uma linha ascendente que coincidiu com a imigração, reforçada pela ideia de prosperidade que o país lançava no exterior. Esta tendência durou até a eclosão da crise. Atualmente, no entanto, eles experimentam a pior das emigrações: a de cérebros. Um fluxo alimentado pelas oportunidades de trabalho e pela aparência de pujança econômica, de esperança e dinamismo que países da América Latina e alguns dos seus sócios europeus projetam.
Quem nasce no Brasil ou na Espanha conhece suas peculiaridades, e de modo geral todos sabem que as aparências enganam. Porém, a expressão global que uma nação pretende ter passa pela projeção de uma imagem compatível com esta ambição.
Se o Brasil quiser ser relevante no aspecto geopolítico, essa é uma onda que ele não pode deixar de surfar. Afinal, como dizia Vinícius de Moraes, “as muito feias que me perdoem, mas beleza é fundamental.”
Do AMgóes - Em outubro/novembro de 2012, quando de estada em Paris, Zurique, Londres, Dublin, Amsterdã e Frankfurt, constatei, nas contatos fugazes com taxistas, vendedores, garçons e funcionários de hotéis, a lisonjeira receptividade aos brasileiros por conta da nova realidade socioeconômica de nosso país, além de frequentes alusões ao ex-presidente Lula, detalhe que, sem dúvida, provoca graves trantornos comportamentais em nosso recalcitrante(e cada vez minoritário) magote do 'contra'.
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