Segundo a pesquisa Ibope/Estadão, Dilma Rousseff abriu 22 pontos sobre Marina Silva (a segunda colocada) e venceria, no primeiro turno, as próximas eleições.
Em 1o de julho passado, no auge do desgaste de Dilma (e dos políticos em geral) com as passeatas, previ esse movimento no post “Os desafios de Dilma nos novos tempos da Política” (clique aqui).
Dois fenômenos explicam sua recuperação.
O “overshooting”
Essa expressão refere-se a movimentos agudos de opinião pública, para baixo ou para cima. Vale para o mercado de opiniões em geral, seja o mercado de capitais, na análise de políticos ou personalidades públicas em geral.
Para esse mercado, nenhum governante ou ativo ou empresa é bom ou ruim. Ele é caro ou barato.
Quando há um longo período de celebração da pessoa, ela se torna “cara”. Isto é, a opinião pública começa a se dar conta de que ela não era tudo aquilo e começa a reparar nos defeitos. Ou seja, o fator novo são os defeitos, não as qualidades – que foram supervalorizadas no período anterior.
A avaliação começa pelos círculos formadores de opinião e vai se espraiando pelo público em geral. Até que ocorre um fenômeno qualquer – na Bolsa, uma queda brusca nas cotações; na política, alguma crise – e observa-se o fenômeno do “overshooting”. Há uma radicalização da avaliação negativa, um abandono de todas as avaliações positivas, que joga a imagem no fundo do poço.
O desafio é saber até onde irá a queda. Se for longe demais, a pessoa (ou ação) vira pó. Se a queda for até pisos suportáveis, diz-se que bateu na “linha de resistência”, o piso da queda.
Como o movimento foi radical, gradativamente o mercado começa a se dar conta de que o ativo ficou “barato”. E aí se dá a reavaliação.
Em sentido inverso, gradativamente o mercado passa a identificar pontos positivos – que ficaram esquecidos na fase anterior. E o “preço” – cotação de ativos ou melhoria de popularidade nos políticos – começa a se recuperar. Na maioria dos casos, não volta aos picos anteriores, mas, pelo menos, ficará em níveis confortáveis.
A “segunda chance”
Trata-se de outro fenômeno social – pouco analisado pelos cientistas. O ídolo caído traz um sentimento de nostalgia, mesmo que tenha cometido erros graves – como foi o caso de Paulo Maluf e outros. E a opinião pública confere a segunda chance.
Tem que se saber aproveitar a chance.
Em artigo no dia 22 de julho – “A bola ainda está com Dilma” (clique aqui) procurei explicar porque Dilma já tinha começado a dar a volta.
Duas pesquisas seguidas mostraram que Dilma parara de cair e os níveis de popularidade ficaram em pisos confortáveis.
Alguns comentaristas falaram em “estagnação” – pelo fato de não ter caído nem subido por duas pesquisas seguidas. Não se deram conta de que a análise relevante era outra: ela não virou “pó” e estacionou em níveis que facilitariam a recuperação.
Não existe terceira chance. Daí a importância de não se permitir o acúmulo de problemas e o distanciamento da opinião pública, que precedeu a primeira queda.
A oposição
Contou, e muito, para essa recuperação, a ausência quase total de propostas por parte da oposição.
Do lado do PSDB, a velha mídia demorou para aceitar seu novo campeão, Aécio Neves. O espectro Serra continuou puxando o partido para baixo. E o PSDB ainda não conseguiu se libertar de seu estilo cansativo – negativista, um garimpeiro que, em cada ato de governo, procura o cascalho, em vez de apontar a pepita.
O estilo “urubulino” de Serra é tão forte que, na campanha de 2010, um dos pontos era a velhice sadia. Em vez de mostrar idosos de bem com a vida, a campanha mostrava idosos doentes, presos às cadeiras de rodas, às macas de hospitais.
Ou Aécio dá uma cara jovem ao PSDB, ou vai para o asilo com Serra. Para isso, precisa articular um discurso alternativo eficiente, algo que não conseguiu.
Eduardo Campos apostou muito na desorganização total da economia. De fato, em junho havia uma soma assustadora de visões do caos: queda da economia China arrastando as commodities; fim dos fluxos financeiros para o país; ameaça de rombo não financiável nas contas externas; povo na rua, querendo mudar tudo. O caos não veio, e Campos terá que refazer sua visão de futuro.
Marina Silva não conseguiu seu partido. E há uma percepção crescente de que, no embate direto da campanha político, enfrentará muitas dificuldades em se apresentar como o novo junto ao público jovem – que poderia ser a base mais animada de seu eleitorado.
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