Ex-deputado petista Luiz Gushiken morre aos 63 anos vítima de câncer
- Ele passou os últimos dias de vida no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, se despedindo dos amigos mais íntimos
SÃO PAULO - O ex-deputado e ex-ministro de Comunicações de Lula, de 2003 a 2006, Luiz Gushiken, um dos fundadores do PT, morreu às 19h20m desta sexta-feira, aos 63 anos, de insuficiência de múltiplos órgãos provocado por sangramento e obstrução intestinal. O petista lutava contra um câncer de intestino há 12 anos. Ele passou os últimos dias de vida no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, se despedindo dos amigos mais íntimos. Foram ao hospital o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente nacional do PT, Rui Falcão, além de centenas de amigos, parlamentares, dirigentes petistas e da CUT.
- Como ele ficou lúcido o tempo todo, apesar da morfina que tomava, recebeu homenagens em vida - disse Paulo Fratesch, secretário de Comunicações do PT.
A romaria dos petistas ao seu quarto de hospital teve uma justificativa: todos consideravam Gushiken um dos maiores "quadros" do partido. Ele se aproximou de Lula quando militava no Sindicato dos Bancários no início da década de 80. Quando Lula estava preso por causa da sua participação na greve dos metalúrgicos do ABC, em 1980, Gushiken fez um ato para arrecadar fundos para ajudar Lula a sair da cadeia no Doi-Codi. Organizou um grande jogo de xadrez no centro da cidade com a presença do enxadrista Herbert de Carvalho, e por "afrontar" a ditadura com esse ato, também foi preso no Doi-Codi. Gushiken foi preso quatro vezes na ditadura militar (de 1964 a 1985).
Lula o tratava por "China", por causa de sua descendência nipônica e do bigodinho e barbicha parecidas como as usadas pelos chineses na época de Mao-Tse Tung, um dos líderes comunistas que ele admirava, além de Leon Trotsky, a quem venerava e era seguidor de suas teses. Por ser trotskista, Gushiken acabou militando na tendência esquerdista Liberdade e Luta (conhecida por Libelu). A Libelu era o braço do movimento estudantil na Organização Socialista Internacionalista (OSI), que funcionou durante o final da década de 60 e início da década de 70, desafiando o regime militar.
- Gushiken era generoso, leal e dedicado militante petista. Coordenou as campanhas de Lula de 89 e 98 e só não coordenou as demais por conta da doença (câncer). Era perspicaz, corajoso e sempre surpreendia a todos com suas criações. Era o "cara" de Lula. Era o único que dizia o que bem entendesse a Lula, que ouvia tudo com muito respeito. Lula sempre teve a maior confiança nele - disse José Américo, presidente da Câmara de Vereadores de São Paulo e um dos maiores amigos.
Abnegado militante do PT, Gushiken foi uma das quarenta pessoas acusadas pela Procuradoria-Geral da República no processo do mensalão, mas em 2012 foi retirado da denúncia, por falta de provas. Em função das seguidas doenças, Gushiken deixou o governo definitivamente em 2006. De lá para cá, vem se tratando do câncer.
Nascido em 8 de agosto de 1950, na pequena cidade de Osvaldo Cruz, interior de São Paulo, Gushiken era filho do casal de japoneses Shoel e Setsu Gushiken, que vieram para o Brasil no século passado, em busca de melhores dias. Gushiken saiu cedo de casa para ser militante político na capital paulista.
Depois de ter ajudado a fundar o PT em 1980, o ex-funcionário do Banespa desde 1970 e formado em Administração na Fundação Getúlio Vargas, presidiu o Sindicato dos Bancários de São Paulo de 1985 a 1987. Gushiken saiu do sindicato direto para a Câmara dos Deputados, se elegendo pela primeira vez em 1986.
Foi deputado federal por três vezes, mas destaque mesmo obteve quando se tornou um dos 16 deputados Constituintes do PT em 1988. Na comissão do Sistema Financeiro, do Sistema Tributário e da Subcomissão dos Direitos dos Trabalhadores, Gushiken teve papel importante na formulação das principais legislações em vigor atualmente. Presidiu o PT nacional de 1988 a 1990.
O câncer o perseguiu por várias vezes. No final da década de 90, derrotou um câncer nos testículos. Nos últimos anos vinha lutando contra um câncer no intestino. Chegou a ter um quadro de septicemia, teve dois choque anafiláticos e ficou internado por meses numa UTI nos últimos tempos.
- Na campanha vitoriosa de Lula em 2002, ele fez uma operação enorme para a retirada de um câncer, mas mesmo abatido quis participar da organização da campanha. Precisamos alugar um flat perto do comitê de campanha para fazermos lá comidas especiais que o Gushiken necessitava. Ele sempre foi um lutador. Resistiu ao câncer por várias vezes. Desta vez, já pediu para os aparelhos serem desligados e passou os últimos dias apenas tomando doses de morfina para não sentir dor - disse o amigo Paulo Okamotto, diretor do Instituto Lula.
A doença o fez ficar místico. Foi budista, passou pela Rosa-Cruz, umbanda, cabala e pelo zen-budismo. Gushiken deixa a mulher Elizabeth e três filhos. O corpo será velado no tempo Fé Bahá'´í, e o enterro acontecerá no cemitério do Redentor, em São Paulo.
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